Essa é uma história sobre acreditar e confiar, em vários sentidos. Pâmela e Jean acreditaram no amor, enquanto casal, e que formariam uma família. Também acreditaram na ciência, de quando lhes falaram que a chance de ter um filho seria apenas pela fertilização in vitro. Mas, acreditaram, principalmente, em Deus, de que havia um propósito e de que também era preciso confiar no tempo. Assim, é à fé que eles creditam a chegada do que consideram um pequeno milagre. Um milagre sorridente, serelepe e de trancinhas, que na próxima semana completa 3 anos e atende por Manu.
Entre tentativas e frustrações
O assistente de almoxarifado Jean Paulo de Sá e a secretária e empreendedora Pâmela Maquéli da Silva de Sá, moradores do bairro Santa Tecla, em Venâncio Aires, têm 37 anos e dividem praticamente metade da vida. São 18 anos juntos, desde que começaram a namorar, lá em 2006. Como todo jovem casal dos ‘tempos modernos’, o objetivo é sempre ter uma casa, um carro, uma estrutura encaminhada, para, então, pensar em filhos. Essa ‘próxima etapa’ aconteceu em 2015, quando decidiram que era hora de tentar engravidar.
Depois de um ano de tentativas, foram investigar se havia problemas de infertilidade. Os exames de Pâmela estavam ok, mas os de Jean revelaram um número frustrante no espermograma. “A Organização Mundial da Saúde estabelece que o valor ideal é 15 milhões de espermatozoides por ml. O meu exame mostrou que tenho apenas 100 mil. Além da baixíssima quantidade, também havia um problema na qualidade. Os médicos disseram que tratamento não resolveria e que nossa chance de ter filhos seria apenas pela fertilização in vitro”, relata Jean.
A fertilização in vitro é considerada a técnica mais complexa de reprodução assistida. Consiste em fecundar óvulo e espermatozoide em laboratório, formando embriões que serão cultivados, selecionados e transferidos para o útero. Não é um processo barato e o casal revela que fez um empréstimo bancário, ainda que a chance de eficácia fosse de 50%. No caso de Pâmela e Jean, conseguiram três embriões. Na primeira tentativa, em julho de 2017, foram dois embriões transferidos, sem sucesso. Em dezembro do mesmo ano, foi o terceiro embrião, mas novamente a gravidez acabou interrompida, mesmo com todos os cuidados, medicamentos e dolorosas injeções. Infelizmente, naquele momento, a ciência não foi suficiente para a realização desse sonho.
Um encontro com a fé
Embora tivessem formação cristã, em religiões diferentes, Jean (mórmon) e Pâmela (católica), contam que não eram exatamente praticantes. Mas em 2017, aceitaram participar de um retiro, um cursilho da igreja católica. Para Jean, aquele momento foi um ‘divisor de águas’. “Eu ouvi relatos e experiências de pessoas que tiveram problemas muito mais graves e que pela fé em Deus foram solucionados. Para mim foi especial porque foi um encontro com Deus. Eu sempre pedia para que a gente caminhasse na mesma direção e a partir dali eu tinha esperança de que conseguiríamos.”
Já para Pâmela, que nas orações pedia por um filho, passou a pedir entendimento. “Eu precisava entender qual o propósito para nossa vida e pedia que Deus nos mostrasse o caminho. Se o propósito era uma família completa, eu precisava acreditar e confiar no tempo de Deus.”
Assim, tocados pela fé, também passaram a participar ativamente da comunidade católica, entre cursilhos, missas e Pastoral da Juventude. O casamento religioso aconteceu em setembro de 2018.
Os nove dias que viraram nove meses
Foi em meados de 2020, em plena pandemia da covid-19, que uma mensagem de WhatsApp enviada por Paloma, irmã de Pâmela, marcou o início de mais um capítulo na história de fé do casal. Era o link para uma live que seria transmitida pelas redes sociais de uma novena a Santa Gianna, considerada pelos católicos intercessora em favor da vida familiar, das mulheres que não conseguem engravidar e daquelas mães com problemas durante a gestação. “Fizemos aqueles nove dias de orações e depois fizemos outra novena em casa”, lembra Jean.
No dia 8 de setembro, quando completaram dois anos de casados, Pâmela acordou no meio da noite com muita dor no ventre, como uma cólica menstrual. “Era muito forte, nunca tinha sentido. Levantei e fui para a sala. Me ajoelhei no nosso altarzinho [espaço na sala onde fica a Bíblia e as imagens de Santa Gianna e Nossa Senhora Aparecida] e fiquei ali, muito tempo, chorando. Não rezei, apenas chorei muito.”
Naquela mesma semana, Pâmela lembra que deveria ter menstruado, mas três dias após a data prevista, isso não aconteceu. No dia 14 de setembro, um teste de farmácia deu positivo, mas, sem acreditar, no mesmo dia fez um exame de sangue, que atestou o alto nível do hormônio HCG: ela estava grávida. “De noite cheguei em casa e tinha um presente para mim na mesinha da sala. Não sabia o porquê. Quando abri, tinha uma xícara, com os dois exames dentro e nela estava escrito: ‘Você foi promovido a papai’. Em cinco segundos, um filme da nossa vida passou diante dos meus olhos e chorei muito”, lembra Jean, emocionado.
Após consultar com a médica obstetra, Pâmela descobriu que estava bem início da gravidez, com quatro semanas. “Nós tínhamos uma probabilidade mínima de ter um filho, mesmo com ajuda da ciência. E engravidamos de forma natural, no tempo de Deus. A gente só precisava acreditar e confiar e continuamos rezando. Continuamos com a novena para Santa Gianna durante toda a gravidez. Os noves dias viraram nove meses de oração.”
O sonho e o vendedor de meias
O casal conta que, durante os anos de tentativas, houve situações que, talvez, pudessem ser encaradas como ‘sinais’ do que estava para acontecer. Uma delas envolve um sonho de Jean, que ele teve ainda antes das novenas para Santa Gianna. “Eu sonhei que segurava uma menina em meus braços e ela me disse: ‘papai, tô chegando’. Isso foi muito forte.”
O outro ‘sinal’ bateu na porta de casa no dia 12 de setembro de 2020, um sábado, dia do batizado do afilhado Leandro, filho de Paloma, irmã de Pâmela. Um vendedor ambulante passou no bairro oferecendo meias. Inicialmente, Jean agradeceu e disse que não precisava. Então o homem perguntou se não queria as peças para os filhos. Novamente Jean agradeceu, dizendo que ainda não tinha filhos. Foi aí que o vendedor soltou. “Mas vai que tua esposa tá grávida?”
Jean acabou comprando dois kits com três meias femininas e três masculinas cada. Já o comentário daquele estranho, coincidência ou não, foi profético: Pâmela ainda não sabia, mas já estava grávida, gestação confirmada no teste de farmácia e no exame de sangue feitos dois dias depois, na segunda-feira, 14 de setembro.
Manuella Eloá
• A gestação de Pâmela foi tranquila e completou 40 semanas. A filha nasceu após uma cesariana na manhã do dia 21 de maio de 2021, quando o Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) ainda sofria em meio aos casos graves de covid-19.
• A menina nasceu com 3,490 quilos, 48 centímetros e recebeu o nome de Manuella Eloá. Pâmela queria Manuella (que tem raízes hebraicas e significa ‘Deus está conosco’) e Jean queria Eloá (do hebraico Eloah, com plural Elohim, que significa ‘Deus’). Os pais a consideram um pequeno milagre, que personifica a fé, e é chamada carinhosamente de Manu.
• A menina vai completar três anos na próxima semana e sempre esbanjou saúde. Ela é risonha, com um jeitinho serelepe, que adora conversar, dançar e cantar. Gosta de comer pastel, massa e queijo, e as cores favoritas são azul e rosa. É aluna do nível II da Emei Vovô Weber, no bairro Diettrich.
• O casal destaca que, assim como muitas pessoas rezaram por eles, para alcançar a graça de gerar uma criança, hoje são eles quem rezam pelos outros. “É muito bonito saber que a nossa história pode ajudar outras pessoas a acreditarem e terem fé”, comenta Pâmela.
“Independente da religião, Deus tem um projeto para cada um e precisamos acreditar e confiar no tempo d’Ele. Para nós, a família é esse propósito, cultivando na essência a fé, o respeito e o amor.”
JEAN PAULO DE SÁ – Assistente de almoxarifado e pai da Manuella