Impasse envolve a operação da Usina de Triagem localizada em Linha Estrela, no interior de Venâncio Aires (Foto: Arquivo FM)
Impasse envolve a operação da Usina de Triagem localizada em Linha Estrela, no interior de Venâncio Aires (Foto: Arquivo FM)

A Prefeitura de Venâncio Aires acompanha uma situação que pode interferir no sistema de coleta e destinação final do lixo no município. É que colaboradores da Cooperativa Regional de Catadores dos Vales (Cootralto) protocolaram, junto à Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), um abaixo-assinado solicitando que a cooperativa deixe de comandar os serviços na Usina de Triagem de Linha Estrela, no interior.

No documento entregue ao Município e ao qual a reportagem da Folha do Mate teve acesso, são 16 assinaturas, que representam a totalidade dos colaboradores. A principal alegação é de que valores não estariam sendo corretamente repassados aos cooperados, bem como o responsável pela gestão da operação, Francisco Leopoldo dos Santos, não teria o costume de prestar contas do montante que é arrecadado com a venda de materiais, que complementa os ganhos dos trabalhadores. A Prefeitura repassa R$ 34 mil mensais.

Um dos cooperados procurou Folha do Mate para falar a respeito do impasse. Gilson Deves Valim afirma ter trabalhado por três meses na Usina de Triagem e, durante o período, teve descontos que não deveriam estar na folha de pagamento. Ele também reclama da carga de trabalho: seriam nove horas diárias, sendo que, quando há folgas em sábados, chegava a fazer mais de 10 horas diárias como forma de compensação. “A gente, que trabalha, não recebe direito. E ele (Francisco), que não bota a mão no lixo, nunca botou, está inclusive na folha como cooperado, ganhando mais do que a gente”, sustenta o catador.

Além de documentos apresentados à reportagem no dia em que esteve pessoalmente na Folha do Mate, Valim enviou uma série de outros materiais que, na sua opinião, comprovariam a falta de transparência do gestor e o desequilíbrio de valores entre cooperados que fazem o mesmo trabalho. Ele diz que a esposa, que também trabalha na Usina de Triagem, é outra que já recebeu valores a menos. “Todo mês tem uma desculpa. Do dinheiro da Prefeitura, 50% tem que ser repassado aos catadores, mas isso não acontece. E também não é repassado o valor correto das demais vendas, feitas para um comprador de Lajeado. Queremos a saída dele e da cooperativa, para que outros possam assumir”, defende.

Contraponto

Procurado, Francisco Leopoldo dos Santos apresentou a sua versão sobre os fatos. De acordo com ele, Valim é ex-cooperado e trabalhou apenas um mês e meio na Usina de Triagem de Linha Estrela. Os descontos reclamados pelo catador seriam referentes a faltas, que são anotadas e, no fim do mês, é feita a conta do valor a receber. Sobre a prestação de contas, garante que está tudo disponível em um mural que é mantido no local de trabalho. “Estamos tocando a cooperativa há três anos e nunca tivemos problemas com isso. Inclusive, os cooperados se dizem muito satisfeitos, pois têm média salarial de R$ 2,6 mil e, em determinados meses, chegariam a receber R$ 3 mil de salário bruto”, argumenta o gestor.

Ele revela ainda que teria sido agredido por Valim, com um soco e um chute, em um momento de discussão entre ambos. “Ele me bateu na frente de todo mundo. Registrei boletim de ocorrência e vou representar contra ele. Tive que voltar na usina com a Brigada Militar”, relata. Em relação ao fato de seu nome estar na folha de pagamento, sendo que não exerceria atividades como os demais, Santos esclarece: “Sou o gestor da cooperativa. Temos operações em Venâncio Aires, Teutônia e Lajeado. Viajo com frequência para tratar das questões que envolvem os serviços. Tenho que viver também, né?”, observa.

Renovação

Conforme o gestor, o contrato de prestação de serviços entre a Cootralto e a Prefeitura de Venâncio Aires expira em junho e, no momento, ele não acredita que deve ser renovado. “Nunca tivemos este tipo de problema. Na verdade, é um caso isolado, mas se é pra ficar se incomodando, melhor parar. O cooperado que está fazendo estas denúncias infundadas tem a esposa e outros familiares lá. O que fiquei sabendo é que o pessoal assinou o abaixo-assinado pensando que era pra ele voltar a trabalhar na usina”, argumenta.

Santos diz que vai se reunir com a cúpula da Cootralto, que tem sede em Teutônia, e depois com os representantes da Prefeitura de Venâncio Aires para tratar da continuidade ou não dos trabalhos sob a supervisão da cooperativa. “Pra ser sincero, depois de tudo o que aconteceu, não me sinto seguro para trabalhar. Já sofri ameaças e não vou facilitar. Vamos ver que resultado teremos após reunião”, conclui ele.

O que diz a Prefeitura

  • Por meio da Assessoria de Comunicação e Marketing, a Prefeitura de Venâncio Aires informa que repassa aproximadamente R$ 34 mil mensais para a operacionalização da Usina de Triagem de Linha Estrela. O Município está ciente do abaixo-assinado, que foi protocolado junto à Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma).
  • A posição do Executivo é de que, embora as situações relatadas sejam de administração interna da cooperativa e de questões estatutárias, a fiscalização do contrato entre a Cootralto e a Prefeitura vai fazer a notificação para que a direção faça esclarecimentos, diante do descontentamento dos cooperados. “A depender da manifestação, a Prefeitura adotará as medidas cabíveis”, destaca a nota enviada à Folha do Mate.

Fique por dentro

  • A Cooperativa Regional de Catadores dos Vales (Cootralto) assumiu a operação da Usina de Triagem de Linha Estrela em setembro de 2019, quando a Reciclagem Serrana, que detinha o contrato com a Prefeitura de Venâncio Aires, não renovou com o Município.
  • Na época, a Administração abriu nova licitação. Mas, como os prazos tradicionais de um processo licitatório levam meses, e para evitar ainda mais o acúmulo de resíduos, a alternativa foi uma tomada de preço. A Cootralto ofereceu o menor valor.

• Venâncio Aires tem uma produção que gira entre 850 a 900 toneladas de resíduos por mês e 40% disso é rejeito que vai para o aterro sanitário de Minas do Leão.