A importância da mata ciliar para a preservação do Castelhano

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Ao observar o arroio Castelhano, que passa ao norte de Venâncio Aires, em alguns pontos, a vegetação em sua volta é escassa. Esta vegetação que margeia o curso d’água é denominada mata ciliar, importante para a preservação do arroio e, principalmente, do seu curso natural, que, por vezes, sofre modificações devido ao grande volume de água nas enxurradas e o assoreamento provocado por deslizes de terra das margens desprotegidas.

O coordenador do trabalho de recuperação das nascentes do arroio Castelhano, Rui Schwinn, e o engenheiro agrônomo Giovane Alberto Nervo, que atuam na Secretaria de Meio Ambiente de Venâncio Aires, reforçam a importância de cuidar da mata ciliar. “Ela é como se fosse um filtro da água dos mananciais e do arroio, melhora a qualidade”, afirma Schwinn.

Nervo explica que o enraizamento da vegetação ciliar no entorno do arroio evita o desmoronamento de solo das margens, pois ali ocorre um maior entrelaçamento de raízes, dando uma ‘maior segurança’ para a margem e, portanto, evitando o chamado assoreamento.

As espécies ideais para fazerem a composição de uma mata ciliar são as nativas. “Além de ajudar a manter a nossa vegetação nativa, essas árvores não são tão invasivas quanto as exóticas, que por vezes, crescem muito”, esclarece Nervo. Alguns exemplos são a corticeira do banhado, camboatá, araçá, guabijú, guabiroba, araticum, pitangueira, ingá, angico e açoita-cavalo. Essas espécies são ideais para compor a mata ciliar. Árvores como o eucalipto, uva-do-japão (hovenia) e outras exóticas, não são uma boa opção.

Schwinn chama atenção para o fato de que, apenas cercando o local da mata ciliar, a própria natureza já ajuda no desenvolvimento das árvores. “As sementes já estão ali, a natureza se desenvolve por si só”, afirma. Outras dicas também são de evitar a entrada de animais de grande porte, para não pisotearem o local.

Na imagem da esquerda, em Linha Marechal Baixo, a mata ciliar está em faixa estreita e pouco protegida. Já na direita, em Linha Estância Nova, é visto o contrário, como é considerado o ideal. Fonte: Google Earth / 2021

Panorama

Conforme o engenheiro agrônomo Giovane Nervo, em alguns pontos, a mata ciliar do arroio Castelhano está precária e, em outros, bem protegida. “Na várzea, na parte mais baixa, os problemas são maiores”, afirma. Em alguns locais, como Arroio Grande e Marechal Baixo, o curso d´água do arroio Castelhano já se modificou e um dos motivos é a falta de mata ciliar. Outro problema recorrente e de difícil controle é o lixo depositado pela população, próximo aos mananciais hídricos e que acabam acumulando nas áreas baixas. “Muito já foi evitado, mas a população ainda precisa de mais conscientização”, acrescenta Schwinn.

Em alguns trechos do Castelhano, mata ciliar muitas vezes é vasta somente em um lado da margem. (Foto: Divulgação)
  • A extensão da mata ciliar, prevista em lei, é de 30 metros. Porém, de acordo om os profissionais da Secretaria do Meio Ambiente de Venâncio Aires, de 10 metros a 15 metros já é uma boa margem para garantir a proteção do arroio.

Pagamento por Serviços Ambientais pretende auxiliar na recuperação da mata ciliar

A reposição e manutenção da mata ciliar do arroio Castelhano, em pontos críticos, ainda está sendo estudada e planejada, e deve ocorrer aos poucos. Para isso, foi criado o programa de Pagamento de Serviços Ambientais (PSA), que está em fase de implementação. Agricultores com terras lindeiras ao arroio serão incentivados a deixar uma margem segura de mata ciliar, de acordo com seu uso e a área de sua propriedade.
O levantamento das propriedades está sendo realizado por meio de um projeto da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), realizado pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc).

Para que não sejam prejudicados ao deixar de plantar nestas áreas, com a implantação de mata ciliar, os agricultores receberão valores de compensação, em períodos regulares, de acordo com a cultura e área de plantio. “Será realizado o plantio de espécies arbóreas nativas, cercamento e o agricultor deverá aplicar cuidados para preservar a mata”, explica Nervo.

Schwinn observa que o município de Vera Cruz já realiza esta atividade e que Venâncio Aires está buscando implementar o programa, que ajudará tanto os produtores quanto contribuirá com a preservação do arroio. “Não pensamos em prejudicar ninguém, por isso estamos desenvolvendo o PSA”, afirma Nervo.

Plantio de árvores

A empresa de engenharia de meio ambiente Conífera também desenvolve um projeto voltado à mata ciliar do arroio Castelhano. O objetivo é limpar os locais, replantar parte da vegetação e manter os cuidados com cercamento e adubamento. O projeto, mesmo sendo de forma independente, também passa por aprovação da Secretaria do Meio Ambiente.

Conforme o engenheiro ambiental da Conífera, Robson Alencar Wendel, o projeto ainda é longo, mas já foi iniciado com cercamento de aproximadamente um quilômetro de um lado da margem do arroio. Para o final de setembro, está previsto o plantio de árvores nativas que serão monitoradas pela equipe. Após quatro anos, a expectativa é que estas árvores já tenham se reproduzido. No próximo ano, o projeto deve abranger mais áreas de extensão da mata ciliar, totalizando oito quilômetros.

Projeto para revitalizar área às margens da RSC-453

A Patrulha Agrícola do Município realiza projeto de revitalização da área localizada às margens da RSC-453 que ficou conhecida como ‘cemitério de árvores’. Por conta da água represada em episódios de cheias do arroio Castelhano, muitas árvores morreram. Será realizada a drenagem no local, com a retirada das árvores mortas e a desobstrução de sangas e galerias assoreadas. Inicialmente, a previsão é de 1.437 metros de escavação.

Futuramente, é previsto o replantio de árvores no local. O trabalho é liderado pelo coordenador da Patrulha Agrícola, Rodrigo Antônio Vieira Garin, o Rodrigo VT. De acordo com ele, aguarda-se a autorização da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) para iniciar o trabalho, por conta da área ser de domínio da instituição.

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Luana Schweikart

Luana Schweikart

Jornalista formada pela Unisc - Universidade de Santa Cruz do Sul. Repórter do Jornal Folha do Mate e da Rádio Terra FM

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