Sem perceber, o consumo consciente começou a fazer parte da vida da professora de Direito no Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), Josiane Paula da Luz, 41 anos. O exemplo dela, que, no dia a dia, busca desenvolver práticas de consumo consciente e sustentável, é inspiração na Semana do Meio Ambiente.
Doutora em Ambiente e Desenvolvimento, Josiane explica que o consumo consciente é um tripé formado pela parte ambiental, social e econômica. Conforme a profissional, uma ação importante para ajudar o meio ambiente é pensar a necessidade da compra, inclusive, no supermercado. “Antes de adquirir é preciso analisar se o produto é necessário, qual será a utilidade dele e como será descartado.”
“Tudo que a gente consome tem um impacto para o meio ambiente, porque precisou de água, matéria-prima e mão de obra. Mas não adianta dizer para alguém ter o consumo consciente do nada, porque isso é um processo gradual e contínuo.”
JOSIANE DA LUZ – Doutora em Ambiente e Desenvolvimento
A procedência é outro ponto interessante de cuidar, segundo a professora. “É uma empresa que cuida do meio ambiente ou nunca fez nada a respeito? Essa reflexão precisa entrar na rotina antes de qualquer compra”, afirma.
No último ano, Josi reuniu amigas em sua casa para fazer um brechó de roupas e objetos. “Eu sempre cuidei para consumir só o que precisava, mas chegou um ponto em que tinha muita roupa. Então fiquei meses arrumando e fazendo uma grande ‘limpeza’. A maioria eu doei e algumas eu vendi”, explica. Ela lamenta que essa ação ainda seja mal vista na região, enquanto, em grandes cidades, os brechós são lojas e eventos bem conceituados.
“Aqui ainda temos um pouco de preconceito, mas isso precisa ser inserido na sociedade, porque é uma ótima forma de reaproveitar uma peça que não usamos mais, porém pode ser aproveitada por outra pessoa.”
De mãe para filha
Outra prática que contribui com a preservação ambiental é o consumo de alimentos orgânicos – produzidos sem agrotóxicos, transgênicos ou adubos químicos. Por isso, a professora procura sempre comprar de agricultores conhecidos. “Se eu posso comprar verduras aqui no município, que são sem agrotóxicos, por que vou comprar no mercado as que vêm de lugares longes e são cheias de veneno?” observa.
Além disso, a família, que reside em Vila Palanque, tem uma horta com temperos, chás, verduras e árvores frutíferas, uma composteira e uma cisterna, que auxiliam no consumo diário. Esses hábitos são repassados para a filha Verônica da Luz Kappaun, 6 anos, que ajuda no cuidado da horta e já sabe que, quando não usa mais de alguma coisa, precisa passar adiante. “Os brinquedos que já não são mais interessantes para a idade dela e as roupas que não servem são doadas e vendidas, assim como compramos coisas para elas que já são usadas”, explica Josi.
A pequena gosta de estar com a mãe na natureza e já sabe que precisa ajudar a cuidar do meio ambiente. “Incentivo muito brincar na rua, subir em árvores e ajudar a plantar na horta”, afirma.
Para Josi, o consumo na infância também precisa ser repensado, pois, na maioria das vezes, as crianças não precisam de produtos físicos, mas sim de experiências – a parte social do consumo consciente. “Agora que estamos em casa com as crianças devemos incentivar esse contato com a natureza, em vez de dar novos brinquedos”, acredita.
Momento para repensar o consumo
A professora considera que, nesta época de pandemia, muitas pessoas estão tendo tempo para refletir sobre o consumismo. “Na correria do cotidiano, elas compravam por impulso, não dava nem tempo de refletir sobre o que iria adquirir. Com esse isolamento, ganhamos lucidez neste ponto”, avalia. Também lembra que muitas pessoas começaram a organizar a casa. “É o momento ideal para arrumar os armários e passar adiante as coisas que não são mais usadas, independentemente se for para vender ou doar.”
Já na parte da economia, a doutora em Ambiente e Desenvolvimento ressalta a importância de valorizar empresas pequenas, próximas e, de preferência, que se preocupam com o meio ambiente, especialmente durante a pandemia de coronavírus. “Quando preciso comprar algo, a primeira pergunta que me faço é de quem comprar, porque devemos sempre ajudar as micro e pequenas empresas locais”, acrescenta.
Ela explica que cuidar do coletivo também se encaixa neste ponto. “No momento que vivemos, evitar aglomerações e se cuidar para cuidar do próximo é um exemplo do consumo consciente socialmente.”