Água distribuída pelo caminhão é potável e pode ser consumida por humanos e animais (Foto: Júnior Posselt/Folha do Mate)
Água distribuída pelo caminhão é potável e pode ser consumida por humanos e animais (Foto: Júnior Posselt/Folha do Mate)

Venâncio Aires - A chuva desta semana renovou a esperança de muitas famílias do interior de Venâncio Aires. Além de trazer temperaturas mais amenas para a primavera da região, foi crucial para encher reservatórios de água de famílias da área rural do município.

Ainda assim, a Patrulha Agrícola – vinculada a Secretaria de Desenvolvimento Rural – tem recebido diversos pedidos de abastecimento pelo caminhão-pipa. Já são mais de 20 solicitações ao longo de dezembro, mas algumas não precisaram ser atendidas por terem a demanda atendida pela chuva.

Na quinta-feira, 11, o caminhão-pipa foi até Linha Campo Grande para levar água a família do agricultor Jair Weber, de 51 anos. Na propriedade, sofre com a falta de água até mesmo no inverno. Para lavar roupas e tomar banho, costumam aproveitar a água da chuva. “A água que vem do caminhão a gente deixa para consumir, fazer comida”, conta. “A gente já procurou, mas nessa propriedade não tem nenhum poço ou nascente com água para consumo”, afirma o produtor de tabaco.

Ele é casado com Teresinha Beleoniz Chaves Kist, de 38, que enfrenta problemas cardíacos, e tem um filho, Éric Jesus Weber, de 15. Há cerca de um ano e meio, eles contam com uma caixa de água de 20 mil litros, concedida pela Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Social. Antes disso, precisavam se deslocar por mais de 1,5 quilômetro a pé, de moto ou até de carroça, para buscar água. “A gente pegava a água em baldes ou galões. Precisávamos tomar banho de bacia, pois não tinha outro jeito. Era muito mais difícil”, comenta Teresinha.

A mãe de Teresinha mora nas proximidades. Maria Joaquina Chaves, de 71 anos, é aposentada e comemora a cada vez que o caminhão-pipa realiza o abastecimento. “Nós dependemos muito dessa água. Tenho problemas no joelho, o que dificulta minha locomoção, e era muito difícil ficar carregando água pra gente consumir”, lembra.

Teresinha Beleoniz Chaves Kist e o marido Jair Weber

Em anos anteriores, conforme o secretário de Desenvolvimento Rural, Ricardo Landim, o Município tinha amparo legal para realizar a distribuição de água potável para famílias por meio do acionamento de decretos de emergência. Agora, com a lei municipal nº 7.657, de 26 de novembro de 2025, é garantida a dessedentação de água para animais e consumo humano. “Dessa forma, a entrega de água está regulamentada, mesmo sem termos decreto vigente”, explica o titular da pasta.

O pedido de entrega de água deve ser feito junto à secretaria. “O produtor rural faz o pedido na secretaria. E a gente busca entender o que está ocasionando o problema, pedindo um histórico, para sabermos se tem poço ou não ou se o problema é em rede hídrica”, comenta.

Secretário Ricardo Landim destaca que são diversas frentes para apoiar produtores rurais

Critérios

Landim complementa que foi formada uma comissão municipal, envolvendo as secretarias de Desenvolvimento Rural; Habitação e Desenvolvimento Social; e Meio Ambiente, Sustentabilidade e Bem-Estar Animal; e Emater, para elencar critérios para a distribuição de água. “Nós já temos o esboço de uma lei que estabelece quem pode pedir. Sabemos que tem pedidos de pessoas que não precisam, e isso atrasa a distribuição para quem realmente está necessitando”, explica o secretário. Ele lembra que em alguns municípios, o Poder Executivo determina a cobrança de valores para a entrega da água, enquanto que em Venâncio o trabalho é totalmente gratuito.

Outras frentes

Além da entrega de água, a Secretaria de Desenvolvimento Rural também atua na abertura ou limpeza de açudes, entre outras frentes, inclusive para contemplar a irrigação de lavouras. “Nosso trabalho não para. Se não tivesse chovido no começo da semana, nossa situação seria muito pior. O La Niña segue atuando, então provavelmente teremos dias mais secos pela frente”, adianta Ricardo Landim.

Impactos na produção local

  • O chefe do escritório da Emater/RS-Ascar, engenheiro agrônomo Vicente Fin, revela que o período sem chuva entre o fim de novembro e começo de dezembro, junto com altas temperaturas, afetou a produção agrícola de Venâncio Aires.
  • Segundo ele, o milho sofreu impactos significativos, especialmente nos pés que estavam no período de florescimento e enchimento dos grãos. “T.ínhamos lavouras com perdas acentuadas e a chuva da semana auxiliou um pouco na recuperação”, detalha.
  • A cultura do feijão, que entra para a fase da colheita nos próximos dias, somou perdas em lavouras que encontravam-se no período intermediário da produção, com enchimento de grãos.
  • Por causa do sol forte, o tabaco também deve ter algum prejuízo. “Já tinha uma perda, no mínimo, de cerca de meia arroba ou até mais a cada 1 mil pés em função da falta de água. As plantas sinalizavam estresse hídrico”, observa.
  • Já para a cultura do arroz, a chuva – que iniciou na segunda-feira à tardinha e seguiu até a quarta – favoreceu a produção de arroz. “Restabeleceu o fluxo e foi possível um bombeamento para dentro dos quadros para a lavoura ter água por um bom período.”
Júnior Posselt

Repórter

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