A mudança aconteceu na semana passada e, aos poucos, tudo vai indo para seu lugar. Tiago da Rosa, 35 anos, e Robilaine Rodrigues Lima, 29, se adaptam ao novo espaço. Claro que ainda há ‘arremates’ por fazer, como um abrigo nos fundos e um pergolado com jardim na frente, mas nada supera a sensação de, finalmente, morar na casa própria.
Essa é a realidade do casal que vai comemorar o primeiro Natal no ‘seu canto’. Depois de 14 anos no aluguel, em três casas diferentes, o 2019 não poderia terminar de maneira mais feliz. E é uma felicidade que cabe dentro de 50 metros quadrados construídos no bairro Santa Tecla.
A conquista dos dois pode bem representar a ‘cereja do bolo’ de um setor que, como um todo, compartilha de um otimismo nessa virada de ano. Estruturada de forma maciça (como os tijolos usados na casa do Tiago e da Robilaine), o aumento da construção civil (4%) é apontado como principal alavanca do recente crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Nesta semana, impulsionado pelo desempenho da construção civil, o Banco Central elevou sua projeção do PIB em 2020 de 1,8% para 2,2%.
“A perspectiva nacional e estadual é de retomada. O PIB subiu e o que tem puxado é a construção civil. Em São Paulo isso já aconteceu e normalmente se espalha. Podemos dizer que o cenário é promissor, pois ainda temos um grande déficit habitacional no Brasil”, destacou o vice-presidente do Sindicato das Indústrias da Construção do Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS) e coordenador do Escritório Regional Vale do Rio Pardo, Astor Grüner.
Ele relatou alguns sinais que ajudam a explicar esse otimismo. “Em Porto Alegre, por exemplo, o número de vendas tem superado os lançamentos, diminuindo o estoque. Isso é muito bom. Em termos gerais, há mais contratações e os financiamentos também têm sido facilitados.”
Ao encontro disso, está a opinião do empresário Luciano Delavi, que comanda uma construtora há quase seis anos em Venâncio Aires. “Tem melhorado mensalmente”, resume ele que, em 2019, dobrou a quantidade de casas construídas em relação a 2018. De acordo com Delavi, parte da melhora do setor passa pelos investimentos da própria empresa e pela liberação de financiamentos. “Esse ano teve mais verba para assinaturas de contrato. Não faltou dinheiro na Caixa para liberar crédito”, considera, se referindo aos tradicionais financiamentos habitacionais do Governo Federal. Com mais trabalho, ele precisou contratar e cresceu em 40% o número de funcionários.
Em 2018, chegou a 43 o número de vagas criadas na construção civil em Venâncio, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
“Temos indicadores que nos apontam para uma retomada gradativa do crescimento. E a cadeia da construção é fundamental neste processo, como geradora de empregos e de renda.”
ASTOR GRÜNER – Vice-presidente do Sinduscon-RS e coordenador do Escritório Regional Vale do Rio Pardo
Venâncio registra aumento de licenças para construir
Se o momento econômico tem sido propício à construção civil, ele reflete uma realidade que pode ser medida, também, em alvarás emitidos pelo Prefeitura. Se em todo 2018 foram 467 licenças de construção, em 2019, até esta quinta-feira, 19, foram 557 – aumento de 17%.
Os números constam em relatórios do setor de Fiscalização de Obras, atrelado à Secretaria de Planejamento e Urbanismo de Venâncio Aires. Consequentemente, houve um aumento na emissão dos autos de conclusão da obra, o chamado Habite-se – de 353 em 2018 para 492 em 2019.
IMPOSTOS
Outro número importante, embora não tenha o mesmo peso de demais impostos, é o Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI). Segundo a Secretaria Municipal da Fazenda, ele representa 1,5% em retorno para o Município, dinheiro que vai para o recurso livre da Administração.
Para 2019, a projeção é de R$ 2,93 milhões. “A expectativa de arrecadação está dentro da normalidade. Em 2018 a projeção era a mesma e foi superada”, revelou o secretário, Eleno Stertz.
