No dia em que o tradicionalista Nico Fagundes faleceu – 24 de junho de 2015 -, uma prece, em seu nome, foi feita. E, hoje, a graça, o milagre da cura, é comemorado. Em junho de 2015, a família de Matheus Henrique Schneider, na época com 10 anos, vivenciou momentos de aflição após o menino sofrer uma queda do cavalo durante uma cavalgada em Linha Herval, quando o grupo ia em direção a Cruzeiro do Sul.
Filho de Lúcio Janir Schneider, 43 anos, e Márcia Rejane da Luz, 44, o menino foi encontrado pelos demais companheiros ao lado do cavalo e com muito sangue. Com a queda, Matheus sofreu um traumatismo craniano e foi encaminhado para o Hospital Bruno Born (HBB), em Lajeado.
Foram nove dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e diversas transfusões de sangue necessárias. “No quarto dia, os médicos falavam que as chances dele eram mínimas, só sobreviveria por um milagre”, recorda a mãe.
Os médicos falaram, inclusive, da possibilidade de doação de órgãos. “O acreditar fez muita diferença, a fé era muito grande. Por mais difícil que seja, a gente precisa acreditar”, reforça Márcia.
Ela lembra que viu a reportagem sobre o falecimento de Nico Fagundes e, rezando ajoelhada, ao lado de todos os aparelhos que mantinham o filho vivo, a mãe fez um apelo. “Pedi que Nico Fagundes erguesse o chapéu e Nossa Senhora Aparecida abrisse seu manto sobre ele”, conta. A mãe prometeu que, se o filho se recuperasse, iria até o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo, levar o chapéu que ele usava no dia do acidente.
Márcia e Lúcio se revezavam de joelhos e mãos dadas ao lado do filho, que ficou sete dias em coma. Os pais se revezavam entre o hospital e a casa para ver a filha caçula, Valenthina, que durante o dia estava na escola e, à noite, com os avós.
Recuperação
Depois que acordou, Matheus começou a mexer os dedos aos poucos e não falava, porque ainda estava intubado. Após sair da UTI, ficou por mais 10 dias no hospital. “Um médico que nos atendeu olhou para o Matheus, para o laudo e sentou, porque não acreditava, disse para agradecermos pela recuperação”, recorda. O menino teve que reaprender a caminhar, pegar os talheres e completar as palavras. “Foi muito difícil no começo, mas fechava meus olhos e pedia para Nossa Senhora nos iluminar”, ressalta.

Márcia afirma que a corrente de oração foi muito grande e importante para fortalecer a todos. Os vizinhos da Comunidade de Linha Travessa se reuniam para rezar, assim como os companheiros do CTG Erva-Mate, do qual eles faziam parte. “As professoras dele também foram incansáveis. Eu levava ele para a escola logo que deu alta”, recorda.
Durante todo o período de recuperação, Matheus ganhou muitos cartões e imagens de santos, que guarda até hoje com muito carinho. No jardim da casa da família, Márcia também fez uma gruta com a imagem de Nossa Senhora Aparecida e de Santa Rita.
Hoje com 16 anos, a única sequela que Matheus ficou foi a perda de audição de um ouvido. Ele trabalha na lavoura com o pai e estuda na Escola Frida Reckziegel, em Vila Palanque. O jovem também faz curso de mecânico de manutenção em máquinas industriais no Senai.
Ele é responsável pela venda de toda a silagem e viaja pra diferentes cidades. A intenção do jovem é seguir na atuação do meio rural e ele se diz grato pela nova chance que teve. “Doe sangue, porque isso não se compra, e acredite nos sonhos, porque eu acreditei. Estou vivendo!”, declara.
Promessa
No dia 13 de maio, a família foi até o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo. A viagem foi feita em uma van que levou só os membros da família. Durante os quase seis anos que se passaram, a mãe guardou o chapéu para ser colocado pelo próprio Matheus na sala de promessas do santuário.
