ENTREVISTA: Contagem regressiva para receber a patrona Letícia Wierzchowski na Feira do Livro de Venâncio

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A 24ª Feira do Livro de Venâncio Aires se aproxima e, com isso, começam os preparativos para o evento literário que ocorre no Parque Municipal do Chimarrão. Entre os destaques desta edição, que tem como tema ‘Ler transforma’, está a participação da patrona Letícia Wierzchowski, de 51 anos.

Letícia lançou seu primeiro romance aos 25 anos. Publicou no Brasil 33 títulos de ficção adulta e infantil, entre eles ‘Travessia’, ‘Uma ponte para Terebin’ e ‘O menino que comeu uma biblioteca’. É também roteirista de cinema e televisão, ministra oficinas de narrativa longa há sete anos e autora do livro ‘A Casa das Sete Mulheres’, romance adaptado pela rede Globo para uma série de 50 capítulos que foi ao ar em 2003. A obra já foi veiculada em mais de 40 países.

  • A programação da 24ª Feira do Livro ocorre de 24 a 27 de agosto. O evento terá contação de histórias, sarau literário, teatros, apresentações musicais, estandes com comercialização de livros, bate-papo com escritores venâncio-airenses, sendo todas as atividades abertas ao público, sem cobrança de ingresso.

A patrona deste ano tem dois encontros marcados com o público, no sábado, 26, a partir das 16h30min, no Chimarródromo, com um bate-papo sobre ‘A Casa das Sete Mulheres’, e em seguida, a partir das 17h30min, a homenageada fala sobre ‘Como a literatura mudou minha vida’. Para entrar no clima, a redação da Folha do Mate fez uma entrevista especial com a porto-alegrense. Confira.

Folha do Mate: Já esteve em Venâncio alguma vez? O que lembra do município
Letícia Wierzchowski: Já estive em Venâncio, até mais de uma vez. Como muitas vezes vou para municípios para fazer eventos de feira, chego, participo do encontro e saio. Mas de Venâncio lembro do universo dos colégios, banquinhas onde fico a maior parte do tempo. Espero que além de ser patrona, que fico feliz por batizar e nomear a feira e divulgar a literatura e histórias, possa mostrar que os livros não são complicados, lemos para ser mais felizes, e esquecer os problemas da vida real, conhecer novos horizontes, viver vidas que não viveríamos e aprender novas coisas. O livro não precisa ser encarado como tarefa ou dificuldade, é o contrário, tem que ser um prazer, um livro que eu achar maravilhoso você pode nem gostar. Gosto de trazer este tipo de conversa, como me transformei numa escritora, os motivos que me fazem escrever. Não sou uma intelectual, sou uma pessoa normal e as histórias me ensinam e me salvam de vários problemas, são como asas para novos horizontes.

FM: Como começou a tua relação com a literatura?
LW: Comecei escrever quando tinha uma confecção e em um dia esperando uma pessoa que não chegava nunca para uma reunião, não tinha o que fazer, não tinha levado livro, coloquei uma folha numa máquina de escrever e comecei a contar uma história e não consegui mais parar. Todos os dias terminava o trabalho no ateliê e seguia a história. Um dia me dei conta que ia mais para escrever do que fazer roupas e aí decidi fechar e tentar correr atrás do que estava se transformando em um sonho, que era escrever, e fiz isso.

FM: Considera importante a inspiração em outros escritores e livros para escrever sua própria literatura?
LW: Muitos autores me inspiram, como em ‘A Casa das Sete Mulheres’ inspirado nos ‘Varões assinalados’. O romance de Tabajara Ruas, conta a história da Revolução Farroupilha pelo ponto de vista masculino, na verdade, grandes livros contam guerras por este ponto de vista. Neste livro só em um momento que fala nas mulheres da família do Bento Gonçalves, quando Garibaldi chega para construir o estaleiro dos lanchões farroupilhas (barcos sobre rodas). Aí pensei, nossa será que eu não tinha que contar a história dentro da história, entrar pela ‘porta dos fundos’ da revolução e olhar a vida dessas mulheres que ficaram 10 anos isoladas na estância, não só tendo que suportar perda de familiares e cuidar quem de quem estava la, mas também fazendo a estância funcionar para sustentar a própria guerra. Então foi a forma de contar uma história que todos conhecem, por um lado que ninguém nunca tinha parado para pensar. Muitos me inspiram, Érico Veríssimo entre os gaúchos, grande autor, cuja trilogia marcou minha vida e depois adapto ‘O Continente’ para o cinema com Tabajara Ruas.

FM: O quanto a literatura pode contribuir para a produção audiovisual e, muitas vezes, provocar a busca pelos livros a partir de um filme ou novela (e vice-versa)? Considera importante esse aproveitamento?
LW: Eu acho que é inegável, é maravilhoso, a televisão tem um alcance grande. O brasileiro ainda descobre muito na tela da televisão aberta, e isso é lindo, as novelas marcam o país. Toda vez que entramos dentro das histórias e buscamos dentro da literatura para dialogar com a tela, fazemos coisas maravilhosas. Tem histórias que não cabem nas telas, mas muitas delas cabem e dão lindos filmes e séries. Trabalho fazendo isso, ‘A Casa das Sete Mulheres’ acabou adaptada para a televisão e com o passar dos anos fui me envolvendo com o universo dos roteiros audiovisuais, trabalho muito com isso, é uma outra maneira e maravilhosa de contar histórias.

