Maiéle Aline dos Santos afirma que, se tornar rainha da Fenachim, é um sonho carregado desde a infância (Fotos: Júnior Posselt/Folha do Mate)
Maiéle Aline dos Santos afirma que, se tornar rainha da Fenachim, é um sonho carregado desde a infância (Fotos: Júnior Posselt/Folha do Mate)

“Ainda estou tentando processar, me permitindo chorar e sorrir”. A declaração é da nova rainha da Festa Nacional do Chimarrão (Fenachim), Maiéle Aline dos Santos, 29 anos. Ela recebeu a reportagem da Folha do Mate e Terra FM neste domingo, 9, na casa onde mora com a mãe, no bairro Cruzeiro. O sorriso estampado no rosto retrata a felicidade de carregar o título de representante do maior evento de Venâncio Aires.

Conforme estudante de Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a caminhada até a passarela do Ginásio Poliesportivo foi marcada pelos mesmos pilares que sustentam o sonho de ser médica: a comunicação, empatia e superação. Como um dos diferenciais no discurso de apresentação, Maiéle usou a Língua Brasileira de Sinais (Libras), que aprendeu em uma disciplina na faculdade, para reforçar a mensagem de inclusão. Durante o concurso, o tema de suas falas foi de ‘ponte’ – conectando Porto Alegre, onde estuda e reside durante a semana, a Venâncio Aires, onde estão suas raízes.

“Eu acredito na ponte entre sonhos, na conexão com pessoas, entre culturas e gerações. Uma ponte que liga duas cidades, mas também que conecta mãos e vozes que falam”, disse. “Assim como eu consigo ir a Porto Alegre, eu consigo levar Venâncio comigo. Quis fazer esse fechamento, mostrando que uma soberana precisa fazer isso.”

Maiéle cresceu no bairro Coronel Brito e estudou na Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Crescer. Na área de concursos, Maiéle já é detentora de outros títulos. Em 2009 recebeu a faixa de Menina Ternura e em 2010 foi Mulata Café, concursos promovidos pela Associação Négo Futebol Clube. Além disso, foi segunda princesa da Associação de Moradores do bairro Coronel Brito. Por causa da ligação com Négo, sempre teve como principal fonte de inspiração Fernanda Landim – que participa até hoje ativamente das atividades da sociedade –, e foi a princesa da 11ª Fenachim, realizada em 2010.

Além da Fenachim, Maiéle é detentora de títulos, entre eles, Mulata Café 2010

Cultivando o sonho de carregar a coroa da Fenachim desde menina, ao passar dos anos, sentiu que não estava preparada e elencou outras prioridades. O foco se voltou para outro desejo que carrega desde a infância: ser a primeira médica da família.

O caminho foi árduo e marcado por um passo de cada vez. Antes da Medicina, participou de uma missão religiosa que, segundo ela, foi crucial para desenvolver a oratória e habilidade de comunicação. “A gente batia de porta em porta. Isso fez minha habilidade de comunicação evoluir”, contou.

Ela tentou Enfermagem na Univates em 2015, mas o sonho da medicina falou mais alto. Em 2018, trabalhava como costureira durante o dia em Venâncio Aires e fazia cursinho pré-vestibular à noite, em Santa Cruz do Sul. Foram quatro anos de estudo, sendo dois presenciais e dois online. Nesse meio tempo, ela conheceu Ana Flávia Dornelles de Ávila – princesa da 17ª Fenachim – e se tornaram amigas.

Aprovação

A aprovação na Medicina não veio de forma imediata. Após prestar o vestibular no fim de 2022, Maiéle foi chamada em janeiro de 2023, para uma vaga remanescente, enquanto trabalhava na empresa Madrugada Alimentos, uma das empresas que ela representou no concurso. “Eu estava trabalhando quando vi o e-mail. Nem esperei chegar em casa, liguei por vídeo para minha família, chorando. Tive uma das melhores sensações da minha vida. A mesma que recebi quando fui chamada como rainha”, detalhou.

Atuação

Segundo ela, que está no 6º semestre da faculdade, de 12 no total, o que mais fascina dentro da área é a possibilidade de mudar a vida das pessoas. Entre as especialidades que mais admira dentro da Medicina é da Ginecologia e Obstetrícia. Atualmente, Maiéle está no ciclo clínico, que é onde os estudantes aplicam o conhecimento teórico em situações práticas com supervisão de médicos e residentes. Os atendimentos ocorrem no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e na Unidade Básica de Saúde (UBS) Santa Cecília, também na capital.

