Desde março do ano passado, a agência do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) de Venâncio Aires não abre as suas portas para atendimentos presenciais. No início, os usuários compreenderam a suspensão, mas, com o passar dos meses, as queixas começaram a se intensificar. As dificuldades enfrentadas pelas pessoas que buscam os serviços relacionados à Previdência – somadas ao fato de que a unidade da Capital Nacional do Chimarrão é uma das poucas na região que não retomou às atividades presenciais -, fez com que a pressão pela reabertura da agência aumentasse de maneira significativa nos últimos dias.
O assunto foi tratado com destaque na Câmara de Vereadores de Venâncio Aires. O presidente da Mesa Diretora, Tiago Quintana (PDT), critica a falta de atendimento presencial, acrescentando que “os serviços públicos todos voltaram, inclusive o INSS de municípios vizinhos, só aqui não”. Ele foi ainda mais longe: “Deixo aqui o meu repúdio não apenas pelo fechamento por tanto tempo, mas também pela falta de informações. É uma várzea, uma vergonha”. A manifestação de Quintana foi repercutida pelo colega Elígio Weschenfelder, o Muchila (PSB). “Aplaudo, de pé, o nobre colega. Além disso, sugiro que façamos um ato em frente à agência, como forma de deixar claro o nosso descontentamento”, declara.
Moradora do bairro Santa Tecla, Marisa da Rosa, de 59 anos, lembra que, há mais de um ano, quem precisa dos serviços do INSS tem se deslocado para Lajeado e Santa Cruz do Sul. Conforme ela, as pessoas precisam gastar com ônibus e, muitas vezes, com táxi nos municípios vizinhos. “Qual é o motivo de só aqui não termos os atendimentos à disposição?”, questiona. Para Marisa, que está com o auxílio-doença suspenso, “enquanto todo mundo ficar quieto e aceitar esta situação, nada vai mudar”. Uma outra fonte, que prefere não se identificar, fez contato com a redação da Folha do Mate afirmando que há três meses liga para a unidade do INSS e ninguém atende o telefone. “Meu caso não é tão grave. Eu quero fazer uma revisão da aposentadoria, mas não sou atendido e vou ter que esperar”, comenta.
“Situações como esta causam revolta na população. Hoje em dia, nada mais favorece o cidadão. Nada é feito para facilitar a vida do povo. Só lembram da gente na hora de dividir a conta. Se ficarmos sempre quietos, não vai mudar.”
MARISA DA ROSA – Moradora do bairro Santa Tecla
Agendamento
Advogado previdenciário, Paulo Harres, de 50 anos, há 15 trabalha exclusivamente nesta área. De acordo com ele, o que está acontecendo é o direcionamento dos atendimentos do INSS para canais digitais. “Pelo aplicativo Meu INSS, é possível acessar os cadastros, marcar perícias e consultar os resultados. O problema é que não é todo mundo que sabe usar o sistema”, explica. Harres diz que as perícias médicas estão sendo realizadas na unidade, de acordo com cronograma de agendamento. “É uma situação complicada, pois muitas pessoas precisam de ajuda para encaminhar os atendimentos e, às vezes, acabam não conseguindo. O processo está sendo realizado remotamente, o que dificulta para quem não está familiarizado com a tecnologia”, diz.
O profissional também destaca que processos de venâncio-airenses podem ser encaminhados para qualquer perito do Brasil. “Um pedido de aposentadoria, por exemplo, pode cair para um servidor de outro estado. O deputado federal Heitor Schuch, aliás, está pleiteando que os processos fiquem nos estados de origem, pelo menos, pois cada um tem a sua peculiaridade”, observa. Harres admite que “algumas coisas não se consegue resolver pelo sistema” e afirma que, na sua opinião, “o que o governo quer é sucatear os órgãos da Previdência, pois não tem a intenção de facilitar os processos para a população”.
“A Reforma da Previdência deixa claro que o Governo Federal pretende se afastar deste campo. São mais requisitos, mais idade e mais contribuições. Não há intenção de investir em Previdência, pois o trabalho por meio digital é mais barato.”
PAULO HARRES – Advogado previdenciário
Sem expediente
- Consultada pela reportagem da Folha do Mate, a Procuradoria da República em Santa Cruz do Sul informou que “não há expediente em tramitação sobre o fechamento da APS (agência da Previdência Social) Venâncio Aires”.
- Ainda de acordo com a Procuradoria, houve expediente, já arquivado, sobre o não cumprimento de prazos pela autarquia no município, a partir de denúncia feita este ano. Pedidos para retomada dos atendimentos presenciais, no entanto, não foram registrados.
- O presidente da Câmara de Vereadores de Venâncio Aires, Tiago Quintana (PDT), informou ontem que estaria encaminhando expediente ao Ministério Público Federal (MPF) de Santa Cruz do Sul, bem como à Defensoria Pública Federal.
Saiba mais
- A Folha do Mate também entrou em contato com a gerência executiva do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em Santa Maria, que abrange o município de Venâncio Aires. Até o fechamento desta edição, por volta das 20h de ontem, o órgão não havia se manifestado.