As primeiras conversas aconteceram de forma informal, num fim de semana de clássico entre Encantado e Guarani de Venâncio Aires, em meados de 1972. Cada um cobrindo o jogo pela rádio que trabalhava na época, Walter Kuhn (pela Encantado AM) e Astor Reckziegel (pela Rádio Venâncio Aires AM) trocaram, como se diz, algumas ‘figurinhas’.
“Eu aproveitei para sondar o Walter sobre a possibilidade de ele trabalhar em Venâncio”, lembra Reckziegel, então com 21 anos. Naquele dia, além de trazer as informações do Guarani para a transmissão esportiva da RVA, o repórter conversou com o colega de profissão e que, apesar de também ser muito jovem (tinha 23 anos), fazia absolutamente tudo nas transmissões da Encantado AM e já carregava experiência em algo ainda inexplorado em Venâncio: um jornal impresso.
Walter Kuhn trabalhava no Vale do Taquari desde 1968, onde foi contratado como vendedor do extinto O Alto Taquari, de Lajeado, e também colaborou na Rádio Independente AM.
“Passou um tempo e o Lauro Uhry [1935-1992] me mandou de novo a Encantado. Não tinha telefone e me deu o Fusca azul dele para convidar o Walter para conversar pessoalmente”, relata Astor. Feito o convite, Kuhn senta à frente do então proprietário da RVA em 6 de agosto de 1972 e imediatamente é contratado. Com a mesma rapidez, lança a provocação ao novo chefe. “Perguntei para ele: ‘vamos colocar um jornal, seu Lauro?’. Apesar de achar perigoso, ele também queria e aceitou”, conta Kuhn. Para o novo negócio, Lauro Uhry propôs uma sociedade com Walter Kuhn (vendedor e repórter), Astor Reckziegel (repórter) e com o professor Lindor Lauro Müller, então com 25 anos (revisor). Müller, assim como Reckziegel, já trabalhava na RVA desde a década de 1960. Foram os três jovens mais o experiente Uhry, que fundaram aquele que ficou conhecido como ‘o jornal de Venâncio Aires’.
Nas semanas seguintes, houve uma pesquisa na cidade sobre a viabilidade comercial, ou seja, se haveria interessados em patrocinar o novo veículo, o que teve grande aceitação. O passo seguinte, era definir o nome. Já nos anos 1970, o termo ‘Folha’ para se referenciar a jornais era algo bastante comum. Mas faltava um complemento. “Quem definiu foi o Sony Ignácio Rüdiger, que era contador da rádio. Como Venâncio ainda era conhecida como ‘capital do mate’ e não ‘capital do chimarrão’, ele sugeriu que tivesse ‘mate’ no nome. E assim ficou”, lembra Astor Reckziegel.
Imprevistos e fatos inusitados
O lançamento da Folha do Mate ocorreu no gabinete do então prefeito Alfredo Scherer, em 6 de outubro de 1972 (dois meses após a contratação de Walter Kuhn). “Nós tínhamos livre acesso no gabinete dele para buscar informações. E, além da prefeitura, o que mais tinha de informação nos primeiros tempos eram as policiais e esporte”, recorda Lindor Lauro Müller. Ele, que na rádio era o responsável pelo programa ‘Vespertino Casas Geller’, no jornal se tornou revisor. Outro sucesso de leitura, segundo Müller, era a página ‘Anotações’, onde Walter trazia notas sobre vários assuntos.
Meses após a fundação do jornal, é comprada uma impressora, máquina importante na produção da Folha, mas também lembrada por alguns fatos inusitados, como ocorrido com Lindor Müller. Como o jornal circulava nas sextas-feiras, a noite de quinta era longa, o que impactava na rotina do dia seguinte do professor, que lecionava na Escola Estadual Cônego Albino Juchem. “A gente virava a madrugada e de manhã cedo eu tinha aula. O sono era tanto que chegava a dormir sentado e os alunos me chamavam atenção”, revela, entre risos, o aposentado, que está com 75 anos.
Outra história relativa à impressora e que hoje rende boas risadas, na época foi um grande susto. Todos lidavam com o aparelho, mas, num descuido, o cabelo de Walter (que como muitos na década de 70 o mantinha mais longo) enrolou nos cilindros de tinta e só deu tempo de Astor correr para desligar a chave geral. “Como a impressão deixava umas pequenas manchinhas no papel, a gente brincou que eram os fios de cabelo na capa da Folha do Mate”, conta, entre risos, Astor Reckziegel.
‘Boom’ na cidade
A boa recepção do jornal foi comercial e também entre os leitores, tanto que rapidamente foram vendidas 600 assinaturas. “O ‘boom’ na cidade aconteceu mesmo quando o Asuir Silberschlag começou como vendedor, em 1973. Em questão de dois meses, ele duplicou o número de assinantes”, conta Walter Kuhn. Mas essa história pode ser conferida nas páginas 6 e 7.
WALTER KUHN: “A Folha é um dos 10 maiores jornais do Rio Grande do Sul e tem a mesma qualidade dos grandes centros. Honra o que faz e honra Venâncio Aires.”
ASTOR RECKZIEGEL: “A Folha foi meu grande impulso na vida profissional. Jamais imaginaria que teria a repercussão e o alcance que tem hoje.”
LINDOR LAURO MÜLLER: “Se tornou um dos jornais de maior respeito no estado e me sinto muito orgulhoso de ver como ele progrediu nesses 50 anos.”