Padre e coronel da reserva: a trajetória do novo pároco de Mato Leitão

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Durante 25 anos, o padre Claudio José Kirst, 61 anos, usou, além da tradicional batina, uma farda e ocupou diversos cargos na hierarquia do Exército Brasileiro, se aposentado no ano passado como coronel. Natural de Santa Cruz do Sul, ele ingressou na capelania militar aos 35 anos, depois de realizar um concurso.

“Minha mãe me disse que havia sido noticiado esse concurso. Expuseram quais as funções que um capelão militar exerce e as duas principais são assistência religiosa e colaboração na formação moral. Sempre gostei muito desse último e foi isso que me fez tentar essa vaga”, recorda.

A ordenação como padre, entretanto, aconteceu alguns anos antes, em 11 de dezembro de 1987, quando tinha 27 anos, na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Santa Cruz do Sul. Antes de atuar como capelão militar, trabalhou também na Paróquia Santa Bárbara, em Encruzilhada do Sul, durante três anos.

Após essa experiência, o padre Claudio foi convidado para ser formador no Seminário São João Batista, em Santa Cruz do Sul, iniciando as atividades do Propedêutico Interdiocesano. “Depois de três anos deixei de ser o responsável pela formação, mas ainda colaborei nos dois anos seguintes como pároco de Linha Santa Cruz e assistente espiritual dos seminários menores, tanto em Linha Santa Cruz quanto em Arroio do Meio”, compartilha.

Major padre Claudio José diante do prédio no Comando da 2ª Brigada de Cavalaria Mecanizada em Uruguaiana, em 2014 (Foto: Arquivo pessoal)

Ingresso no Exército

Depois que foi aprovado no concurso, o padre Claudio ingressou na então Escola de Administração do Exército, em Salvador, na Bahia. A primeira etapa da formação para ocupar a função de capelão militar era relacionada à adaptação à vida militar. Já a segunda parte da preparação foi um período em que passou a atuar como capelão nas unidades.

“A partir disso, comecei a atuar no atendimento religioso aos militares dentro dos quartéis, mas também às famílias deles, em capelas”, conta. O primeiro lugar em que trabalhou foi na 3ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, em Bagé, na região Sul do estado. As atividades mais frequentes realizadas como capelão envolviam a introdução religiosa de cunho moral, como o amor à Pátria, à família, ao uso da força, à união, ao uso de drogas e a vivência da fé, por exemplo.

Além de palestras, ele celebrava missas em datas festivas, ministrava catequese para soldados que não tinham feito a 1ª Eucaristia ou Crisma e realizava reflexões com os soldados nos campos de instrução. Depois de atuar por cinco anos e seis meses em Bagé, o padre Claudio foi transferido para o Colégio Militar do Rio de Janeiro, onde permaneceu durante quatro anos. Como aprendizado nesse período, ele salienta o fato de quem em toda a parte existe muita fome de Deus.

Saiba mais

• O trabalho do capelão é organizado a partir de uma capitania militar que equivale juridicamente a uma paróquia. Tem livro de casamento, batizado e livro tombo. O capelão tem jurisdição sobre os militares e as famílias deles. Durante o período de capelania, os padres ficam subordinados ao arcebispo militar do Brasil.

Padre Claudio, em pé, durante momento de reflexão com os soldados do campo de instrução Marechal Hermes, em Três Barras, Santa Catarina (Foto: Arquivo pessoal)

“São duas maneiras diferentes de trabalhar com o povo. O Exército está mais preocupado com ordem e com estabilidade, e a igreja em ser fermento na massa, ser transformação. São duas perspectivas, mas o amor das pessoas é igual. Sempre me senti padre onde eu estava.”

CLAUDIO KIRST – Padre e coronel da reserva

 

Missão de Paz no Haiti

Em 1º de junho de 2005, o padre Claudio Kirst integrou o 3º Contingente Brasileiro da Missão de Paz no Haiti. “Me perguntava se eu tinha condições de encarar uma missão fora do Brasil. Eu era o capelão responsável pela assistência religiosa de 1,2 mil homens e isso me preocupava um pouco, mas Deus foi me mostrando, durante o período de preparação, que essa missão era para mim”, ressalta.

