“O setor do tabaco é muito organizado. O sistema integrado é um modelo que deveria ser copiado por outros setores, pois funciona muito bem.” A afirmação é do gerente-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Fumo (Abifumo), Edimilson Alves, que no próximo dia 9 completa três meses à frente da entidade. Antes de assumir o cargo, o advogado e consultor atuou como diretor-executivo do Instituto Pensar Agro, que é um braço da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Também atuou no Ministério da Agricultura como assessor especial da ministra Tereza Cristina, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. A trajetória profissional também inclui passagens pelo Ministério das Cidades, Câmara dos Deputados e também pela iniciativa privada.
Natural do estado de Goiás, mas radicado em Brasília, Alves é o novo representante da entidade em agendas e debates que envolvem o setor, especialmente na Capital Federal. “A minha missão aqui é mostrar a todo Brasil o que é o tabaco, o que é a cultura do tabaco”, afirma.
A regulamentação dos cigarros eletrônicos, o combate ao mercado ilegal e Reforma Tributária foram alguns temas abordados durante entrevista exclusiva à Folha do Mate. Alves falou sobre o desejo de conhecer a região de Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, um dos polos de produção e processamento de tabaco no país. “Eu quero ir para Santa Cruz e fazer uma imersão para sair da teoria e ir para a prática.”
O executivo também lamentou a falta de conhecimento sobre o setor fora da região Sul do país e o quanto a desinformação afeta a imagem da cadeia produtiva do tabaco. “É um setor que se fala muito mal sem conhecimento de causa. O Instituto Crescer Legal é um exemplo para todos os setores no combate ao trabalho infantil”, menciona.
Contrabando e cigarro eletrônico
Segundo Alves, a regulamentação dos cigarros eletrônicos e a Reforma Tributária são as principais pautas do setor atualmente. Para o gerente-executivo da Abifumo, não é aumentando o preço do cigarro que o país diminuirá o número de fumantes. “Eu acho que na Europa funciona bem, mas no Brasil não funciona, porque a Europa não tem o vizinho que nós temos, que é o Paraguai”, analisa.
Hoje, estima-se que 41% dos cigarros consumidos no Brasil são provenientes do contrabando. Com o mercado ilegal, segundo a Abifumo, o Brasil deixou de arrecadar na última década R$ 100 bilhões. “Esses R$ 100 bilhões foram para as mãos do crime organizado, para quem introduz esse cigarro contrabandeado no país. Hoje, a carga tributária do cigarro gira em torno de 70% a 90%. No Paraguai é 13%. Olha a margem”, compara. “Você acha que se aumentar o valor do preço mínimo do cigarro, deixarão de consumir? Não vão. Eles [consumidores] irão para o contrabando, irão comprar o cigarro do contrabando”, opina Alves.
“A única saída é a regulamentação”
Embora a comercialização, importação e propaganda de Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) sejam proibidas no país desde 2009, pesquisas revelam que 6 milhões de brasileiros afirmam já ter experimentado o cigarro eletrônico. “Está claro que a proibição não funciona. Aqui em Brasília, a feira do Paraguai fica a 200 metros da sede da Anvisa, que é onde mais se vende cigarro eletrônico”, critica.
Conforme ele, diante de um mercado ilegal que só cresce e oferta diversos modelos e sabores de cigarros eletrônicos sem procedência, o setor espera que o Brasil reveja a proibição. “A indústria quer ser responsável pelo produto que está dentro do cigarro eletrônico. A Anvisa errou, e errou muito nessa proibição”, garante. Atualmente, um projeto que prevê a regulamentação dos DEFs tramita na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, mas a votação já foi adiada duas vezes. A previsão é que a matéria retorne à pauta da comissão no dia 20 de agosto.
De acordo com um estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), o mercado dos cigarros eletrônicos poderia representar uma movimentação de R$ 7,5 bilhões por ano. “A única saída é a regulamentação. Nós não estamos falando em regularizar, estamos falando em regulamentar, com normas rígidas, com regras duras e claras. Hoje, da forma que está, não pode continuar”, defende.
“Nós não estamos falando em regularização do cigarro eletrônico, estamos falando em regulamentação, com regras duras e claras.” EDIMILSON ALVES – Gerente-executivo da Abifumo
Fábricas no RS
- Se a fabricação e comercialização dos cigarros eletrônicos fosse autorizada no Brasil, há interesse das indústrias em ter uma produção nacional desses produtos?
Há interesse e a indústria está preparada para isso. - Essas indústrias poderiam ser instaladas no Rio Grande do Sul, especialmente na região do Vale do Rio Pardo, onde as maiores empresas do setor já possuem unidades?
Não tem como não ter uma indústria nessa região, até por causa da logística. Eu não tenho dúvida que teria, sim, e geraria muitos empregos e renda. - Em relação à fabricação dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), uma das preocupações já manifestadas por produtores é de que esses aparelhos realmente tenham tabaco em sua composição e não outras substâncias. Como a Abifumo acompanha esse tema?
A Frente Parlamentar da Agropecuária, que é composta por 350 parlamentares, só apoia a regulamentação dos vapes porque são produtos do tabaco. Do contrário, eles virariam as costas para a gente. A própria BAT já assinou um documento com a Afubra, confirmando que é extração de tabaco. A nicotina sintética é inviável financeiramente.
“Tabaco é agro”
Ao falar da representatividade do setor do tabaco para a economia brasileira, Edimilson Alves cita pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), encomendada pelo Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), que mostra que a renda per capita dos produtores de tabaco na região Sul do país é o dobro da média brasileira. “A rentabilidade é muito boa, é muito grande. Qual outra cultura que esses agricultores irão produzir e que seja tão rentável?”, questiona.
Segundo ele, um dos desafios à frente da Abifumo é apresentar a realidade e a importância do setor, principalmente para os parlamentares de regiões não produtoras. “A diversificação já existe nas propriedades que cultivam tabaco, só não sabe, quem não conhece. E quem conhece, insiste em dizer que não. É muita falácia, muita narrativa. E a minha missão como diretor da Abifumo é trazer essa realidade para dentro do Congresso”, afirma.
O Brasil é o maior exportador mundial de tabaco desde 1993. No Rio Grande do Sul, o tabaco é o segundo produto das exportações do agronegócio gaúcho. “Como Iro Schünke [presidente do SindiTabaco] sempre diz, tabaco é agro”, destaca.
Sabia?
- Edimilson Alves revelou que será feito um estudo de viabilidade técnica e econômica em Mato Grosso, para analisar a possibilidade da produção de tabaco neste estado. Atualmente, a produção é concentrada nos três estados do Sul do país e também há áreas de cultivo em estados do Nordeste brasileiro.
- Meio ambiente – Durante a Conferência das Partes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (COP 10), realizada em fevereiro, no Panamá, um dos temas discutidos foi o impacto dos cigarros no meio ambiente, especialmente das bitucas. Para Alves, é inviável responsabilizar a indústria pelo descarte destes resíduos. “O que eles querem é inviabilizar o mercado. O meio ambiente não é afetado somente com a bituca do cigarro.”