Ana Flávia, princesa da 17ª Fenachim: “Só sabe para onde vai, quem respeita de onde vem”

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Em 2014, durante a divulgação da 13ª Fenachim, algumas coroas de papel foram distribuídas entre meninas de Venâncio Aires. A então adolescente, Ana Flávia Dornelles de Ávila, recebeu uma delas e ouviu de alguém: “Olha nossa futura soberana.” O comentário, talvez despretensioso naquele momento, acabaria virando realidade no último fim de semana, quando Ana, hoje com 26 anos, se tornou uma das princesas da 17ª Festa Nacional do Chimarrão. “Sou eu”, ela disse para si mesma, instantes antes do primeiro nome ser anunciado no ginásio Poliesportivo. A soberana não sabe explicar, apenas disse que sentia que seria uma delas. “A gente sente quando as coisas são para a gente. Eu estava segura e tranquila.”

A princesa da Fenachim relata que, durante o concurso, foi amadurecendo e adquirindo conhecimento, além de se apegar às convicções e sempre buscar vislumbrar a realização no resultado. “Eu me dediquei muito. Foi o chimarrão que me manteve acordada nas madrugadas enquanto estudava. Eu treinava conteúdos e assuntos. Minha mãe me pegava falando sozinha às 4h da madrugada”, conta a estudante de Psicologia.

O abraço mais especial no Poliesportivo: com a mãe Maria Cristina e a vó Maria Vilma, que tem 83 anos e acompanhou o evento de escolha (Foto: Arquivo pessoal)

O resultado, foi a alegria dividida com tantos amigos e, principalmente a mãe, Maria Cristina Dornelles de Ávila. Profe Cris, como é conhecida nas escolas Dois Irmãos e Wolfram Metzler, foi a maior incentivadora da filha, a quem ela chama de ‘mana’. “Foi uma emoção parecida com o nascimento dos meus filhos”, define a mãe. E foi um abraço nela, junto com a vó materna, Maria Vilma, 83 anos, um dos registros mais bonitos da noite. Vó Vilma, aliás, é vizinha e foi na casa dela o churrasco de comemoração pelo título de soberana, no domingo. “Eu adormeci olhando pra coroa e no almoço na vó, fui usando ela”, revela a princesa, que tem um irmão, Luis André, 33 anos. No coração, ainda carrega o ‘maninho’ Luis Gustavo, que não resistiu ao parto, há 30 anos.

Ainda sobre momentos dentro do Poliesportivo, a mãe de Ana relata uma parceria com a torcida da candidata Joice Daiane da Silva Pfaffenzeller. “Estávamos entre três enchendo 500 balões, no pulmão mesmo. Acho que viraríamos a noite lá. Mas quando a torcida da Joice terminou a decoração, todos passaram para nosso lado e nos ajudaram. Foi algo muito lindo”, conta Cristina.

Uma decisão para a vida

Para esta entrevista, a princesa recebeu a reportagem na casa onde mora com a mãe, no Centro da cidade. Ana esperava no portão, sorridente e já de braços abertos, literalmente acolhendo a visita, como ela garante que fará nos próximos meses e em maio de 2024. “Só sabe para onde vai, quem respeita e cultiva de onde vem. Se sou soberana, é porque fiz isso, com apoio da família e amigos. Sempre falei muito de acolhimento, de humanidade, de trabalhar não apenas pela festa, mas pela comunidade de Venâncio.”

Outro ponto destacado por Ana Flávia é o tradicionalismo, algo já estabelecido na Fenachim, mas que ela quer levar “mais um pouquinho”. É cria do CTG Erva Mate, de Venâncio Aires, e já dançou Enart pelo CTG Lanceiros, de Santa Cruz do Sul. Conquistou 15 faixas em concursos de prenda e está acostumada a declamar. “Mas eu cheguei num momento que precisava dar uma reviravolta na minha vida. Queria novos desafios, conhecer ‘mundos’ diferentes, e decidi que era hora de tentar me candidatar. Me inscrevi no último dia, me foquei e o resultado é estar no trio. No tradicionalismo, a gente aprende isso: não importa o número da tua colocação, mas o quanto tu te compromete em fazer.”

A faixa de princesa da Fenachim, portanto, é a 16ª que ela já recebeu, mas garante: é o título mais importante. “Com certeza, é este momento o mais importante. Estou representando uma festa, um município, uma região. É uma responsabilidade imensa.”

A cuiazinha de inox e outra que virou amuleto

Precoce, a princesa da 17ª Fenachim começou a caminhar com nove meses e, com um ano e meio, já ‘dava aula’ para as bonecas. Menina adiantada assim, naturalmente seria cedo que desenvolveria outros gostos, entre eles o hábito do chimarrão. Com três anos, sentada de perna cruzada num banquinho, ao lado dos pais que tinham seu próprio chimarrão, a pequena Ana também já sorvia a bebida símbolo dos gaúchos. Era numa cuiazinha de inox, acompanhada de sua própria chaleirinha.

Cuia que virou amuleto de Ana durante o concurso das soberanas (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Mais de 20 anos depois, durante o concurso para soberana, outra cuia marcaria a vida dela. “Nós estávamos num evento com a Rejane Rüdiger, da Escola do Chimarrão, e ela disse que iria sortear alguns itens. E eu ganhei uma cuia”, conta. Nela, está a seguinte frase: ‘Nada é tão nosso quanto nossos sonhos’. “Comecei a usar essa cuia desde então e virou meu amuleto. É uma frase linda e significativa.”

Ainda sobre tomar chimarrão, Ana só lamenta que não pode mais fazê-lo com duas pessoas, as quais ela gostaria que estivessem no Parque do Chimarrão para vê-la eleita soberana: o pai, José Miguel Carvalho de Ávila, que faleceu em 2017, e o avô materno, Nilson Dornelles, falecido em 2003.

“O Sarau Cultural das candidatas foi dia 12 de agosto, no dia que fez 20 anos que o vô faleceu. E, no dia seguinte, era Dia dos Pais”, relata a princesa. Naquela noite, no Clube de Leituras, ela declamou a poesia ‘Senhor das Pitangueiras’, de Fernanda Irala Gomes. “Ela fala sobre tomar chimarrão com uma pessoa que já foi embora”, explica.

11ª tatuagem: Ana tem 10 tatuagens, que remetem à família, a bichinhos de estimação que já faleceram e ao tradicionalismo. Em breve, a 11ª primeira será feita e será para eternizar na pele a Fenachim.

“A 17ª Fenachim vai ser maravilhosa. Será uma trajetória bastante trabalhosa e uma grande responsabilidade, já que a comunidade tem muitas expectativas em cima das soberanas. Mas somos um trio que se preparou muito a reúne três aspectos importantes: a comunicação, a cultura e a fé. Além, claro, o amor por Venâncio.”

ANA FLÁVIA DORNELLES DE ÁVILA – Princesa da 17ª Fenachim



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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