Provavelmente, o skate nunca esteve tão em evidência como nos últimos dias. A modalidade é uma das novidades das Olimpíadas de Tóquio, e uma paixão para muitos brasileiros. Não é por acaso que, já na estreia da competição, o Brasil fez história. Kelvin Hoefler abriu o placar de medalhas brasileiras na edição deste ano dos Jogos Olímpicos com a prata no skate street. Na sequência, também com a prata, a caçula da equipe, Rayssa Leal, se tornou a brasileira mais jovem a subir em um pódio olímpico, com apenas 13 anos.
Enquanto a competição esportiva mobiliza o mundo, o Na Pilha! aproveitou para colocar o assunto em pauta e mostrar que skate, sim, é um esporte para todo mundo.
Guilherme Adam Bencke, 18 anos, é um apaixonado por skate. Há 9 anos, ele começou andar com a gurizada da vizinhança, no bairro Gressler, e aos poucos foi conhecendo mais e até participou de campeonatos. Quase todos os dias, pratica o esporte na pista no Parque do Chimarrão, em Venâncio Aires. “O skate é tudo na minha vida”, afirma.
Mesmo quando andava no skate de plástico, no início, Gui recorda que os pais apoiaram o esporte. Com o tempo, foi melhorando o skate e as performances. Antes da pandemia de Covid-19, ele participou de vários campeonatos e conquistou alguns troféus. “É muito bom participar desses campeonatos, já fui para vários municípios do estado e faço muitas amizades.”
Para ele, a possibilidade de conhecer novos lugares e pessoas é a melhor do esporte. “Tenho amigos de todos lugares, que fiz pelo skate ou em campeonatos. E nas próprias competições não tem rivalidade, é um ajudando o outro, incentivando o outro, é tudo na amizade, muito legal”, destaca.
DE CARONA NO SKATE
O jovem utiliza o skate para tudo, como meio de locomoção: para ir para a Escola Estadual de Ensino Médio Cônego Albino Juchem (CAJ), onde estuda, para as aulas no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), ao mercado e a outros lugares.
Nessas andanças pela cidade, o guri já caiu alguns tombos e, por isso, coleciona arranhões. “Tenho cicatriz por tudo, meus joelhos e cotovelos estão acostumados com as batidas”, brinca. Há alguns anos, quando ele estava indo de sua casa, no bairro Gressler, para o parque, caiu no asfalto e acabou machucando a cabeça. “Faz parte das tentativas de novas manobras ou até ao embalar, as rodas podem pegar em algo, mas eu não largo meu skate”, garante.
Ele lamenta que ainda exista um pouco de preconceito com quem anda de skate, pois as pessoas marginalizam isso. Segundo ele, andar de skate não é coisa de ‘malandro’. “É bom que o skate virou uma nova modalidade nas Olimpíadas, assim as pessoas começam a valorizar mais o esporte”, considera.
Estilo skatista de ser
Para o skatista Guilherme Bencke, todos podem praticar o esporte, independente da idade, sexo, peso ou estilo. Ele explica que tem gente que gosta de andar ‘arrumadinho’ enquanto outros preferem os confortáveis moletons. “Tem gente que anda de terno e gente que anda de moletom e todos acham ‘massa’ os estilos. Apoiamos a forma como o outro se sente confortável.”
Nos pés, o adolescente ressalta que é melhor andar de tênis. Ele esclarece que existem marcas específicas para a prática, mas que qualquer tênis que dê segurança entre a pessoa e o skate pode ser usado. “Eu brinco que o skate tem que gostar do tênis. Às vezes, demora para um se acostumar com o outro.”
“Sinto muita liberdade quando sinto o vento batendo no rosto e a velocidade. É assim que consigo esquecer os problemas.”
GUILHERME ADAM BENCKE
Skatista
YouTube Gui Bencke
Instagram @guibencke_fb @guibenckeskt
Equipamento
Segundo Gui, há skates de diversos preços e materiais. O skatista avalia que existem skates bons de todos valores. “Para montar esse que tenho hoje, custa em torno de R$ 1,2 mil. Mas, para quem está iniciando, é possível comprar bons skates por uns R$ 150”, expõe. A questão de lixa, rolamento, shape, truck e outros varia de acordo com o nível da pessoa que anda com o skate.
