Bitucas ‘retornam’ em forma de arte

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Você sabia que é possível transformar bitucas de cigarros em papel? A maioria das pessoas talvez desconheça que a bituca é reciclável. O processo é realizado em uma usina localizada no município de Votorantim, no interior de São Paulo. A empresa é considerada a primeira do mundo a reciclar resíduos de cigarro.

No mês de novembro do ano passado, a Folha do Mate foi convidada pela empresa Souza Cruz para conhecer o processo na Poiato Recicla e, na última semana, a reportagem participou de uma das oficinas de reciclagem realizadas em Santa Cruz do Sul. O objetivo foi demonstrar e ensinar membros de associações e entidades a utilizarem a massa resultante do processo de reciclagem na criação de produtos artesanais como flores, capas de blocos, cadernos e o que mais a imaginação e criatividade permitirem.

A atividade encerrou uma ação de conscientização ambiental iniciada durante a Oktoberfest, em outubro do ano passado. Durante todos os dias da festa, por meio de coletores específicos, foram recolhidas quase 80 mil bitucas de cigarros, que foram encaminhadas à usina da Poiato e transformadas em 25 quilos de massa celulósica. Na última semana, essa massa foi trazida para Santa Cruz do Sul e transformada em papel para trabalhos artesanais. “Nada melhor do que a capital do tabaco para apresentar à comunidade esse trabalho e mobilizar a sociedade para a importância do destino correto”, destaca o fundador e diretor da Poiato Recicla, Marcos Poiato, 57 anos.

Uma das oficinas foi realizada na sede da CDL de Santa Cruz do Sul (Foto: Letícia Wacholz/Folha do Mate)

“Esta ação foi a forma de conscientizar à população e também de retornar à cidade uma matéria-prima para a produção de arte.”

GUILHERME MATTOSO – Coordenador de Projetos do Instituto Souza Cruz


MULTIPLICADORES

Educadora ambiental Leila Prado demonstrou como a massa é transformada em papel de forma simples e prática (Foto: Letícia Wacholz/Folha do Mate)

Segundo a educadora ambiental Leila Prado, da empresa paulista Papel do Quintal, quando as bitucas são jogadas no chão, por exemplo, a sociedade está apenas prolongando a ida para o aterro sanitário de um produto que leva 15 anos para se decompor e que também gera impactos no solo. “Precisamos de uma mudança de comportamento. Se hoje estamos aqui, discutindo isso, é para possibilitar um planeta melhor para nossos filhos e netos”, disse aos participantes das oficinas, os quais definiu como multiplicadores desta conscientização.

Marcos Poiato destaca que o artesanato foi o caminho mais rápido para garantir um destino ao material reciclado, mas a massa originada pelas bitucas, segundo ele, também pode ser transformada em caixas de papelão, revestimentos de paredes e até como manta de contenção para a indústria química. “Daqui a pouco vamos estar fazendo muitas coisas”, projeta.

Dos mais de 500 clientes brasileiros da Poiato Recicla, a Souza Cruz é a única empresa do ramo de tabaco. Hotéis, supermercados, comércios e eventos são exemplos de alguns segmentos que realizam o recolhimento das bitucas. “A discussão em torno da Lei Antifumo foi o ápice para eu criar essa empresa. A legislação trouxe regras e proibiu fumar dentro de ambientes fechados, mas não se preocupou com o ambiente externo”, observa o empresário, que por 20 anos atuou na indústria farmacêutica e se sentia incomodado com o descarte incorreto. Atualmente ele conta com apoio dos filhos Felipe e Gabriel para administrar a empresa que já garantiu a reciclagem de 50 milhões de bitucas. “Só demos um pontapé inicial, mas já me sinto realizado, já nos tornamos um case mundial. Espero contribuir com a qualidade de vida da população”, comentou.

Oficinas foram realizadas com a massa de celulose produzida com bitucas de cigarros consumidos em Santa Cruz do Sul (Foto: Letícia Wacholz/Folha do Mate)

CONSCIÊNCIA E RENDA

Para o coordenador de Projetos do Instituto Souza Cruz, Guilherme Mattoso, a ação, além de conscientizar o consumidor, contribuiu para mostrar à sociedade que é possível gerar renda a partir de um produto que não tinha um destino correto, além de reforçar o compromisso com a sustentabilidade. “Envolver as entidades nestas oficinas foi uma forma de incentivar um trabalho de inclusão social”, destaca.

Mattoso observa que o desafio é grande, por isso, entende que o engajamento dos atores sociais é o primeiro passo. “É preciso fazer um trabalho forte, é uma questão cultural.” A tecnologia do sistema de reciclagem de bitucas foi desenvolvido em parceria com a Universidade de Brasília (UNB).

Participantes das oficinas foram desafiados e colocaram a criatividade à prova. Um deles é o presidente da CDL e também presidente da Oktoberfest 2020, Márcio Martins (Foto: Letícia Wacholz/Folha do Mate)


Letícia Wacholz

Letícia Wacholz

Atua há 15 anos na Folha do Mate e desde 2015 é editora da Folha do Mate. Coordena a produção jornalística multiplataforma do grupo de comunicação. Assina a coluna Mateando, a página 2 do jornal impresso.

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