A realidade de Vila Mariante seis meses depois da enchente

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Nos dias 5 e 6 de setembro de 2023, Vila Mariante e arredores enfrentavam a segunda maior enchente da história do rio Taquari. A elevação do manancial chegou aos 29,62 metros no Porto de Estrela, principal ponto de referência para medições na localidade. Com isso, as águas invadiram ruas e residências. Posteriormente, Vila Mariante ainda sofreria com os prejuízos de outra grande cheia, a terceira maior da história, em novembro – quando o nível chegou aos 28,94 metros no mesmo ponto.

Em setembro, foram mais de 200 pessoas resgatadas, inclusive com a utilização de helicópteros, e os desabrigados ficaram alojados no ginásio de esportes de Linha Mangueirão. Após o desastre, a Prefeitura decretou calamidade pública. Seis meses depois, mesmo com auxílios da Prefeitura e do Governo do Estado, o sentimento dos moradores é de abandono. Para a auxiliar administrativa Aline de Queiroz, 31, moradora de Santa Mônica, há um descaso em relação às obras nos últimos meses, principalmente nas ruas que cortam a região. “Não temos uma estrada segura para trafegar”, argumenta.

Aline se refere à ERS-130, que recentemente, teve o anúncio do repasse R$ 10 milhões do Governo Federal para a recuperação da via e construção de um muro de proteção no rio Taquari – recurso liberado e que aguarda licitação pelo Governo do Estado, responsável pela obra. “Queria que meu filho crescesse aqui, mas está complicado. Não tem uma pracinha para ele brincar, uma creche para ele ficar”, comenta a auxiliar administrativa, que está grávida de seis meses. Por outro lado, ela comemora que os atendimentos na Estratégia de Saúde da Família (ESF) Mariante seguem – mesmo que realocados no prédio da academia de saúde – e o recebimento de R$ 1 mil no ‘SOS Mariante’: “Nisso, não temos o que reclamar.”

Recuperação das vias

Segundo o secretário de Infraestrutura e Serviços Públicos, Sid Ferreira, foram realizados trabalhos de recuperação em toda a região e, atualmente, ainda há equipes em Linha Chafariz e Sanga Funda, principalmente. Nas áreas afetadas pelas cheias, houve patrolamento, limpeza das vias, barrancos e valetas, bem como colocação de material para compactar o solo. “O trabalho vai seguir de forma consistente em toda a área que foi impactada”, diz.

401- famílias receberam o recurso de R$ 1 mil do programa municipal ‘SOS Mariante’.

Outro alvo de reclamações da população é o acesso a Santa Mônica, que sofreu com alagamentos depois das enchentes e, também, com um esgoto a céu aberto, que recebeu canalização e, até o momento, os moradores não tiveram novos problemas.

No entanto, a moradora de Linha Itaipava das Flores, Tatiane Cristini da Silva de Souza, 36, afirma que a ERS-130, pela qual trafega todos os dias para levar os filhos à Escola Estadual de Ensino Fundamental (EEEF) Maria Luiza da Rocha Pires, no interior de General Câmara, segue em péssimas condições. “Antes estava intransitável, agora foram colocadas cargas de pedras e passaram o rolo [compactador], mas não fizeram mais nada”, destaca.

A dona de casa ressalta que já cortou pneus do carro e da moto no trajeto. “O carro veio da oficina hoje (quinta-feira), estragou até a suspensão”, comenta. A ERS-130 é de responsabilidade do Estado, por meio do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer). Além disso, também houve a reconstrução da ponte de Linha Chafariz, concluída no mês de novembro.

“Nos criamos e gostamos daqui, mas queremos que seja igual antes. Não é pedir muito.”

ALINE DE QUEIROZ

Moradora

Prejuízos da enchente de setembro

• Foram 1.850 desalojados, pessoas que deixaram suas casas e foram para casas de familiares e amigos, e 120 desabrigados, que ficaram no ginásio de Linha Mangueirão.

• Quinze casas foram totalmente destruídas e 600 danificadas, assim como escolas e instituições tiveram suas estruturas prejudicadas.

• Duas pontes e duas estradas também foram destruídas pela força da água, incluindo a Bepe Guimarães e a ponte de Linha Chafariz.

Obras

1 Venâncio Aires recebeu R$ 453.254,27 após cadastro junto à Defesa Civil Nacional em razão do Decreto de Calamidade emitido depois da enchente de setembro. O montante contempla a recuperação de quatro trechos de vias pavimentadas e que foram parcial ou completamente destruídas pela ação das águas.

2 A portaria, anunciada em 27 de dezembro de 2023, prevê a contratação emergencial e execução de obras em até 180 dias. São R$ 293.392,31 destinados à recuperação de 602 metros quadrados de pavimento e 80 bueiros na rua Bepe Guimarães; R$ 145.106,72 para a recuperação de 280 metros quadrados de pavimento, calçadas e meio-fio na rua Vereador João Oliveira Santa Fé; R$ 25.814,39 para repavimentação de 11,25 metros quadrados de calçadas e meio-fio da rua dos Marinheiros; e R$ 42.940,85 para restabelecimento do pavimento de bloqueto danificado na rua Sotero dos Santos Braga. Segundo a Prefeitura de Venâncio Aires, as obras estão em fase de licitação.

Recursos municipais (‘SOS Mariante’)

• R$ 173 mil: 173 agricultores receberam recurso R$ 1 mil (Eixo Agrícola)

• R$ 73 mil: 20 empresas (Eixo Econômico)

• R$ 1.532 em isenções de IPTU para 12 contribuintes que solicitaram e R$ 47.396,37 isenção do SIM (Eixo Fazendário)

(Fonte: AI Prefeitura)

Recursos recebidos pela Defesa Civil

• 2,4 mil famílias atendidas – aproximadamente 7,2 mil pessoas

• Cestas básicas: R$ 144,6 mil

• Kits de limpeza: R$ 94,8 mil

• Higiene pessoal: R$ 172,8 mil

• Kits dormitório: R$ 307,2 mil

• Colchões: R$ 166,2 mil

• Combustível: R$ 247,6 mil

• R$ 238.190,30 em horas-máquina para recuperação de vias e limpeza urbana (recolhimentos de entulhos).

(Fonte: AI Prefeitura)



Leonardo Pereira

Leonardo Pereira

Natural de Vila Mariante, no interior de Venâncio Aires, jornalista formado na Universidade de Santa Cruz do Sul e repórter do jornal Folha do Mate desde 2022.

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