Estudante de Ensino Médio, Gui projeta fazer graduação em Design. O objetivo é se especializar na área da internet e trabalhar com vídeos específicos do skate. “Tem muito isso pelo mundo, pessoas que trabalham gravando skatistas e os campeonatos. Quero tentar isso”, afirma. Hoje em dia, ele já faz vídeos amadores e divulga no canal do YouTube e no Instagram. “Gosto de filmar as pessoas ou eu mesmo andando, e depois postar. Acho muito legal.”
Para o estudante, a produção para a internet é o que o ajudou durante a pandemia, quando não tinha aula presencial. “Eu não podia ir ao parque para andar, estava tudo fechado. Então usava a internet para essa paixão”, diz o menino, que também faz fingerboard (skate de dedo).
Gui conta que esse hobby é uma brincadeira que começou há anos em casa, com um miniskate coordenado pelos dedos. Atualmente, existem competições on-line da modalidade. “Foi minha terapia no isolamento. Participei de competições e uma eu até ganhei, tinha mais de cem competidores.”
Pista
Em Venâncio Aires, existe apenas uma pista de skate, que é no Parque do Chimarrão. Gui Bencke afirma que a pista precisa de reformas e acredita que o município deveria ter mais uma pista de skate. “A pista que temos é feita para manobras mais elaboradas, já vi muito iniciante ir lá, não conseguir andar e depois desistir. Deveríamos ter uma pista mais básica e em outros pontos do município”, sugere.
Skatistas brasileiros nas Olimpíadas
• O skate é uma das novas modalidades esportivas dos Jogos Olímpicos de Tóquio, que seguem até dia 8.
• Foi no skate que o Brasil garantiu a primeira medalha desta edição das Olimpíadas: Kelvin Hoefler conquistou a prata na categoria skate street.
• Outro feito histórico é mérito da maranhense Rayssa Leal, de apenas 13 anos. Ela é a brasileira mais jovem que já disputou os jogos olímpicos e a mais nova a conquistar um lugar no pódio. Conhecida como Fadinha, Rayssa garantiu medalha de prata no skate street.
• A delegação brasileira ainda contou com Felipe Gustavo, Giovanni Vianna, Leticia Bufoni e Pâmela Rosa, no skate street.
• Já Dora Varella, Isadora Pacheco, Yndiara Asp, Pedro Barros, Pedro Quintas e Luiz Francisco competem no skate park, cujas provas ocorrem nesta terça e quarta-feira.
Moda skatista
Os skatistas (skaters) são uma tribo urbana muito popular que teve origem na década de 1960, nos Estados Unidos, e possuem uma forma particular de se vestir. A designer de moda Luana Sehn explica que as tribos urbanas são grupos de subculturas que compartilham os mesmos hábitos, valores culturais e estilo próprio de vestimenta – desde boné, calças largas e tênis apropriado para a prática desportiva – além de ideologias políticas semelhantes.
A tribo dos skatistas tem estilo próprio com traços de uma cultura subversiva, com influência do movimento punk e do surf. As roupas fazem parte desse estilo que busca ser uma forma de contestação cultural e social. “Eles chegaram nessa vestimenta não exatamente pela prática do esporte, conforto ou algo assim, pois geralmente não são peças muito apropriadas para o esporte. Mas por um conjunto de ideologias de grupo muito pelo fato de ir contra os padrões de sociedade”, esclarece Luana.
- Streetwear
Os skaters classificam seu estilo como único e possuem esse viés para o streetwear (estilo das ruas) por meio de calças jeans largas, cintos, bonés, cores ousadas e inusitadas com signos que remetem à contracultura. “Visualmente, o skate se apresenta como além de um esporte, como um movimento de expressão, diferente dos esportes mais tradicionais, os quais remetem a um espírito de equipe e competição. As roupas são bem diferentes das dos esportistas tradicionais, que utilizam uniformes de equipes”, destaca a designer de moda.