Inscrição

Maiéle conta que só decidiu se inscrever após ler “detalhe por detalhe”, segundo ela, do regulamento deste ano. “Quando eu vi que foi divulgado, pensei: se esse regulamento me deixar estudar fora, é pra mim. Quando eu li a cláusula que dizia que era possível se ausentar alguns dias da cidade a fins de estudos, eu senti que o regulamento estava escrito para eu poder participar.”
Com 29 anos, esta era oportunidade de concorrer, devido ao limite de idade. “Eu me inscrevi na sexta-feira e as inscrições fechavam na segunda. Eu não queria ter a sensação de chegar no fim da vida e pensar que nunca tinha tentado.”

Conciliando a coroa e os estudos

A grande dúvida da comunidade – e uma das primeiras feitas pelos jurados – é como a estudante da UFRGS vai conciliar a agenda acadêmica com os compromissos do reinado. Maiéle, que também é a representante da turma na faculdade, garante que a disciplina é essencial para cumprir todos os compromissos. “Antes de me inscrever, eu organizei minha agenda de provas. Sou muito disciplinada e tenho muita energia. Se precisar vir na semana, eu virei. Se precisar voltar, eu voltarei. Eu sempre digo que se a gente quer que alguma coisa seja feita, peça pra quem tem compromisso. E eu me entrego de verdade às coisas que faço. Quando estou na faculdade, me entrego lá. Quando estou aqui, me entrego aqui.”

Legado

Durante a caminhada para a festa, o objetivo da rainha eleita é deixar um legado que une simplicidade e conexão. “Tenho muito orgulho das minhas origens. Várias pessoas me disseram que eu seria a ‘rainha do povo’. Quero que, quando lembrarem de mim, lembrem com carinho de alguém que foi a cara da Fenachim.”

Trio de representatividade

  1. Ao lado de Maiéle, o trio da Fenachim 40 Anos é composto pelas princesas Taliana Beatriz da Silva e Fátima Tais Neitzel. A rainha celebrou a escolha das duas, destacando a força da representatividade da corte.
  2. “A Taliana, moradora de Linha Mangueirão, traz a força da mulher do interior e da agricultura familiar, com uma potência na voz. A Fátima traz uma elegância e um sorriso que encantam, representando todas as pessoas que, mesmo não nascendo aqui, escolheram Venâncio Aires como seu lar”, avaliou Maiéle.

“Quero ser a soberana que será lembrada não apenas pela coroa, mas pela essência.”

MAIÉLE ALINE DOS SANTOS
Rainha da 18ª Fenachim

Presente de aniversário para dona Marisa

Marisa elogia a garra da filha, que sempre soube onde queria estar

A comemoração foi em dose dupla no último sábado: a conquista do título de rainha também foi o presente de aniversário da mãe, Marisa da Silva Santos, que completou 56 anos, transformando a noite em celebração duplicada para a família.

“Eu sempre tive certeza que ela estaria no trio de soberanas. Coração de mãe sente isso”, enfatizou Marisa. Segundo ela, a filha amadureceu bastante dentro do concurso, tanto pelo convívio com as demais candidatas, mas também pela dedicação integral. “No desfile, quando ela se apresentou, eu fiquei emocionada”, resumiu. No momento do anúncio oficial, Marisa conta que o coração disparou e o sentimento foi um misto de alegria e emoção.

Além de Maiéle, dona Marisa tem outras duas filhas. No trabalho, a mãe aproveitou para compartilhar a caminhada da filha com os colegas e amigos. “Todos elogiavam e diziam que a fala dela trazia uma emoção muito forte”, conta.

Assim como toda mãe, Marisa tem o sentimento de dever cumprido, por ter educado a filha – considerada uma amiga para todas as horas –, e que trilhou o caminho do bem. “Desde pequena ela sabia onde queria chegar. Sempre inspiramos ela a buscar pelas coisas certas e acreditar naquilo que queria.”

Júnior Posselt

Repórter

Acompanha assuntos voltados ao interior e à educação.

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