Disciplina, superação e um novo estilo de vida após cirurgia bariátrica

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Há quem acredite que a perda de peso e a conquista de bem-estar e emagrecimento seja solucionada apenas com a realização de uma cirurgia bariátrica. Débora Beatriz da Silva Queiroz, de 33 anos, é a prova de que, além do procedimento, é preciso enfrentar muitos desafios e se superar. “Sempre ouvi que eu era preguiçosa e muitas pessoas me puxavam para trás e falavam que fazer bariátrica é fácil”, relata.

A história da professora de Educação Infantil e dos anos iniciais começa ainda na adolescência, quando estava na fase do ‘engorda e emagrece’. “Eu já era gordinha, mas quando queria e precisava, conseguia emagrecer facilmente e de forma rápida”, comenta. Ela afirma que desde a época já tinha compulsão alimentar e ansiedade. No ano de 2015, chegou a pesar mais de 140 quilos.

Hoje, Débora é mãe de Samuel, de 9 anos, mas o desejo e a necessidade de fazer a cirurgia bariátrica já vem desde antes da gestação. Só que, naquele momento, com todos os exames prontos e próximo da data da operação, desistiu. Na gravidez, chegou aos 120 quilos e, depois de dar à luz, chegou a ter hemorragia, parou de amamentar e, com os hormônios, descontou na comida novamente, engordando mais. “Hoje, me assusto com a quantidade de comida que eu ingeria”, desabafa.

A decisão definitiva pela bariátrica veio em 2016, quando teve falta de ar ao tentar acompanhar o filho, que já corria por aí. “Foi por ele, e para ter qualidade de vida”, destaca ela. O pré-tratamento da cirurgia durou seis meses, com acompanhamento de psiquiatra, cardiologista, clínico geral e ginecologista, além da participação em palestras com cirurgiões e aprendizados sobre o funcionamento do corpo ao ingerir alimentos. Depois do procedimento, ficou 15 dias em repouso e já voltou a trabalhar. Por quatro meses, ingeriu alimentos pastosos, o que fazia parte da dieta. “O cheiro das comidas trazia lembranças, mesmo que eu não sentisse fome. Os primeiros 30 dias foram tensos, chorei muito”, admite.

Começou a fazer caminhadas, mesmo não gostando de se exercitar e, um ano após o procedimento, chegou ao peso de 79 quilos. No entanto, também começou a sentir consequências, como a perda de cabelos, cílios, pelos da sobrancelha e o excesso de pele. “Eu fugia da academia e parei de caminhar, achava que já estava tudo certo e que não precisava mais emagrecer.”

Em 2019, Débora foi surpreendida com fortes dores na coluna e descobriu uma hérnia, localizada próximo da medula, o que causou dormência em uma das suas pernas e a impediu de movimentá-la. Em consultas com traumatologistas, a cirurgia foi cogitada, mas o principal tratamento indicado foi uma rotina de exercícios. Neste estágio, com a ingestão de medicamentos para as dores que retinham líquidos, teve ganho de peso novamente e estava perto dos 100 quilos.

A professora com o filho Samuel, em dezembro de 2015, quando pesava 132 quilos. (Foto: Arquivo pessoal)

Hábitos saudáveis

No fim de 2021, sem força e flexibilidade, começou a frequentar a academia PL Alta Performance, com Pedro Augusto Lopes, que até hoje, cuida da sua rotina de exercícios. “Encontrei um lugar que me dá segurança, respeita o meu limite e me estimula.” Além do retorno aos exercícios, Débora compensou uma falta de vitaminas que descobriu, o que devolveu a sua energia e disposição.

Atualmente, segue uma rotina de três treinos na semana, quando frequenta a academia após o trabalho. Levanta cargas de peso e adquiriu massa magra. Hoje, com 86 quilos, não tem flacidez e não precisou fazer nenhuma outra operação. Também não faz uso de medicação. Prepara sua própria comida e, mesmo com a ‘correria’ do dia a dia, arruma tempo para fazer tudo. Segundo ela, é uma questão de organização para dar conta.

“Hoje, vejo fotos antigas e me assusto. Eu não me enxergava no corpo que estava. A gente se cega.” Débora reforça que hoje respeita o limite do seu estômago e sabe a hora de parar. Um conselho dela para quem deseja também passar pela bariátrica, é ter o acompanhamento de diversos profissionais e entender tudo sobre o procedimento antes, inclusive com a participação da família, que é indispensável na recuperação.

A rotina de Débora é agitada, com aulas nas escolas em que leciona, terapias do filho que é autista e o hobby como fotógrafa, que redescobriu em novembro do ano passado. “Tenho uma vida boa, eu e minha família.” Ela ressalta que não deixa de comer, por vezes, uma comida que tem vontade, mas hoje tem conhecimento do que causa no seu corpo e coloca a prioridade nas comidas saudáveis que tem prazer em comer. Os hábitos da casa foram mudados e toda família participa. O marido Naguaraji, 41 anos, notou as diferenças e o filho Samuel se empolga com os exercícios, que quer fazer junto com a mãe. “Se eu pudesse voltar no tempo e logo treinar depois da cirurgia, seria diferente”, ressalta Débora.

“Hoje, vejo que tudo é possível. Os resultados nunca vêm de forma imediata, é uma rotina que precisa ser mantida. A bariátrica é um dos passos para a mudança, mas é preciso entender que muitas coisas têm de ser feitas de forma diferente para mudar de vida.”
DÉBORA QUEIROZ
Professora

Primeiro short jeans

  • A maior frustração de Débora era não encontrar roupas nas lojas que visitava e, por isso, mandava costurar. Entre as conquistas da professora, depois de começar uma rotina mais saudável, foi a compra do primeiro short jeans.
  • Ela explica que sempre foi difícil encontrar um modelo que lhe servisse, e antes de começar os exercícios, tinha excesso de pele, o que também dificultava. “Estava no shopping e resolvi tentar provar um modelo. Fiquei muito feliz quando serviu e me senti bem nele. Fazia muito tempo que isso não acontecia”, recorda.
Hoje Débora consegue comprar e usar as roupas que deseja. (Foto: Arquivo pessoal)


Luana Schweikart

Luana Schweikart

Jornalista formada pela Unisc - Universidade de Santa Cruz do Sul. Repórter do Jornal Folha do Mate e da Rádio Terra FM

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