Enfrentar o trânsito, dirigir motocicleta na chuva ou no calor e ter a responsabilidade de entregar as encomendas faz parte do dia a dia de Letícia Janaína Julião Fagundes, 32 anos, e Jéssica Fernanda Bandeira, 27 anos. Elas atuam como ‘motogirls’ e fazem tele-entregas no município junto com motoboys.
Letícia já ajudava o marido, que é motoboy, quando ele tinha muitas entregas, mas há um ano ela, que trabalhava em uma lancheria, trocou de ramo e assumiu o direção de uma moto. Ela lembra que a primeira vez que fez tele-entrega, era um dia de chuva e o marido não estava conseguindo fazer todas, então pediu ajuda. “Fiz de carro, não sabia os endereços então ligava para ele me ajudar. Depois, quando vi já estava fazendo tele de moto, foi natural o processo”, conta.
Jéssica não trabalhava, mas o marido também era motoboy e sofreu um acidente ano passado, por isso, ela precisou assumir o cargo. “Tinha que sustentar a família.” No primeiro dia de trabalho, ela ficou com medo, pois não conhecia os nomes das ruas e fez poucas tele-entregas, mas com o tempo pegou jeito e se enturmou. “Hoje eu não troco meu serviço”, garante Jéssica.
Além do ramo de alimentação, as mulheres também fazem entregas para farmácias. “É um ramo que cresceu muito, as pessoas pedem mais tele-entregas e vi que agora, na pandemia, muitas pessoas começaram a trabalhar com isso, tem bastante motoboy em Venâncio”, observa Jéssica, que atua na profissão há cerca de um ano.
REPERCUSSÃO
Letícia e Jéssica ficam felizes com o retorno dos clientes e contam que a maioria fica surpresa em ver uma mulher atuando no ramo. “Alguns falam quando chegamos na casa, ‘nossa é uma mulher’, outras pessoas perguntam se não é perigoso e quase todo mundo é gentil e deseja um bom trabalho”, destaca Letícia.
Elas comentam que o público feminino gosta de receber tele-entregas de mulheres, algumas até comentam que se sentem mais seguras, e que é inovador. “Sempre digo que nós, mulheres, vamos dominar o mundo, porque assim como ser entregador, muitas outras profissões eram ‘para homens’ e hoje nós podemos trabalhar com o que queremos”, enfatiza Jéssica.
HISTÓRIAS
Não importa o tempo, elas trabalham no calor, frio e chuvas, por isso além da moto, capacete, bolsa e celular, a capa de chuva também é uma aliada das motogirls. “Pegamos chuva, daí tiramos a capa, pegamos vento, depois fica calor. Enfrentamos de tudo”, completa Letícia.
Também enfrentam as questões normais do trânsito, como movimento nos horários de pico, que segundo elas, o principal é o meio-dia, e problemas no veículo. “Nós duas já tivemos pneus furados no meio de trabalho. As primeiras vezes dá medo, porque temos que ligar para um colega e esperar a ajuda chegar, mas depois já sabemos lidar com a situação”, diz Jéssica.
Situações delicadas também fazem parte do trabalho delas, pois algumas pessoas pedem lanches e quando demora para chegar colocam a culpa nas entregadoras, ou não estão em casa e daí elas precisam dar um jeito de entregar. “Acontece muito de pessoas pedirem e quando é hora de entregar ela ainda não está em casa. Por isso, sempre pedimos para que mantenham o celular atualizado, pois assim podemos ligar e resolver”, frisa Letícia.
CURIOSIDADES
- Para atuar como motogirls elas precisam ter curso de motofretista, além da Carteira Nacional de Habilitação para moto (CNH A);
- Precisa conhecer o nome das ruas e bairros;
- As motogirls recebem por tele-entrega;
- Elas se organizam e possuem estabelecimentos pré-determinados para atuar
- Letícia e Jéssica fazem parte de um grupo de motoboys chamado Thander, que conta com cerca de dez pessoas que, juntas, se organizam para realizar as tele-entregas no município.
“Assim como todo serviço, enfrentamos coisas boas e ruins. Mas o lado bom é poder fazer o próprio horário, o próprio salário, porque quanto mais trabalhamos, mais ganhamos e ainda estamos sempre na rua conhecendo pessoas e lugares. É gratificante.”
LETÍCIA JANAÍNA JULIÃO FAGUNDES
Motogirl