Por que São Sebastião Mártir é o padroeiro de Venâncio Aires?

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Já são 149 anos de devoção a São Sebastião Mártir com a tradicional festa comunitária no Centro de Venâncio Aires. Mas a devoção e o nome do Bastião aparecem ainda antes. A historiadora Angelita da Rosa explica que os primeiros registros do nome do santo ligados à Capital do Chimarrão são relacionados a Brígida Joaquina do Nascimento, que em 1864 doou um terreno de 10 mil braças quadradas – o equivalente a 48.400 metros quadrados ou quatro quadras – para construção de uma capela em homenagem ao santo. No entanto, não há nenhuma justificativa do porquê ela escolheu São Sebastião.

Em falas populares, mesmo sem registros comprovados, diz-se que Brígida teria escolhido o santo pedindo proteção aos filhos, que teriam ido para guerra – mesmo que no ano da doação nenhuma guerra estivesse acontecendo. Isso não foi comprovado, mas mesmo sem bases históricas a informação se propagou.

Os imigrantes chegaram em Venâncio Aires – na época chamado ainda de Faxinal dos Fagundes, e depois passou para Freguesia de São Sebastião Mártir – em dois pontos distintos: os alemães nas localidades que hoje são Monte Alverne, Alto Sampaio, Linha Maria Madalena, Linha Isabel e Linha Brasil; já a instalação de antigos sesmeiros (o avô de Brígida, Francisco Machado Fagundes da Silveira, foi o primeiro sesmeiro de Venâncio Aires), os imigrantes portugueses, aconteceu na região de Vila Mariante. O que hoje é o Centro de Venâncio Aires não tinha movimentação de imigrantes, ou seja, o núcleo urbano era inexistente.

Assim, além da devoção e religião envolvidas, acredita-se que a intenção da doação de Brígida para construção da capela também teve o objetivo de povoar esta região, já que a terra era devoluta, ou seja, não tinha nada no entorno. A construção da capela gerou movimentação de pessoas e, consequentemente, a valorização e o surgimento do comércio no local, começando assim, também, a área urbana de Venâncio Aires. “É o marco zero da urbanidade e, depois, para juntar recursos para a construção, foram vendidos lotes no entorno também”, explica a historiadora.

Angelita organizou o livro que conta a história de devoção a São Sebastião e o início das construções religiosas e da festa. (Foto: Luana Schweikart)

Construção

A doação feita, porém, tinha uma exigência. Caso a construção não fosse iniciada em 10 anos, as terras voltariam para posse de Brígida. Como a capela levou 12 anos para ser construída, quando completaram-se os 10 anos, foi feito um alicerce inicial. Em 20 de janeiro de 1876 foi inaugurada a pedra fundamental da obra, quando foi também o início da festa, a primeira edição. “A relação entre a festa e as edificações da igreja são muito próximas, a primeira edição foi na pedra fundamental da capela, em honra ao padroeiro”.

Em 1892 foi iniciada a construção da primeira Igreja Matriz, que teve um tamanho maior, e em 1927 foi iniciada a construção atual, sob liderança de Cônego Albino Juchem. As antigas construções foram demolidas. “A festa sempre teve ligação com a igreja, mas no início não era financeira. Por muitos anos, a festa foi realizada sem fins lucrativos, era comunitária, só mudou o foco quando foram necessários recursos para a construção da atual igreja”, explica. A historiadora acredita que mesmo que Brígida tenha feito a doação de terras, há a possibilidade de que mais pessoas daquela comunidade que se formava, já eram devotas de São Sebastião Mártir e essa fé ganhou força.

Feriado

  • A historiadora Angelita da Rosa menciona que o dia 20 de janeiro – dia da morte de São Sebastião Mártir – sempre foi a data escolhida para momentos importantes que envolviam a igreja, por isso, se tornou marcante. Quando beatificado, o santo Bastião recebeu este dia no calendário da igreja.
  • Em registros da Câmara de Vereadores de Venâncio Aires, é mencionada a ata de número 6, datada de 4 de fevereiro de 1936, quando o reverendo padre vigário Albino Juchem propôs que o dia 20 de janeiro fosse considerado feriado municipal, em honra a São Sebastião Mártir, padroeiro do município. Ele também sugeriu que o dia fosse de festa popular para a comunidade, o que já acontecia.
  • No Rio de Janeiro, o dia 20 de janeiro também é feriado e no município o padroeiro é São Sebastião Mártir. Explicações relatam que em 20 de janeiro de 1567, portugueses expulsaram os franceses que dominavam a região do Rio de Janeiro. Por isso do santo ter se tornado padroeiro do lugar.

Livro

  • As informações levantadas pela historiadora estão publicadas no livro ‘São Sebastião Mártir – a fé fazendo história em Venâncio Aires’, organizado e publicado em 2013. No ano seguinte, Angelita foi uma das festeiras, na 138ª edição. Ela afirma que a fé na sua vida sempre teve altos e baixos, mas foi no período como festeira que a formatou e fortaleceu.
  • O livro foi produzido como uma forma de contribuição deixada pelos festeiros daquele ano. “Todos os anos os festeiros deixam marcas, na época pensamos muito no que fazer, e eu, como trabalho com história, é o que sei fazer, contribui desta forma.” A obra foi financiada pela Lei de incentivo à Cultura (LIC) e por empresas locais. “É um registro que fica para as próximas gerações, importante registar a história para que não se perca. Sou grata em ter conseguido fazer e deixar essa memória”, destaca Angelita.

Curiosidades

  • Uma curiosidade é que Venâncio Aires, quando era ainda Faxinal dos Fagundes, só pôde ser elevado para Freguesia de São Sebastião Mártir em decorrência da capela curada – nome dado ao local religioso quando se tem um padre. A elevação também só foi possível por já ter um centro urbano no entorno da capela.
  • Outra questão pontuada por Angelita é a ‘injustiça’ feita no momento de nomear o município. O mais correto seria que se chamasse município de São Sebastião Mártir, seguindo o histórico de importância da capela e a devoção ao santo. No entanto, em um ‘canetaço’ do vice-governador do Estado, Fernando Abott, quando nomeou diversos municípios que foram emancipados, decidiu homenagear um amigo jornalista paulista que faleceu na época, e, por isso, colocou o nome de município de Venâncio Aires.

Sebastianismo

  • O padre Roque Hammes, responsável pela Paróquia São Sebastião Mártir, explica que o sebastianismo foi um movimento em Portugal, em região de colonização lusa portuguesa, reverenciando o rei Dom Sebastião, que após adaptação do nome virou São Sebastião Mártir. Ele morreu jovem – foi encontrado morto – por ter sido um soldado romano que contrariou a ordem de proibição de ser cristão. Ele se converteu ao cristianismo e ajudou os cristãos presos no antigo Império Romano, hoje atual Europa.

Monumento

  • Na terça-feira, 14, foi instalada a nova placa no memorial em homenagem à Brígida Joaquina do Nascimento, ao lado da Igreja Matriz. A placa tinha sido danificada em maio de 2024, devido às chuvas. A providência foi do Rotary Club de Venâncio Aires. A placa, de acordo com a entidade, é uma referência histórica e homenagem à São Sebastião Mártir. Durante os dias de programação da festa, o monumento pode ser visto por peregrinos e devotos.
Foto: Divulgação/Rotary Club de Venâncio Aires


Luana Schweikart

Luana Schweikart

Jornalista formada pela Unisc - Universidade de Santa Cruz do Sul. Repórter do Jornal Folha do Mate e da Rádio Terra FM

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