Simpática e com sorriso largo, Suely Ferreira Lopes tem 79 anos. Ela e o marido José Alaor Lopes, 85, foram os loteadores das terras que formam, hoje, o bairro Coronel Brito.Sempre foi do lar e cuidou de sete filhos, dos quais cinco tem a peculiaridade de ter Sebastião no nome. Clóvis Sebastião, Cláudio Sebastião, Claumir Sebastião, Clécio Sebastião e Carlos Sebastião. Maria Cristina e Cristiano não entraram na lista das denominações do padroeiro de Venâncio Aires. Dona Suely explica o mesmo segundo nome dos filhos: quando o primeiro filho nasceu, o cônego Albino Juchem, no hospital, teria dito a ela ‘Nasceu um bastiãozinho’ e isso a marcou fazendo com que colocasse o nome Sebastião no filho Clóvis. “Quando meu marido ia fazer o registro acabava fazendo confusão e colocou como segundo nome dos guris, Sebastião, e assim ficou”, conta dona Suely que demonstra felicidade e muito carinho cada vez que fala dos filhos. Um deles, Clécio, faleceu há 18 anos.

Foi na época do êxodo rural e, a maioria, vinha para a nossa região”.

Foto: Jaqueline Caríssimi / Folha do MateDona Suely tem a médica Zilda Arns Neumann, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, como inspiração de vida
Dona Suely tem a médica Zilda Arns Neumann, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, como inspiração de vida

Dona Suely é avó de 16 netos e bisavó de oito. Católica e devota de São Sebastião Mártir, ela tem orgulho de contar sobre a história de popularização do bairro Coronel Brito. Os pais de dona Suely moraram em Linha Coronel Brito, alguns poucos quilômetros do lugar onde ela mora atualmente, em parte do terreno adquirido em 1963. Ela recorda que 11 famílias residiam no local, na época. Sem energia elétrica, foi acordado com a CEEE o pagamento particular de instalação, e a distribuidora, mais tarde, ressarciu o dinheiro às famílias. A água era de poço.“Quando o primeiro lote saiu, só tinha uma rua. Ao lado dava divisa com a Sesmaria dos Fagundes, daí surgiu o nosso loteamento Alaor”, recorda. Muitas pessoas que compravam os lotes no bairro vieram do interior do município. “Foi na época do êxodo rural e, a maioria, vinha para a nossa região”, conta a dona Suely que também formou o lote denominado de Dona Carolina.Com o loteamento, nasceu também a comunidade Nossa Senhora Rainha. O antigo salão de baile ‘Sulino’, na entrada do bairro também era de propriedade da família Lopes, assim como uma serraria de lenha.

Foto: Jaqueline Caríssimi / Folha do MateCasal Lopes foi quem começou os loteamentos que originaram o bairro Coronel Brito
Casal Lopes foi quem começou os loteamentos que originaram o bairro Coronel Brito

 PASTORAL DA CRIANÇA

Com as atividades encerradas no ano de 2005, a Pastoral da Criança, no bairro Coronel Brito, tinha como voluntária a dona Suely Lopes e mais 18 senhoras da comunidade. Ela conta, que com apoio das irmãs da Divina Providência, tinham o objetivo de visitar as famílias e de buscar combater a fome e a miséria. “Tinha muita criança desnutrida”, recorda.As senhoras que atuavam como voluntárias cuidavam do desenvolvimento das crianças por meio da pesagem e medida, da distribuição da denominada ‘multimistura’ e soro caseiro, da arrecadação e encaminhamento de alimentos às famílias. “Era tão bonito, a gente se envolvia com as famílias”.

Dona Suely recorda que as ações eram muitas, mas algumas marcaram. Uma delas foi em um evento de Natal. “Havia muita gente naquele Natal. A gente tinha feito pacotes para distribuir às crianças, mas nem contamos. Quando começamos a distribuição, era gente na fila que não acaba mais. Os pacotes não iriam chegar para todos. Eu disse para quem auxiliava quer era para continuar distribuindo até acabar e comecei a rezar. Pois, acredita que quando a última criança da fila chegou na mesa era também o último pacote. Isso foi um milagre, pois não ia chegar, mas não sei como deu certo (risos)”. Outra ação que chama atenção, das lembranças de dona Suely é de uma comemoração a base de bergamotas. A Pastoral da Criança reunia os grupos nas comunidades e, na Vila Rica, organizou uma comemoração, mas não recorda para qual a data, somente lembra e tem registros fotográficos de que a acolhida das crianças era uma cesta de bergamotas. “Eu não esqueço da alegria destas crianças com a cesta de bergamota. Não era chocolate ou outra coisa e todos estavam felizes. Era uma cesta de bergamotas”, repete dona Suely com olhar de quem lembra muito bem de cada detalhe das histórias, assim como a reunião na Vila Sete (hoje bairro Battisti). “A gente arrecadava e distribuía alimentos para as famílias, mas naquela vez não tínhamos, então, cada família recebeu um pacote de açúcar e assim a gente se virava, mas tudo era feito com dedicação, pois a gente sabia que precisava recuperar estas crianças, que as famílias não tinham o que comer”, recorda ao mostrar fotos de crianças subnutridas e que foram recuperadas por meio da ação da Pastoral da Criança.

Foto: Jaqueline Caríssimi / Folha do MateO dia da comemoração com bergamotas, na Vila Rica

O dia da comemoração com bergamotas, na Vila Rica

 

 

 

Foto: Jaqueline Caríssimi / Folha do MateNas comunidades, na Vila Sete (hoje Battisti) a Pastoral da Criança  realizava ações de combate a fome
Nas comunidades, na Vila Sete (hoje Battisti) a Pastoral da Criança realizava ações de combate a fome