‘Correria do dia a dia’ não é apenas um termo urbano e, na agricultura, a questão do tempo também tem influenciado em alguns movimentos diferentes nos últimos anos. Entre eles, apostar na compra direta ou no que se poderia chamar de ‘terceirização’ de uma etapa para o cultivo de determinada cultura.
No caso do tabaco, em que historicamente o produtor lidava com a cultura desde a semente, cada vez mais a etapa inicial do semeio e manejo de mudas tem sido ‘evitada’. Ou seja, muitos fumicultores têm procurado a compra da muda já formada e pronta para ir à lavoura. Entre os argumentos, o ganho de tempo e por poder contar com mudas de mais qualidade, diminuindo a probabilidade de quebra. “É a sétima safra em que estamos comprando mudas e foi a melhor escolha. Podemos nos dedicar às outras coisas da propriedade, sem se preocupar com os canteiros. Financeiramente também vale a pena e levo mudas que se desenvolveram bem, com mais qualidade”, destaca o fumicultor Cristiano Sehn, morador de Vila Arlindo.
O agricultor conta que, quando a família ainda produzia as próprias mudas, chegava a plantar cerca de 40 mil pés de tabaco. Com a ‘terceirização’ dessa etapa, eles mais que quadruplicaram a produção na lavoura, chegando a 180 mil.
Na propriedade dos Sehn ainda há 14 açudes, esses sob responsabilidade de Helio, pai de Cristiano. “Como nós também temos piscicultura, esses quase três meses nos quais precisaríamos ficar na função de cuidar dos canteiros, é um tempo que ganhamos. Daí meu pai, que tem 64 anos, cuida dos peixes e da secagem do tabaco [são cinco estufas elétricas].”
Fornecedor
Cristiano Sehn busca no Viveiro Batista, de Linha Taquari Mirim, as mudas que planta em Vila Arlindo. É na localidade do 9º distrito de Venâncio Aires que a família Schroeder produz mudas de tabaco, mas também de árvores, como eucalipto.
O proprietário João Batista Schroeder conta que toda produção é por encomenda, mas que a média produzida por ano gira em torno de 900 mil mudas. A maioria dos clientes está em Venâncio Aires e nos vales do Rio Pardo e Taquari, mas o viveiro também fornece para fumicultores de Pelotas e São Lourenço do Sul, por exemplo. “Essa etapa no canteiro exige muito tempo e cuidado do produtor. Se não ficar de olho praticamente 24 horas, podem acontecer perdas. Por isso, muitos estão optando pela compra”, comenta Batista.
Rocambole

• Uma novidade em relação à compra de mudas é o transporte delas. Até pouco tempo atrás, elas seguiam viagem nas próprias bandejas, saídas diretamente do sistema floating dos canteiros.
• No Viveiro Florestal do Batista, inicialmente elas nascem nas bandejas de adensamento e depois são pré-selecionadas, uma a uma, e plantadas separadamente em outro recipiente.
• Quando estão formadas e prontas para ir à lavoura, ao invés do produtor levar a bandeja, ele leva o chamado ‘rocambole’. Nessa seleção final, entre 100 e 200 mudas são empacotadas, enroladas em plástico.
• “No eucalipto essa técnica já é muito usada. Para o transporte é uma maravilha, porque ocupa menos espaço e evita contaminação. Muitas empresas têm recomendado fazer assim. E a muda pode ficar uns três dias empacotada que não estraga”, garante Batista.
Sucessão familiar
Cristiano Sehn tem 36 anos e é filho único de Helio e Glaci. O agricultor é casado com Viviane e tem dois filhos: Renan, 7 anos, e Lucas, 3. “O pequeno vai ser da lavoura. Acorda de manhã e já vai atrás do vô”, conta Cristiano.
O produtor de Vila Arlindo, que decidiu ficar na agricultura ainda na adolescência, comentou sobre o futuro dos filhos. “A gente não sabe do futuro, nem pode decidir por eles. Mas pensando na qualidade de vida do interior e porque eu ainda acredito que a agricultura vai ser mais valorizada, talvez eles façam o que eu fiz.”
A sucessão familiar também é algo comentado na família Schroeder, em Linha Taquari Mirim. Lá, João Batista tem a parceria da família do irmão Ênio para o cultivo de mudas de tabaco. O filho de Ênio, aliás, já decidiu que seguirá no negócio da família.
“Eu me criei na roça, gosto de trabalhar na agricultura, nas culturas diferentes e de lidar com o maquinário”, comentou Andrei Micael Schroeder, 19 anos. O jovem revela que o próximo passo é fazer o curso técnico em Agropecuária, uma das novidades no campus local da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc).