
Jorge Luís Flores, o cantor das ruas, é apaixonado por música e virou figura conhecida por solta a voz enquanto caminha pela cidade.
Na história musical, muitas são as canções que ficaram conhecidas não exatamente pelos nomes delas, mas sim por algum verso ou referência. ‘My heart will go on’, eternizada na voz de Céline Dion, por exemplo, virou ‘a música do Titanic’. No Brasil, nem todos sabem que o clássico de Caetano Veloso, no qual ele canta ‘sem lenço, sem documento’, na verdade se chama ‘Alegria, alegria’.
Assim como ‘Pra não dizer que não falei das flores’, de Geraldo Vandré, ficou conhecida como a que diz ‘caminhando e cantando e seguindo a canção’. Pois, em Venâncio Aires, caminhar, cantar e seguir a canção é uma prática que cabe perfeitamente para uma figura que faz isso todos os dias. Trata-se de Jorge Luís Flores que, por aqui, pode não ser conhecido pelo nome, mas quem já se deparou com ele, o chama apenas de ‘o cantor das ruas’.
Marchinhas de Carmen Miranda e a efervescente década de 1970
Jorge Luís Flores nasceu em Candelária, há 56 anos. Criado no entorno de um rádio muito antigo, quase uma ‘caixa de abelha’, cresceu vendo os pais, Erson e Rosentina, ouvindo sambas velhos, das décadas de 1930 e 1940. Era o que tocava na Rádio Record, de São Paulo, que eles sintonizavam com uma ‘gambiarra’, um fio extra, puxado da antena. Além de ouvinte, Erson também era músico amador e adorava tocar violão. “O pai vivia tocando e cantarolando as músicas da Carmen Miranda. E eu gostava de ouvir”, recorda o industriário.
Mas, além das marchinhas da ‘pequena notável’, outras canções preencheram a infância de Jorge, em meados dos anos 1970, uma década que viu surgir grandes expoentes na música mundial e nacional. Foi nesse período que ele recebeu as influências que carrega até hoje. No repertório, estão nomes como Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Beto Guedes, Belchior, Sá & Guarabyra e Agepê. “Minhas favoritas são ‘Sol de primavera’, do Beto Guedes, ‘Palco’, do Gilberto Gil, ‘Milagre do amor’, de Luiz Guedes e Tom Roth, e ‘Apenas um rapaz latino americano’, do Belchior”, conta, citando algumas das canções que mais lhe marcaram e gosta de cantar no dia a dia.
Além dos clássicos brasileiros, é um grande fã de artistas internacionais, como Elton John, Bee Gees, Bonnie Tyler, Tina Turner e Beatles. “Eu não sei inglês, não. Esses eu só canto enrolando a língua, mas todos têm músicas maravilhosas.”
Três quilômetros de cantoria
Jorge Flores relata que o hábito de caminhar e cantar começou ainda criança, nas ruas de Candelária. E seguiu na adolescência e depois de adulto, pois já teve muitas andanças na vida, morando em várias cidades. “Quando morei em Vera Cruz, caminhava todo dia três quilômetros pra chegar na fábrica onde trabalhei. E sempre ia cantando. ‘Lá vai o cantor das ruas’, as pessoas diziam”, revela. E assim continuou por Santa Cruz do Sul, Garibaldi, São Leopoldo e até Tramandaí, no Litoral Norte. “Eu tenho medo do mar, mas adoro praia”, revela, entre risos.
“A rua é o meu palco”
Jorge Flores mora em Venâncio Aires há 11 anos, desde que se encantou, nas palavras dele, pela “terra do chimarrão”. Não é casado, nem tem filhos. “Moramos só eu, Deus e meu 3 em 1”, observa, se referindo ao aparelho Sony dos anos 1990 que tem toca-discos, entrada para CD e fita K7. Nele, também gosta de acompanhar a programação da Rádio Terra FM 105.1.
Em casa, a cantoria acontece no chuveiro e, no trabalho (é balanceiro em um frigorífico de Lajeado), canta em pensamento. “Gosto mesmo de cantar caminhando. Acho que ser cantor sempre foi um sonho, então a rua é meu palco.” Perguntado sobre as reações das pessoas que o veem cantando por Venâncio Aires, diz que já aconteceu de alguns se assustarem, mas daí contorna com uma brincadeira. “Não sou bandido, não. Só sou alegre.” Na maioria das vezes, os transeuntes lhe direcionam sorrisos e, entre os que passam por ele com frequência, até estranham caso o flagrem em silêncio. “Às vezes, a voz tá meio rouca. Só aí que não canto. Se não, tô sempre cantando e sorrindo”, o que é fato, já que, durante a entrevista, sorriu o tempo todo.
Ainda que tenha na memória um repertório imenso de músicas e as cante do início ao fim, Jorge diz que é um homem de pouco estudo, portanto poucas palavras. Mas, quando precisa definir a importância da música na vida dele, praticamente vira um poeta e abre ainda mais o sorriso. “Cada música tem uma história e às vezes essa história se mistura com a nossa. Cantar é levar boas energias e alegria para as pessoas. Quando canto, minha alma respira melhor.”
“Cantar é levar boas energias e alegria para as pessoas. Quando canto, minha alma respira melhor.”
JORGE LUÍS FLORES – Industriário