Ela conta que até chegou a pedir para conhecidos levarem, já que devido às dificuldades financeiras, não poderia fazer a viagem logo. “Eles disseram que ia chegar nossa hora de ir e realmente chegou. Agora que tudo já foi pago, que não foi pouco, chegou a hora de irmos. Sonhei muito com esse dia e aconteceu, foi lindo e emocionante”, relata.
Matheus acendeu uma vela de 1,81 metro, da altura dele, a família assistiu à missa – que foi também transmitida pela TV Aparecida – e levou o chapéu até a sala de promessas. A família Schneider deve voltar mais vezes ao santuário.

“Agora, nossa ligação se torna eterna”
Por Carlos Dickow
Nesta sexta-feira, o sobrinho de Nico, Neto Fagundes, foi contatado pela reportagem da Folha do Mate. Neto foi companheiro de palco do tio durante muitos anos, na apresentação do Galpão Crioulo, tradicional programa transmitido pela RBSTV.
Ao tomar conhecimento da história de Matheus, ficou emocionado. “Eu tenho um filho Mateus também. Então já começa uma coisa muito forte, uma ligação emocional e sentimental que já mexeria tranquilamente com o meu coração”, declarou ele.
Agora, de acordo com Neto, “a história vai ainda mais longe”. “Um menino, que sofre um acidente, e ao mesmo tempo, o pedido de bênção da mãe e da família. Isso chega de uma forte emocionante para todos. Eu, que convivi tanto, como sobrinho, admirador e parceiro do tio Nico, sei de tantas histórias emocionantes, e esta é uma que, com certeza, vai ficar guardada no coração de toda a nossa família”, comentou.
O tradicionalista destacou que a ligação da família Fagundes com Venâncio Aires sempre foi muito forte. “A gente fez o programa de despedida do tio Nico aí em Venâncio, neste lugar que é a Capital do Chimarrão. E o nome original de Venâncio Aires é Faxinal dos Fagundes. Agora, eu acredito que a nossa ligação se torna eterna”, disse.
Histórias emocionantes
Neto afirmou que se lembra de cenas fortes e emocionantes relacionadas ao tio Nico, “mas esta, certamente, é uma das mais bonitas, pois o Matheus retribuiu esta vivência especial da recuperação dele”. O sobrinho afirmou que a história o emocionou tanto quanto o dia do falecimento do tio. “A saída do corpo dele do Palácio Piratini, com os Cavaleiros da Paz todos reunidos na frente, com o cavalo dele, mexeu muito comigo”, recordou.
“Agradeço, em nome de toda a família, por esta história que mexe e me emociona. A gente vai estar sempre junto. A gente tem que respeitar a vida, pois ela vem e dá uma aula como esta aí. É uma coisa incrível.”
NETO FAGUNDES – Tradicionalista, sobrinho de Nico Fagundes
Quem foi
• Antonio Augusto da Silva Fagundes – nascido em Alegrete, no dia 4 de novembro de 1934, e falecido em Porto Alegre, no 24 de junho de 2015 -, era conhecido como Nico Fagundes. Foi um poeta, compositor, ator, advogado e apresentador de televisão.
• Filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes, formado em História, pós-graduado em História do Rio Grande do Sul e mestre em Antropologia Social. Todos os seus cursos foram realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
• Reconhecido na cultura gaúcha, premiado diversas vezes como poeta, novelista, compositor, autor e ator de teatro, televisão e cinema. Apresentou pela RBS TV (afiliada da TV Globo) o programa Galpão Crioulo, com uma das maiores audiências da televisão gaúcha.
• O Canto Alegretense, canção cujos versos são de sua autoria, é mais cantado que o próprio hino de Alegrete. Era respeitado como autoridade em folclore gaúcho, história do Rio Grande do Sul, antropologia, religiões afro-gaúchas, indumentária do Rio Grande, cozinha gauchesca e danças folclóricas.
