Derli da Silva: o voluntário que plantou mais de 300 árvores no acesso Grão-Pará

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Em 2011, a Avenida Flávio Menna Barreto Mattos, continuação da Osvaldo Aranha, no acesso a Grão-Pará, iniciava um novo momento, com a obra de revitalização do trecho de 1,7 quilômetro. Além do caminhódromo e da ciclovia, a instalação da academia ao ar livre, junto à Estação de Captação de Água da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), foi uma novidade na cidade, e muitas pessoas passaram a utilizar o espaço para se exercitar. Apesar da beleza do novo acesso, faltava algo importante: arborização.

Quem percorre o trecho hoje, à sombra de araçazeiros, pitangueiras, ameixeiras, goiabeiras, laranjeira, árvores de fruta do conde, entre outras, talvez nem imagine que tudo isso aconteceu a partir do trabalho de um voluntário. O aposentado Derli da Silva, 66 anos, plantou mais de 300 mudas de árvores no trecho, do início do caminhódromo até a academia.

Assim como muitas pessoas, ele passara a andar de bicicleta no local, mas sentira falta das árvores. “Então pensei que poderia fazer as mudas e plantar. Não tinha despesa nenhuma, pois usava água da chuva, terra do mato, caixinhas de leite ou garrafas PET para colocar as mudas”, cita. Na maioria das vezes, ele se deslocava de bicicleta da sua casa, próximo ao bairro Macedo, até o local, levando, na carona, uma enxada e as mudinhas que iria plantar.

A esposa Simone da Silva até questionou: “Será que vai ficar alguma árvore assim, na beira da estrada?”. Mas Derli estava decidido: “Se alguém tirar uma, eu planto duas”, resolveu, otimista. De fato, em muitas ocasiões ao longo dos vários anos nos quais se dedicou ao plantio, ele precisou repôr as mudas. No entanto, uma situação quase foi motivo para desmotivá-lo do trabalho. “Em uma noite furtaram 12 mudas. Conversando com vizinhos, suspeitamos que era alguém que ia de carro para levar as árvores para uma chácara”, lamenta.

Resiliente, Derli transformou a raiva e a decepção em ainda mais dedicação. Afinal, o incentivo e os elogios vindos de quem transitava pelo local eram um combustível para continuar. A partir disso, apostou também em outra ideia. Colocou uma caixinha com mudas no início do caminhódromo, junto a uma placa que dizia: ‘Quem quiser pode levar. É de graça.’A ideia fez sucesso e assim foram distribuídas mais de 600 mudas de árvores de espécies variadas. “Eu percebia que as pessoas passavam caminhando e aquilo chamava atenção. Na volta, muitas levavam para casa uma muda”, relata.

Para Derli, mesmo com a decepção em alguns momentos, os maiores sentimentos são de prazer e de orgulho pelo trabalho realizado ao longo de vários anos de trabalho. “Qualquer um pode fazer algo assim. É só ter tempo e vontade”, define.

“O que me deixa feliz é que muitas pessoas estão plantando árvores a partir daquelas que cresceram no caminhódromo. E hoje tem muitos passarinhos por lá, eles comem as frutas e espalham as sementes. Ver as pessoas caminhando e aproveitando para comer as frutinhas fresquinhas não tem preço.”
DERLI DA SILVA
Aposentado

Uma terapia e o início de muitas amizades

Para Derli da Silva, que encarava problemas familiares e depressão, plantar as árvores no acesso Grão-Pará foi uma verdadeira terapia – uma forma de transformar a dor em algo positivo. Ver o quanto as sementes lançadas por ele germinaram é motivo de orgulho. Aqui, cabe bem o duplo sentido da palavra: ele se satisfaz ao ver as árvores frondosas e carregadas de frutinhas, e também se alegra ao acompanhar outras iniciativas que se somam ao trabalho de formiguinha iniciado por ele. “Muitas vezes, eu cortei grama. Mas agora a Prefeitura faz as roçadas, toda a manutenção. E a Secretaria de Meio Ambiente também tem feito o plantio de muitas árvores na cidade, um ótimo trabalho”, considera.

Outra iniciativa destacada por ele são as árvores plantadas pela RGE, no trecho entre a academia e o monumento, no fim do acesso. “Daqui a alguns anos vão estar com as que eu plantei. Vai ficar muito bonito.”

Árvores foram plantadas nos dois lados da rua, junto ao caminhódromo e à ciclovia, no trecho que vai do começo do acesso até a academia, no sentido centro-bairro (Foto: Juliana Bencke)

Bem-humorado e sempre pronto para conversar, Derli também colecionou amigos enquanto plantava árvores. “Muitas vezes, nem conseguia finalizar e precisava voltar no outro dia, de tanta gente que parava pra conversar”, recorda. Nesse vai e vem de caminhantes e ciclistas que passavam por ele, muitos pediam dicas para plantar árvores e outros tantos entregavam sementes para que ele plantar. Teve até mesmo quem imaginou que o voluntário estava ‘pagando horas’ em uma prestação de serviço comunitário, conforme lembra, entre risos.

Dos tantos amigos que conheceu enquanto plantava árvores, ele faz questão de citar Gilmar Gassen, que hoje mora em Santa Catarina. “O Gilmar é uma pessoa fora de série. Ele recolhia o lixo que as pessoas deixavam no caminhódromo e me ajudou muito”, elogia. Derli também lembra que, durante uma caminhada, o então prefeito Airton Artus, hoje deputado estadual, parou para elogiar o trabalho e disse que mandaria colocar bancos no local. “Uns dias depois, o Ronald Artus [então secretário de Infraestrutura e Serviços Públicos], veio e pediu para eu indicar onde poderiam colocar os bancos”, relembra.

Homenagem

Em 2015, Derli recebeu homenagem da Câmara de Vereadores pelo trabalho voluntário realizado no acesso Grão-Pará. A indicação foi da então vereadora Cleiva Heck, que foi secretária de Cultura e Esportes na época da inauguração do caminhódromo, em 2011.

“Ficou muito lindo. É como voltar à infância”

A atendente de padaria Odete Barden, 53 anos, é uma das pessoas que usufruem do caminhódromo. Moradora do bairro Aviação, ela vai até o acesso Grão-Pará sempre que tem a oportunidade de caminhar. “Prefiro vir para cá do que caminhar em direção ao Parque do Chimarrão. As frutas nas árvores são um diferencial. É como voltar à infância”, ressalta ela, que aproveitou para degustar algumas pitangas enquanto caminhava, na manhã de quinta-feira, 28.

Ela considera que as pessoas deveriam ter mais cuidado com o lixo. “Ficou muito lindo esse lugar, é uma coisa muito boa. Quem fez isso é alguém abençoado. Mais pessoas deveriam ter iniciativas assim”, elogia.

Enquanto caminha, Odete aproveita para comer as pitangas colhidas direto da árvore (Foto: Juliana Bencke)


Juliana Bencke

Juliana Bencke

Editora de Cadernos, responsável pela coordenação de cadernos especiais, revistas e demais conteúdos publicitários da Folha do Mate

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