FM: As referências históricas, de guerras como Revolução Farroupilha e a Segunda Guerra Mundial, além da história da tua família, são muito presentes nos teus livros. Qual a importância delas para tua produção, como te inspiram?
LW: Dependendo história que for ser contar, é preciso fazer uma pesquisa histórica, toda narrativa tem um pano de fundo, se estiver no passado é preciso entender, não só como aconteceu, mas como as pessoas se comportavam, os hábitos, regras, normas sociais. Então qualquer romance exige que o autor faça pesquisa. Por exemplo, se formos fazer um personagem que é cirurgião plástico para fazer com que seja incrível, precisa estudar, entender ele e não falar tolice de cirurgia plástica, senão deixa de ser incrível e o autor desacredita dele. Os universos históricos em determinadas narrativas são muito importantes, a terra onde vai crescer o romance, gosto bastante e pesquiso bastante disso, comecei com ‘A Casa das Sete Mulheres’ e já fiz muitos outros com pesquisa histórica, a trilogia inteira, os romances do meu avô, no livro que se chama ‘Uma ponte para Terebin’. A pesquisa não escapa da vida de um escritor e de um roteirista.

FM: O tema da Feira do Livro de Venâncio Aires será ‘Ler Transforma’. Como a leitura transformou a tua vida?
LW: Ler transforma tudo, mudou minha vida literalmente, sempre amei ler e de tanto gostar de ler, entendi que gostava de contar histórias, e abandonei vários caminhos já começados como o curso de Arquitetura e a confecção de moda para me transformar naquilo que acreditava fazer nesta vida, ser uma narradora. Hoje não sou só escritora, mas também roteirista, vivo de contar histórias. Ler transforma a vida de todos, quanto mais ler mais se amplia horizontes e cria e desenvolve o processo empático. Vivemos em uma sociedade ainda muito nova e egoísta, o Brasil ainda tem muitas falhas sociais, se elegêssemos políticos que lessem e se cidadãos brasileiros lessem ficção, se colocariam de maneira muito mais fácil no lugar do outro, fazendo o processo empático. Se ler um romance de uma pessoa que se passa no Afeganistão, vai entender o que ela vive lá, os problemas dela e ser ela em algum momento, é o exercício de ser o outro. Ler transforma não só as pessoas como também a sociedade.

FM: Nos últimos anos, Venâncio Aires tem tido uma grande produção/publicação de livros. Inclusive, os escritores do município terão um estande durante a Feira do Livro. Como avalias esse movimento de novos escritores?
LW: Não sei como é a produção literária de Venâncio, mas as pessoas estão sempre escrevendo e contando histórias, as memórias fazem parte da natureza humana. Grandes personagens da história escreveram suas memórias algumas publicadas, outras não. Escrever é uma maneira de guardar histórias e acho que assim vão nascendo escritores, acho maravilhoso.

FM: Como formar novos leitores em tempos de redes sociais?
LW: O mundo sempre teve outras coisas a serem feitas, antes tinha que estar na roça capinando, depois falaram que o cinema acabaria com os livros, que a televisão acabaria com os livros. As redes, elas não nos roubam dos livros, mas sim de quase tudo na vida, hoje em dia o problema não é a rede social, o problema está em andar na rua e ficar só fotografando ou registrando em vídeo e deixar de aproveitar o momento em si. Não acho que isso seja o problema, mas sim ter a concentração e tempo para fazer aquilo que se deseja. Acho até que as pessoas escrevem mais hoje, por suas redes sociais, do que tempos atrás. As redes podem sim atrapalhar a leitura, se você quiser que isso aconteça. A gente como sociedade lê pouco e o exemplo é falho, o aluno acaba lendo o livro escolhido na escola, e se não gostar vai achar que ler é chato, se ele lesse com constância, saberia que de alguns vai gostar e outros não. Existem várias coisas para corrigir e não colocar a culpa nas redes sociais, elas atrapalham todas as coisas, até o trânsito.

FM: Qual seu livro preferido, entre os mais de 30 que já escreveu?
LW: Na verdade acho que estou pulicando meu 35º livro agora que será ‘A Casa das Sete Mulheres’ em quadrinhos, no final de setembro e não tenho um que goste mais, difícil dizer, alguns gosto mais da questão do tema. Por exemplo gosto muito do ‘O menino que comeu uma biblioteca’ que lancei há alguns anos e gosto dele porque ali consegui unir toda uma pesquisa histórica da Segunda Guerra Mundial com o que me encanta, orbita entre o trágico da guerra e o sonho e fantasia de um menino e avô que amavam livros.

FM: Quais são os planos para o futuro?
LW: Estou com um projeto grande agora, que se sair, se tudo der certo, é pra televisão. No momento, estou muito roteirista.

FM: Gostaríamos que indicasse:

  • Um autor: Somerset Maugham
  • Um livro infantil: A Árvore Generosa, de Shel Silverstein
  • Um livro adulto: Memórias de Adriano, da Marguerite Yourcenar
  • Um filme ou série inspirada/adaptada de livro: Game of Thrones
  • Um personagem de livro inesquecível: Capitão Rodrigo Cambará
  • Um lugar para ler: adoro ler no sol
  • Uma bebida para acompanhar a leitura: vinho
  • Um livro que marcou a infância: os livros de ficção infantil de Erico Verissimo, como ‘O urso com música na barriga’
  • Qual foi o primeiro livro que lembra de ter lido na vida: Eu amava livros mesmo antes de saber ler, desde pequena andava com livros embaixo do braço, lembro de um chamado ‘Os Desastres de Sofia’, que ganhei da minha madrinha.



Luana Schweikart

Luana Schweikart

Jornalista formada pela Unisc - Universidade de Santa Cruz do Sul. Repórter do Jornal Folha do Mate e da Rádio Terra FM

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