
Naturais de Venâncio Aires, os professores aposentados Mariane Frohlich Lagemann, 60 anos, e o marido Gerson Volney Lagemann, 65 anos, moram há 38 anos em Joinville, Santa Catarina. Antes disso, moraram em Porto Alegre após o casamento. No entanto, sempre retornam à Capital do Chimarrão para rever familiares e amigos. “Justamente no Natal, sempre estamos em Venâncio Aires, e me vêm as lembranças dos Natais passados e as emoções florescem”, compartilha Mariane, que enviou o texto com suas memórias de fim de ano para a Folha do Mate. Confira o texto a seguir:
“Quando chega o dia de começar a decorar a casa para o Natal, me remeto ao passado. O Natal sempre na minha família foi uma data muito festiva. Começávamos pela guirlanda de Advento, que era feita quatro semanas antes do Natal. O espírito de Natal começava a se mostrar presente. Os aromas Natalinos se espalhavam pelo edifício e pelas ruas de Porto Alegre. Um deles era o doce de figo que a dona Lurdes fazia e outro era da floração da árvore alfeneiro pelas ruas da cidade.

O momento mais esperado era a montagem do pinheiro, que naquela época ainda era natural, e do presépio com todos os seus personagens: os pastores com suas ovelhas, os reis magos com o camelo, o burrico e a vaquinha, o anjo e as figuras principais, Maria, José e o nosso amado menino Jesus. Neste presépio, para darmos um realismo maior, ia um papel imitando rocha e a barba de velho. O pinheiro era decorado com bolas de vidro de diversos tipos, tamanhos e cores e mais as correntes douradas.
Nos reuníamos todos os anos na casa do vô Arthur e da vó Nelda Finkler. No início, em Venâncio Aires, depois em Carazinho, e a partir do final dos anos 70, novamente em Venâncio. No dia 25 no almoço ou no café da tarde íamos à vó Gertrudes Fröhlich – o vô Clemente não cheguei a conhecer, faleceu antes de eu nascer.
O Natal na casa do vô Arthur era cheio de tradições. A árvore de Natal se montava no dia 24, todos ajudavam. A turma era grande, vinham todos os filhos, que eram 10, e os netos. A noite de Natal começa com a nossa ida à missa do Galo. A nossa ansiedade era grande para chegada da hora dos presentes. A árvore de Natal era forrada de presentes, mas antes de tudo vinha o momento mais emocionante, a oração, o Pai Nosso e o canto Noite Feliz, que muitas vezes era puxado pelo meu pai, Cláudio, e por final a ceia. Comíamos rápido para chegar a hora dos presentes. O vô que distribuía os presentes, chamando um por um pelo nome e dizia quem dava. A bagunça era grande. As tias de olho nos papeis de presente que sempre eram guardados para embrulhar um próximo presente em outra ocasião.


No dia 25, íamos para a vó Gertrudes, na Linha Duvidosa, interior de Venâncio Aires. Lá a reunião também era grande. Vó, tios e primos, todos reunidos. Eu amava o pinheiro que era montado no canto da sala, sempre grande, e um presépio, que até hoje vem na minha memória, imenso, com partes baixas e altas, cheio de plantas e com laguinho. Muita vezes cantávamos Noite Feliz e um canto alemão, Tanenbaum (Pinheiro de Natal).

A vó Gertrudes amava ver todos numa alegria imensa. Embaixo de uma árvore, um cinamomo, os tios se reuniam para uma grande roda de chimarrão, conversando muitas vezes em alemão, e nós brincando no potreiro e no riacho que corria nas terras da vó. Mais tarde o café era servido. Pensa naqueles cafés coloniais, assim era na vó: bolos, bolachas, cucas, doces, torta fria e muito mais. Voltávamos para Porto Alegre com o coração repleto de emoções e a alegria de ver todos reunidos.
As tradições do Natal continuaram e novas surgiram quando eu me casei. As reuniões também aconteciam na casa dos meus sogros, Olmiro e Erna Lagemann, em Venâncio Aires. Lá nos reuníamos na tarde do dia 24, para um chimarrão na sacada da casa que fica na rua ao lado da Igreja Matriz. Chimarrão este acompanhado de cucas, bolachas de Natal e o tradicional pastel da Daia.
Quando chegaram os netos, Athos e Thales, filhos do Vladimir e Giovana, e os meus filhos e do Gerson, a Isabela e o Pedro, a chegada do Papel Noel era sempre esperada com muita ansiedade. Também lá, antes de distribuir os presentes, cantava-se o Noite Feliz. As crianças vibravam com o Papai Noel. Outra tradição era levar as crianças no passeio de Dindinho, um trenzinho de Natal que percorria o centro da cidade.


À noite continuávamos indo na casa do vô Arthur, e a cada ano aumentava o número de pessoas. Os netos casaram e vieram os bisnetos. Quase todo o ritual se mantinha, o que mudou foram os presentes, surgiu a ideia do amigo-secreto, pois era muita gente para se presentear. Mas o vô continuava a dar presentes, só que agora era um envelope esperado por todos, vó, filhos, netos e bisnetos. A bagunça só aumentava, principalmente com o amigo-secreto, imagina, chegava a mais de 50 participantes.
As idas à casa da vó Gertrudes diminuíram, a vó faleceu no ano de 1989, mas o pai e a mãe continuavam indo, pois o tio Fritz e tia Hilga ainda moravam lá. O chimarrão embaixo do cinamomo ainda se fazia presente e o gostoso café da tarde também. Este ritual continua ainda até os dias de hoje, agora comandado pela Beatriz, filha dos meus tios, que já não se encontram mais entre nós.
O pai e a mãe também criaram rituais para comemorar o Natal, entre eles a tradicional bolacha de mel e o bolo de frutas. A mãe fazia questão de fazer uma ceia antes do Natal reunindo os filhos, noras, genro e netos. Atualmente ainda nos reunimos uns dias antes do Natal, só que agora no sítio, em Porto Alegre, que o meu irmão Ricardo herdou. A saudade do pai e da mãe é muito grande.
As tradições do Natal nos dias de hoje ainda se fazem presentes, o almoço no sítio do Ricardo, uns dias antes, o chimarrão na casa da Vanda, companheira do seu Olmiro, ainda com o pastel da Daia, a ceia, agora na tia Nilse, pois o vô e vó já vieram a falecer, e o almoço do dia 25 na casa do meu cunhado, Vladimir.
Aqui em casa a tradição do pinheirinho e do presépio se mantém. No pinheiro se encontram diversos enfeites, as tradicionais bolas de vidros e as velas de pinheiro, herdadas da minha sogra, que faleceu em 2009. Bolas e enfeites trazidos das viagens, laços, flores, até enfeites do McDonald’s que as crianças ganhavam do McLanche Feliz. O bolo de Natal que a mãe fazia eu continuo a fazer. É minha pequena lembrança que dou aos meus amigos e vizinhos no Natal.


O Natal na minha família é assim, cheio de tradições e rituais, respeitando a todos e a tudo. Não importando posição política, crença, gênero, classe social, raça ou time de futebol. E assim, com o todo carinho, amor e paz desejo um Feliz Natal a todos.”
Mariane Frohlich Lagemann – Professora aposentada
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