O mundo nos impõe que, aos 17 ou 18 anos, tomamos as decisões para toda a vida. Decidir o curso superior para alcançar a almejada profissão, se inserir no mercado de trabalho e conquistar sucesso em nossa escolha. Porém, a pressão por essa decisão e obrigação de sucesso afeta psicologicamente jovens em todo o mundo. E quando a escolha da sua versão de 17 anos não for aquela que a sua de 20 anos ainda opta? Mudar a formação é uma das decisões mais complicadas da vida adulta.
Para a maquiadora e costureira Fernanda Felten, de 23 anos, essa dúvida surgiu durante o curso de Psicologia. Venâncio-airense, ela passou na Pontificia Universidade Católica (PUC-RS), em Porto Alegre, se mudou com 17 anos e teve sua vida transformada. Na época, ficou em dúvida sobre Medicina ou Psicologia, optando pela segunda opção. “Nos testes vocacionais na escola, ela sempre aparecia”, frisa.
No entanto, ela acredita que mudar de cidade aos 17 anos foi um erro, perdendo a oportunidade de esperar alguns anos e tomar uma decisão mais concreta. Ela começou a se sentir mal no curso e não conseguia se encontrar na área. Depois de cinco semestres, em 2019, após um curso profissionalizante de maquiagem, percebeu que era isso que queria na vida.
Após tomar a decisão, Fernanda conversou com os pais, mas sem dar a possibilidade de não seguir com a mudança. “Vou trancar e é isso”, destacou a jovem. De acordo com ela, o pai, que teve dificuldade para entrar na faculdade, entendeu essa parte e, como ele havia trocado de cursos também, aceitou melhor. Já a mãe tinha uma ideia de que a faculdade que tem é a que deve fazer, até por que teve poucas opções quando era jovem. “Sempre deixei claro como alcançaria os objetivos e o diálogo com eles sempre foi aberto. Meu plano é evoluir como maquiadora e crescer dentro da maquiagem. Sempre tive isso bem claro, meu sonho não era o deles”, pontua.
Hoje em dia, a maquiadora diz confiar no próprio trabalho e entende que tem gerado resultados. Porém, no início, a jovem afirma que tinha medo de estar invadindo um espaço que não era seu. “Tinha vergonha até de criar um perfil no Instagram e mostrar minhas makes, pelas críticas, tinha vergonha de não ser capaz. Com o tempo, fui criando confiança, mas não gosto de gravar stories ainda, por exemplo”, destaca.
“Faria tudo de novo. Dentro da Psicologia aprendi muito sobre as pessoas e na maquiagem consigo me aproximar delas. Não é uma consulta, mas eu tenho uma relação forte com os clientes.”
FERNANDA FELTEN
Maquiadora
A vida após a escolha
Como maquiadora, o primeiro obstáculo de Fernanda chegou rapidamente: a pandemia de Covid-19. Ela aproveitou o período para fazer cursos, aprender e treinar – inclusive, com o namorado de ‘cobaia’. Inicialmente, fazia as maquiagens em seu quarto. Depois, criou um estúdio no escritório de casa. “Fiquei quase um ano atuando lá, depois comecei a trabalhar de freelancer. Até que surgiu a oportunidade em um salão da cidade e corri atrás para conseguir. Faço penteado, maquiagem, atendo, sirvo café, limpo o chão, mas não me importo, no momento que faço o que gosto, não tem problema.” Também fez um curso Técnico em Modelagem e abriu um Microempreendedor Individual (MEI), para regularizar o espaço e prestar serviços como freelancer também nesta área.