Desse período, o padre recorda que aconteciam muitos enfrentamentos, mas também foi durante esses meses que se reconquistou boa parte da estabilidade em territórios que tinham sido dominados por grupos armados que atuavam em determinadas áreas de Porto Príncipe [capital do país da América do Norte]. “Pude ver a diferença do nosso trabalho em bairros onde o conflito era mais acirrado e o grupo armado tinha pleno poder”, destaca.

De acordo com ele, durante esses meses, muitas famílias que tinham deixado as casas retornaram, porque se sentiam mais seguras. Além disso, comércios foram reabertos e se iniciou a retomada de atividades em escolas. “Foi algo que me trouxe alento, porque a situação era de muita pobreza, e no meio do conflito mais ainda. A gente fica padre para ajudar os pobres. Percebi que essa população se beneficiou muito com a nossa ação”, diz.

Ele ainda ressalta que a presença do capelão foi muito importante durante os tempos de tensão, porque ele trazia reflexão aos militares sobre a importância da missão deles como um serviço. “Realizei um trabalho muito próximo dos soldados, com visitas aos alojamentos. Aconselhava e ouvia a eles. Em três oportunidades também fiz presença junto à comunidade”, menciona.

Como ensinamento dos seis meses que participou da Missão de Paz no Haiti, o padre cita a diferença que a força pode fazer na vida de um povo, principalmente, quando não existe mais direção, unidade ou respeito às leis. “Vi a diferença que nosso trabalho como Forças Armadas”, avalia.

Capitão padre Claudio José em momento de reflexão com integrantes da tropa do 3º Contingente Brasileiro em missão de paz no Haiti, no fim de 2005 (Foto: Arquivo pessoal)

Outras transferências

Alguns meses depois de ter retornado do Haiti, a padre foi transferido do Rio de Janeiro para Curitiba, onde atuou durante cinco anos junto a quartéis e o Núcleo de Formação de Oficiais da Reserva.

Depois disso, em 2011, foi promovido a major e passou a ocupar o cargo de capelão subchefe do Comando Militar do Sul, em Porto Alegre, que respondia, além do Rio Grande do Sul, por Santa Catarina e Paraná, com 10 capelanias subordinadas.

Em 2016, foi transferido para ser capelão subchefe do Comando Militar do Planalto, em Brasília e pároco da Paróquia Militar do Oratório do Soldado. Nesse período, realizou, principalmente, trabalho pastoral com as famílias dos militares, durante dois anos.

Nos anos seguintes, o padre Claudio chegou a retornar para Porto Alegre e depois para Brasília, onde foi chefe do Serviço de Assistência Religiosa do Exército. Em dezembro de 2020 foi promovido a coronel e em março do ano passado pediu para entrar para a reserva.

Capitão padre Claudio José em instrução moral religiosa com os soldados do Colégio Militar do Rio de Janeiro, no início de 2005 (Foto: Arquivo pessoal)

Como havia sido cedido ao Exército, após a aposentadoria como capelão militar, voltou a desempenhar às atividades na Diocese de Santa Cruz do Sul. Em maio de 2021 assumiu como administrador da Paróquia Santa Inês, de Mato Leitão, e da Paróquia São Martinho, no interior de Venâncio Aires.

Neste sábado, 22, ele será empossado pároco na Cidade das Orquídeas durante celebração presidida pelo vigário-geral, o padre Leandro Lopes. A missa ocorre na Igreja Matriz Santa Inês, a partir das 18h. Em Vila Palanque, a posse ocorre em 20 de fevereiro.

Celebração de missa pela passagem do dia do patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército, na Igreja das Dores, em Porto Alegre no ano início de 2015 (Foto: Arquivo pessoal)


Taís Fortes

Taís Fortes

Repórter da Folha do Mate responsável pela microrregião (Mato Leitão, Passo do Sobrado e Vale Verde) e integrante da bancada do programa jornalístico Terra em Uma Hora, da Terra FM

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