Na prática, o ITBI é o tributo municipal que deve ser pago quando ocorre uma transferência imobiliária. A oficialização do processo de compra e venda só será feita após seu acerto. Sem a confirmação de pagamento, o imóvel não pode ser transferido e a documentação não é liberada.
ITBI Venâncio
- 2015 – R$ 2,587 milhões
- 2016 – R$ 2,307 milhões
- 2017 – R$ 2,996 milhões
- 2018 – R$ 2,949 milhões
- 2019 – R$ 2,930 milhões (projeção)
SINDICATO
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil e do Mobiliário de Venâncio Aires também relata aquecimento do setor. “Se percebe um grande movimento na cidade, mas não temos como fazer uma avaliação maior, porque há mais de 600 microempreendedores (MEIs) nessa área e os quais não têm relação sindical”, informou o presidente do sindicato, Jandir da Silva.
Segundo ele, o sindicato tem mais de 170 associados só na construção civil. São trabalhadores de Venâncio e vinculados a empresas de Boqueirão do Leão, Barros Cassal, Ibarama, Sobradinho, Segredo, General Câmara e Sério, municípios abrangidos pela entidade local.
Além da construção civil, que tem a maioria dos mais de 600 associados, o sindicato representa trabalhadores de fábrica de móveis, marcenarias, artefatos de cimento, olarias, madeireiras e de artesanato em madeira.
R$ 5 milhões a mais em financiamentos
Na abertura dessa matéria, citamos o exemplo de Tiago da Rosa, que conseguiu adquirir a casa própria através de um financiamento bancário. “Se não fosse assim, não conseguiria”, disse. O técnico em refrigeração recorreu ao Minha Casa Minha Vida, o programa mais popular do Governo Federal, financiado via Caixa Econômica Federal. Serão 30 anos pagando cerca de R$ 630 por mês. “Antes disso eu já pagava em torno de R$ 520 para algo que nem era meu”, pondera.
Só em Venâncio Aires, o total de financiamentos da Caixa cresceu cerca de R$ 5,106 milhões entre 2018 e 2019 (R$ 29.146.954,00 para, até agora, R$ 34.252.856,00). Os números correspondem ao Minha Casa Minha Vida e ao Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE).
“A quantidade de simulações feitas no site da Caixa para financiamento habitacional tem batido recordes de acesso. Já superamos o valor de 2018 e estamos projetando fechar o ano atingindo a marca dos R$ 90 bilhões”, revelou o Superintendente Regional da Caixa, Gilberto Luz.
Para Luz, a Caixa tem sido uma das alavancas do movimento de crescimento da construção civil, através de reuniões com o Sinduscon, grupos de clientes e empresários. “Após a divulgação de nova redução da taxa básica de juros (Selic), a Caixa anunciou a adoção de taxas ainda menores no crédito habitacional e em produtos de crédito pessoal. Ao longo do ano, o banco vem reduzindo as taxas, acompanhando o cenário de queda do indicador de janeiro a dezembro de 2019.”
Volta de investimento e capacidade produtiva
“Os ajustes econômicos demonstram que o país deseja voltar ao rumo certo. Junto com este cenário, as empresas estão voltando a investir e a aumentar sua capacidade produtiva.” A afirmação é do engenheiro civil, Carlos Alberto Theisen Filho. Ele é diretor da House Soluções Imobiliárias, empresa que tem cinco projetos ‘verticais’ em andamento na área central de Venâncio Aires.
Para Theisen, os agentes financeiros estão com disponibilidade de recursos para financiamentos e as taxas de juros estão caindo. “Isso afetou positivamente o setor. Hoje, muitas vezes, vale mais a pena a compra de um imóvel do que a aplicação financeira.”
O engenheiro também menciona a busca por opções residenciais mais centrais na cidade. “A procura tem sido muito intensa por produtos diferenciados. Entendemos que os prédios, se comparados aos terrenos, apresentam diferenciais como localização central, segurança, comodidade de estar ‘perto de tudo’ no centro e grande potencial de valorização. O cenário da construção civil, de fato, é muito otimista e em 2020 haverá mercado para novos lançamentos.”