Conforme registros de agricultor de Linha Herval Mirim, foram 2.855 milímetros entre janeiro e dezembro do ano passado, o ano mais chuvoso em Venâncio desde 2001.
Enquanto começamos 2025 já falando numa possível estiagem, devido à perspectiva de um janeiro escasso em precipitação, o 2024 fechou como o ano mais chuvoso em Venâncio Aires nas duas últimas décadas, com 2.855 milímetros.
Ao analisar esse volume, naturalmente nos remetemos a maio, quando o município e praticamente todo o Rio Grande do Sul foram ‘varridos’ por enchentes e enxurradas nunca antes registradas. Mais do que os volumes do ano passado, os documentos levam a 1941, em registros que, de tão longínquos, já pareciam lenda. Talvez por não ter sido algo frequente nos últimos 80 anos, excessos de chuvas e inundações não viraram discussão social e são poucos os municípios que têm informações documentadas sobre índices pluviométricos, por exemplo.
Em Venâncio Aires, o registro ‘caseiro’ de um agricultor de Linha Herval Mirim, na região do Parque do Chimarrão, virou uma fonte histórica importante. Paulo José Fischer tem por hábito acompanhar e registrar a chuva há décadas. Desde 2001, anota, mês a mês, a quantidade que choveu na propriedade dele. Essas anotações disponibilizou à reportagem.
Os 2.855 milímetros de 2024 são de acordo com o pluviômetro do agricultor. O número final não surpreende, considerando que só em maio, mês da enchente, foram incríveis 705 milímetros em Venâncio (24% da precipitação total do ano passado). Com isso, 2024 superou 2014, quando foram 2.846 milímetros em 12 meses. Naquele ano, junho registrou 341 milímetros, suficientes para causar uma enchente na parte baixa da cidade, atingindo 3 mil pessoas. Além de 2014, a marca dos 2,8 mil milímetros anuais foi alcançada em 2015, quando choveu 2.816 milímetros, e muito tempo antes, lá em 2002, com 2.814.
O recorde de maio, no ano mais chuvoso
Com os 705 milímetros registrados em maio de 2024 em Venâncio, essa foi a primeira vez, nas últimas duas décadas, que o índice superou os 700 milímetros mensais. Antes disso, os maiores registros só haviam superado a marca dos 500 mm: 553 em setembro de 2023, 531 em outubro de 2015 e 514 em novembro de 2009.
9 milímetros – é o que choveu em Venâncio nos primeiros 10 dias de janeiro.
Abril e agosto: os meses mais secos
Com ciclos recentes de estiagem, entre 2020 e 2022 principalmente, esses foram anos que ficaram abaixo dos 2 mil milímetros anuais. Em 2021, por exemplo, quando o pluviômetro de Fischer somou 1.906 milímetros, chama atenção a quantidade de chuva em abril daquele ano: apenas 4 mm.
Ainda sobre abril, ele foi, entre 2001 e 2024, o segundo mês que menos choveu em Venâncio: 3.837 milímetros. Mas chama atenção a diferença dos volumes de abril nos últimos cinco ciclos. Foram 29 mm em 2020, 4 em 2021, 211 em 2022, 20 em 2023 e 496 em 2024. No ano passado, o volume maior se deve às fortes chuvas que começaram no fim de abril e seguiram no início de maio, resultando na grande enchente.
Abril é, desde 2001, o segundo mês com menos precipitação em Venâncio. Mais ‘seco’ que o quarto mês do ano, só agosto, que soma 3.759 milímetros em 24 temporadas. Em 2024, foram apenas 70 milímetros. O município não tinha um agosto tão escasso em chuva desde 2010, quando foram registrados 75 milímetros.
No ano mais chuvoso, volume em setembro cai pela metade em relação a 2023
- Desde 2001, o mês que mais choveu em Venâncio Aires é setembro. Historicamente, é um período chuvoso em vários municípios e muitas vezes o volume excessivo é registrado próximo do dia 29, dia de São Miguel. Por isso se popularizou o termo ‘enchentes de São Miguel’.
- Somando todas as medições do mês nove nos últimos 24 anos, são 6.168 milímetros em Venâncio. O recorde do mês é de 2023, com 553 milímetros. Isso explica outra enchente histórica registrada no município e que deixou muita destruição na região de Vila Mariante, após cheia do rio Taquari. Já em 2024, o volume caiu mais da metade, com 234 milímetros.
O ano que menos choveu em Venâncio foi 2004, com 1.661 milímetros. Naquela temporada, para se ter uma ideia da baixa precipitação, setembro foi o mês mais chuvoso, com 251 milímetros.