Empresas dividirão responsabilidade sobre manutenção de fios e cabos

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Confusão. Talvez esta seja a palavra que melhor define a imagem acima. Para um leigo, não se sabe onde começa ou termina, nem que tipo de rede integra esse emaranhado de fios e cabos em uma rua central de Venâncio Aires.

Fato é que ‘nós’ semelhantes ou cabos caídos são encontrados em diversos pontos da cidade. Para tentar encontrar uma alternativa que amenize situações assim, o Legislativo de Venâncio Aires aprovou uma lei a qual determina que todas as empresas que utilizam postes para ‘puxar’ suas redes, devem ser responsáveis pelas mesmas.

Na prática, a RGE cuidará da sua fiação elétrica, a Oi dos cabos de telefonia fixa e os provedores de internet das suas respectivas linhas. Isso vale para instalação e manutenção. “Precisamos organizar isso, normatizar. Não adianta ficar puxando cabo e deixar fio solto ou sobrando”, aponta o vereador André Kaufmann (PTB). É dele o projeto que tira da concessionária de energia a responsabilidade em relação ao alinhamento e retirada de material excedente, e responsabiliza também as demais empresas que utilizam a rede aérea.

Dessa forma, além da RGE, empresas de telefonia fixa, banda larga, televisão a cabo ou outro serviço, serão cobradas. “A ideia é que a Prefeitura fiscalize e notifique as empresas quando constatada a irregularidade”, destaca Kaufmann.

Nilson da Silva diz que fios e cabos “estão sempre uma bagunça” na cidade (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Rotineiro

Da frente de casa, o aposentado Nilson da Silva, 70 anos, sinaliza vários pontos de emaranhados de fios. Morador do bairro União, ele afirma que “sempre foi assim”. “Toda vez que alguém mexe, não importa quem, dá algum problema. Ou falta luz ou cai a linha do telefone. Estão sempre ‘fuçando’ e sempre fica a mesma bagunça. É uma vergonha”, dispara.

Em um esquina no bairro União, onde fios ficaram sobre a via por cerca de cinco dias, sobras foram enroladas em uma placa de sinalização (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Silva diz ainda que, seguidamente, fios mais baixos arrebentam após a passagem de caminhões. “Lá na esquina [cruzamento da rua Pedro Grünhauser e avenida Ruperti Filho], ficou uns cinco dias com cabo caído no meio da rua, os carros desviando. Depois arrumaram, mas ficou daquele jeito.”

No local, parte das ‘sobras’ de um fio está enrolada em uma placa de sinalização.

“Problema é falta de fiscalização”, afirma empresário

Um dos usuários da rede aérea em Venâncio Aires é Junior Bohn, proprietário da FBNet. Segundo ele, já existe uma legislação federal que determina a responsabilidade individual de cada empresa na remoção da sobra de fios, por exemplo. Por isso, o projeto de lei municipal não o surpreendeu.

Ao avaliar o cenário local, Bohn entende que o maior problema é a falta de fiscalização. “Tem muito cabo de telefonia que fica pendurado até arrebentar. E outra coisa que acontece é pela substituição de postes. A RGE não informa exatamente que tipo de manutenção vai fazer. Dão uma amarrada e deixam assim. Aí sabemos pelo cliente, que fica sem sinal de internet, que tem problema.”

Brasil

Para Junior Bohn, há outro fator, comum em todo Brasil, que não deve ter uma solução imediata: o limite de pontos que podem ser utilizados em um poste. Ele explica que uma normativa da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) determina que só podem haver cinco pontos de fixação, além dos cabos de energia, em cada estrutura. “Tem lugares em Venâncio com muito mais, então tem irregularidade. Agora, numa previsão minha, acho que um dia essa poluição visual vai diminuir, já que no caso de internet, as pequenas empresas não devem sobreviver às grande operadoras.”

RGE

  • Contatada pela reportagem, a RGE respondeu via Assessoria de Imprensa. A empresa afirmou que informa às demais que têm cadastro junto à concessionária em dois momentos quando há necessidade de adequação de cabos de sua responsabilidade.
  • Quando realiza programação da obra e identifica a necessidade de deslocamento de cabos de telefonia, a RGE diz que comunica as empresas de telecomunicação, informando a data e hora da execução da obra, para que elas possam se programar e realizar as adequações.
  • Já para casos em que é identificada a permanência de irregularidades após a execução de obra e há risco de segurança, a RGE informou que faz ela mesma a correção em caráter emergencial. Do contrário, caso não seja constatado risco de segurança, é emitida nova notificação para as empresas, com o prazo de 10 dias para adequação.

Telefonia

A reportagem contatou a Oi, que mantém as linhas de telefone fixo em Venâncio Aires, mas a empresa de telefonia não respondeu.

As empresas terão o prazo de 180 dias, após a publicação da lei, para se adequarem (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Se ver um fio caído, não se aproxime

Além da poluição visual e problemas para clientes, cabos e fios soltos também podem representar risco à segurança. Segundo o engenheiro eletricista e professor do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), Jordan Gustavo Trapp, existe uma série de cabos ou circuitos, que podem ser energia, de sinal de internet por fibra ótica ou sinal de TV a cabo.

“Os cabos de outras operadoras ou empresas de telecomunicações, exceto da concessionária de energia, utilizam sinais com baixo nível de tensão ou através de fibra ótica, as quais funcionam com a transmissão de luz e não apresentam risco ao pedestre se caso ele encostar”, esclarece.

No entanto, como é preciso considerar que a população em geral é leiga e não saberia diferenciar, há riscos. “Se for um fio de alta tensão [13.800 V, três fios um ao lado do outro e na horizontal na parte superior dos postes], apresenta um risco imediato de morte. Há inúmeros relatos de acidentes com a rede de alta tensão, onde a vítima sofre queimaduras externas e internas seríssimas.”

Na dúvida, o professor recomenda que se evite a aproximação. “Sempre que uma pessoa se deparar com um fio em sua frente, ela deve dar a volta pela rua, sem encostar no fio.”



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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