Foi uma ação isolada, mas que teve como motivação algo rotineiro para muita gente em Venâncio Aires. Dessa vez, a falta de energia elétrica revoltou a família Stertz, moradora do bairro Grão Pará.
Sem luz desde o fim da tarde de segunda-feira, 11, e precisando manter mais de 1.200 suínos em dois chiqueiros, eles decidiram protestar. A forma encontrada foi bloquear a VRS-816, rodovia que liga o Grão Pará ao trevo de Vila Palanque.
Entre 8h30min e 10h desta quinta-feira, 14, dois tratores foram ‘estacionados’ sobre a via e a passagem de veículos foi liberada de forma intercalada, a cada meia hora. O protesto só terminou com a chegada do Departamento Municipal de Trânsito, que pediu à família para liberar a via. Ao mesmo tempo, funcionários da RGE apareceram. Em questão de meia hora, a luz foi restabelecida.
Mas esses poucos minutos procederam uma espera bem maior. Segundo Sílvio Stertz, 35 anos, ainda na terça pela manhã, 12, foram feitas contatos com o 0800 da RGE e pelo aplicativo. Na quarta, 13, ele decidiu ir até o escritório local da distribuidora. “Mas ninguém apareceu. O que jeito foi chamar atenção de outra forma e resolvemos trancar a estrada. Não queríamos atrapalhar os usuários, o pessoal que passava apoiou. Foi o jeito e ainda vou fazer um BO”, destacou Stertz.
PREJUÍZO
A ventania do início da semana ocasionou a queda de duas chaves que alimentam o transformador junto a um poste em frente à propriedade dos Stertz. Esse transformador leva a energia elétrica a dois chiqueiros, onde estão confinados 1.240 suínos na fase de terminação. Com a falta de luz, o sistema automatizado para alimentação foi interrompido.
Assim, conforme Sílvio Stertz, na terça e na quarta a saída foi levar a ração e a água ‘no braço’. De maneira improvisada, um distribuidor de esterco foi usado para puxar água do arroio São João, o que amenizou a situação. “Sorte que não estava tão quente, porque sem os ventiladores o problema seria outro”, afirma Erne Stertz, pai de Sílvio. Mesmo assim, dois porcos morreram.
Quedas de energia são constantes
A propriedade onde os Stertz construíram o condomínio de suínos fica em uma região que concentra empresas e que também demandam grande carga de energia elétrica. O trecho conta com atacado de bebidas, fábricas de sorvetes e de móveis, e oficinas.
“Novos empreendimentos, importantes para a economia, mas que para trabalhar têm a mesma rede trifásica e só um transformador, do tempo que não tinha essa carga toda”, destaca Gustavo Stölben, proprietário de uma fábrica de sorvetes à margem da VRS-816.
Segundo ele, que tem uma conta de luz que chega a R$ 10 mil por mês, os problemas de quedas de energia são constantes e nem é preciso temporal ou ventania. “Para ligar a máquina pasteurizadora, tenho que desligar todo o resto.” Isso inclui condicionadores de ar, lâmpadas e os freezers, onde os sorvetes e picolés são armazenados.
Stölben conta que, em novembro, 36 horas sem luz resultaram em prejuízo de R$ 5 mil em produtos. “Se para nós que estamos em zona urbana, a minutinhos do centro, é difícil, imagina o pessoal de Marmeleiro. Aquilo é um descaso total, beira o primitivismo”, dispara, lembrando os problemas recentes na região serrana de Venâncio, onde moradores ficaram quatro dias sem luz.
REDE NORMAL?
Nélcio José Heisler, proprietário de uma distribuidora de bebidas no Grão Pará, também relatou as quedas frequentes de luz. “O medidor da RGE constatou normalidade na rede. Mas então como tem tanto problema? Todo dia de tarde, questão de segundos ou minutos, correndo risco de queimar equipamentos.” O empresário mantém 16 freezers e geladeiras ligados constantemente, além da câmara fria de um caminhão aos fins de semana.
Pensando em alternativas, Heisler revelou o desejo de instalar placas solares, projeto orçado em cerca de R$ 70 mil. “Se continuar assim, vamos ter que fazer isso.”
O QUE A RGE JÁ DISSE
A reportagem contatou a RGE via assessoria de imprensa, mas não teve retorno durante a tarde desta quinta, 14. No último dia 8, a Folha do Mate repercutiu o anúncio da concessionária sobre investimentos de R$ 5 milhões no interior para 2019.
O anúncio ocorreu após recentes protestos em Linha Marmeleiro, onde moradores chegaram a ficar quatro dias sem luz após temporais. O argumento pela demora no restabelecimento da energia foi pelas quedas de árvores na rede, ruptura de cabos e postes, e queima de transformadores.
Com isso, a RGE informou que precisa, às vezes, priorizar alguns atendimentos e que há casos isolados que nem toma conhecimento e por isso a interrupção acaba se prolongando. Com 20 equipes que realizam diariamente o trabalho em Venâncio Aires, a concessionária relatou que, em situações de contingência, profissionais de toda a região são acionados, conforme a demanda.