Mato Leitão: paixão pela estrada que transcende gerações

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A relação de Jurandir Theisen, 42 anos, com os caminhões começou ainda na infância. Filho de motorista e dono de transportadora, ele recorda que a primeira atividade que fazia ao sair da escola durante a adolescência era ir para uma rampa de lavagem próxima do colégio para auxiliar nos afazeres relacionados ao veículo. Além disso, ele costumava viajar muito nas férias com o pai Enio Theisen, que já faleceu.

Ao completar 18 anos fez a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e começou a trabalhar em uma transportadora de Mato Leitão. Depois disso, passou por mais duas empresas, também do município, até que, aos 24 anos, teve a oportunidade de adquirir o primeiro caminhão, com o apoio de uma empresa da Cidade das Orquídeas, na qual já havia trabalhado como empregado e seguiu prestando serviços. “É uma paixão que tenho desde criança. Sempre que podia, viajava com o pai. Ele foi uma inspiração para mim”, destaca.

Com o passar do tempo, Jurandir passou a investir na carreira de autônomo e em 2010 abriu, junto da esposa Simone Schwarzbold, 45 anos, a empresa própria. Atualmente, o casal tem uma transportadora em Mato Leitão que conta com dez caminhões na frota. Um dos motoristas é o filho mais velho de Jurandir, Matias Theisen, 24 anos. “Aproveito a oportunidade para parabenizar os motoristas da minha equipe e os demais profissionais da área”, observa Jurandir.

Por causa da burocracia que envolve o cuidado do negócio próprio, Jurandir parou de dirigir há cerca de um ano. Contudo, o amor pela estrada permanece. “Se eu pudesse viajar, iria. Mas agora além da transportadora temos uma oficina para fazermos a manutenção nos nossos veículos e de terceiros. Preciso estar mais presente”, observa.

A área de atuação da empresa, que tem o nome fantasia de Transfoguinho Transportes – uma homenagem ao pai de Jurandir, que tinha uma transportadora com esse nome -, abrange diversos municípios do Rio Grande do Sul, em especial Agudo e Caçapava do Sul, e cidades dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Mato Grosso.

Família

A profissão de Enio, além de inspirar o filho, refletiu na vida dos netos Matias e Luan Theisen, 15 anos. Aos 24 anos, Matias já é motorista de caminhão há três anos. A carteira para dirigir o veículo foi feita aos 19 anos. Ele conta que a relação com essa profissão também iniciou na infância e assim como Jurandir ele fazia muitas viagens de caminhão nas férias, junto do pai. “É uma paixão. Tenho inspiração no meu pai e no meu avô. Só não paro, porque gosto”, salienta.

O filho caçula de Jurandir também pretende seguir carreira como motorista. Com 15 anos ele também aproveita os períodos de férias para viajar com o irmão. Entretanto, a infância do adolescente também foi marcada por passar muito tempo na estrada. Luan compartilha que ainda bebê, com 1 ano e 7 meses, já fazia viagens junto com os pais. Até os cinco anos, ele passava a maior parte do tempo no caminhão, junto deles.

Enio, a inspiração dos filhos e netos, durante uma das viagens que realizou (Foto: Arquivo pessoal)

Dificuldades

Apesar de gostarem muito da profissão, Jurandir e Matias comentam que a vida do caminhoneiro tem diversas dificuldades. Eles mencionam o fato de estar longe do convívio com a família, muitas vezes em datas comemorativas, não ter o conforto da casa para atividades simples, como fazer refeições, dormir e tomar banho, e de precisar estar sempre na correria, apenas com data e horário de embarque, mas sem previsão de retorno. “Muitos olham os caminhões e acham que é bonito e fácil, mas não sabem o desafio que é se manter nessa profissão”, comenta Jurandir.

“Se colocar na ponta do lápis, boa parte do tempo é passada na estrada. Algumas pessoas têm a ideia de que o caminhoneiro conhece muitos lugares bonitos, mas isso na verdade nem sempre acontece. Às vezes, você está tão tenso para entregar uma carga, cumprir o horário, que não tem como aproveitar. Não vamos passear. A estrada é imprevisível”, pondera Matias. “É uma profissão que muitos não valorizam. No início começamos com caminhões precários. Eu pensei em desistir duas vezes, mas o pai não deixou que eu fizesse isso”, acrescenta Jurandir. Para os dois, a relação com o caminhão é algo que ‘está no sangue’.

Relação com o caminhão

Além de Jurandir, os outros dois filhos de Enio, Júlia Theisen e Juares Theisen também mantiveram a relação com o caminhão. Júlia e o marido Fábio Isnar Freytag têm uma transportadora. Já Juares voltou a ter envolvimento com a área, quando fez a compra de um caminhão. Para os três, a inspiração e o amor por essa profissão surgiu a partir do exemplo de Enio e permanecem muitos vivos.



Taís Fortes

Taís Fortes

Repórter da Folha do Mate responsável pela microrregião (Mato Leitão, Passo do Sobrado e Vale Verde) e integrante da bancada do programa jornalístico Terra em Uma Hora, da Terra FM

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