Quem diria que, em pleno janeiro, Venâncio Aires viveria uma semana silenciosa às vésperas do dia 20, feriado do padroeiro do município e de uma das festas religiosas mais movimentadas do Rio Grande do Sul?
Mas também quem diria que, em pleno século XXI e com toda a evolução médica, enfrentaríamos uma pandemia viral? Fato é que nesse quase um ano convivendo com a Covid, que já infectou mais de 3,4 mil pessoas em Venâncio e causou a morte de 37, a festa no formato a qual todos estavam habituados, não poderia acontecer.
A não ser que fosse repensada e adaptada para garantir a segurança dos envolvidos. Assim, o que se viu nos primeiros dias da programação possível da 145ª Festa de São Sebastião Mártir, foram missas com controle de fiéis, pavilhões com pouquíssimas pessoas circulando e a oportunidade de inovar em serviços, como na tele-entrega do pastel.
No sábado, por exemplo, a missa na igreja matriz foi cercada de cuidados, como já acontecia após a retomada das celebrações, há alguns meses. Álcool gel à disposição, cartazes orientativos e os fiéis, todos de máscara, devidamente separados entre os bancos.
“Esta edição, com certeza, vai ser um marco. Todos tivemos que nos adaptar a muitas coisas e a comunidade igreja não foi diferente. Medo da Covid a gente tem, mas tomamos todos os cuidados necessários”, avaliou a professora Tatiana Konzen Nicolini, que ajuda no pastel do Bastião desde 2014 e, em 2018, ela e o marido, Alex, foram festeiros.
Tatiana também lamentou a pandemia e as consequências que traz a todos os setores. “Dá uma dor no coração de ver os pavilhões vazios. Lembramos do povo se reunindo e se divertindo, mas no momento não é possível. Por isso seguimos com esperança que o Bastião interceda por todos nós, e permita que tenhamos uma festa completa no próximo ano”, projeta.
Críticas
Tatiana comentou ainda sobre algumas críticas que a Paróquia Católica recebeu sobre manter, ainda que em parte, a festa. “Foram adequações necessárias para que houvesse, além da festa religiosa, a parte gastronômica. Porque assim como a nossa casa tem gastos, a Paróquia também tem contas a pagar, funcionários a honrar. A própria igreja matriz, cartão postal da cidade, que é linda, mas exige manutenção. Tudo são custos, por isso fazemos a nossa parte”, desabafou.
Pastel de tradição e de oportunidades
Em 2021, fazer o pastel chegar a quem não pode sair de casa virou novidade e uma oportunidade para um serviço diferente. Como para Dienon Santana dos Santos, 21 anos, que comemorou a chance de incrementar a renda do mês.
Ele é metalúrgico, mas há cerca de um ano usa sua Titan 150 para trabalhar como motoboy à noite. No Bastião, ele é um dos responsáveis pela tele-entrega – já foram mais de 200 ao todo. “A oportunidade é muito boa. Eu levo para quem não pode buscar e vira uma ajuda para mim, como trabalho. Um ajuda o outro”, definiu.
Mesmo com a opção da tele-entrega, algumas pessoas foram buscar, como o casal Wellen Borba e Lucas Rippel, ambos com 26 anos. “Sempre participamos comprando pastel, galinhada e a rifa. Esse ano, dentro do que foi possível, acho que foi tudo bem organizado, para evitar aglomeração. O pessoal entendeu”, opinou Wellen.
Ela e o marido foram para casa com quatro pastéis. “Dois para mim, um para a Wellen e um para a Alícia”, brincou Lucas, se referindo à primeira filha deles, que vai nascer em maio.
Galinhada
O prato típico de Venâncio Aires e um dos carros-chefe da festa também foi repensado. Sem a possibilidade do almoço presencial, serão bem menos panelas para lavar depois da galinhada. Segundo Veladio Enio Haupt, que coordena a equipe que faz a galinhada desde 2001, dentro normalidade a média seria de até 80 panelões na festa. Nesse ano, o máximo deve ficar em 12.
9 mil – foi o número de pastéis vendidos nos três primeiros dias.