Professora e terapeuta de Venâncio Aires, Fabiana Martins, avalia os quase sete meses sem sala de aula

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Com um currículo profissional focado em educação e terapias alternativas, a professora e terapeuta Fabiana Martins, 44 anos, atua na Escola Estadual de Ensino Fundamental Helena Bohn, de Vila Teresinha.

Todos os dias, a mãe da Milena e avó de Miguel, 2 anos, se desloca por mais de 20 quilômetros do bairro Cidade Alta, onde mora, para o interior de Venâncio Aires, onde fica a escola. Na bagagem leva consigo os anos de estudos e de dedicação. A professora conta que iniciou a graduação em 2004, na Univates, em Lajeado, no curso de Engenharia Ambiental. Estudou até o sexto semestre e, faltando quase dois anos para formatura, percebeu que não era esta a profissão que queria.

“Em conversa com uma amiga, Nadir Pontin, relatando da minha insatisfação do curso de engenharia, ela me sugeriu que fizesse Pedagogia em função do mercado de trabalho, do ambiente e da satisfação de ensinar, já que Nadir é professora também”, conta Fabiana. Ela seguiu o conselho da amiga e, em 2009, fez o vestibular em Pedagogia na Ulbra.
Paralelo ao trabalho de professora de educação infantil, iniciado em 2010, na escola Emei Closs, do bairro União, Fabiana continuou os estudos e aperfeiçoamentos. Hoje tem pós-graduações em: Atendimento Educacional Especializado; Recursos Humanos – Deficiente Mental; Atendimento Autista (TEA); Especialização em Neuropsicopedagogia Clínica e Institucional. Orientação e Supervisão; Pedagogia Empresarial e Educação Corporativa.
Atualmente é aluna da pós-graduação em Pedagogia de Gestão Escolar: Orientação e Supervisão.

Fabiana já atuou nas escolas Crescer, Brígida, Perpétuo Socorro, Closs, Pingo de Gente, Mônica e também na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), de Porto Alegre.
Além da sala de aula, também buscou especializar-se em terapias alternativas com cursos que a graduam como facilitadora em dança terapia (Método María Fux); terapeuta de barras de ACCESS, FaceLift e terapeuta em liberação somática.

“A atividade de terapia é uma alternativa na minha vida. Para mim, ser terapeuta é um olhar para si e para o outro. Como uma relação que se estabelece entre terapeuta-paciente/cliente nesse processo da psicoterapia, a qual proporciona dentro deste processo um encontro. O terapeuta é aquele que facilita ao paciente um contato verdadeiro consigo mesmo, com o objetivo de proporcionar autonomia e capacidade de desenvolver suas potencialidades”, explica Fabiana.

A professora, que tem experiência em turmas de educação infantil, anos iniciais, Sala de Recursos e na Educação de Jovens e Adultos (EJA), destaca alguns aspectos do desafio de estar sete meses longe da escola.

FOLHA DO MATE – Como professora, como avalias este tempo de pandemia?

FABIANA MARTINS – Encaro como tempos de desafios, novos aprendizados tanto para a família quanto para os professores. Desafios tecnológicos que despertam novas formas de dar aulas. Saímos da sala de aula convencional para a sala de aula virtual. Percebo como um momento de grandes dificuldades porque as aulas à distância, em tempos de quarentena, trazem desafios para professores e alunos. As atividades escolares continuam acontecendo em ambiente virtual, o que gera uma dinâmica de trabalho ao qual muitos professores desconheciam.

A pandemia alterou drasticamente a vida das escolas e nós, professores e, também os alunos, tentamos nos adaptar a esse novo formato de aulas. Acessar a internet e lidar com novas tecnologias são algumas das dificuldades enfrentadas pelas escolas.

Como está ocorrendo o teu contato com os alunos?

Muitos de nós, professores, não tínhamos prática em gravar as aulas. Essa nova forma de lecionar tem gerado uma insegurança na transmissão do conteúdo, para que seja atrativo ao aluno e se eles irão apreender. Nesse período de pandemia, eu tive que me familiarizar e de forma muito rápida com várias tecnologias que até então eu não tinha conhecimento. Em questão de poucos dias eu já deveria estar apta a desenvolver todo o conteúdo e, ainda, lidar com vídeo aulas, gravações, grupos de WhatsApp, reuniões virtuais, estimular os alunos, aplicar as atividades, etc.

Muitos alunos não têm acesso a essa tecnologia, o que torna o trabalho do professor bem mais difícil e cansativo, tendo que ir até a residência do aluno em alguns casos.

As atividades requerem uma certa estrutura que, para muitas pessoas, pode ser uma coisa básica, que é ter internet, ter um celular; mas, para muitos alunos da rede pública, essa estrutura não está presente em suas casas. A pandemia está colocando outras dificuldades financeiras para além das que já existiam. Tem aluno que tinham internet no começo, mas agora já não tem mais, porque a família não conseguiu pagar.

Faça um comparativo da tua rotina de antes e de agora, com a pandemia:

Houve um aumento na carga emocional. Estamos abalados, com estresse, com ansiedade, que já é natural da nossa profissão, e somando-se à pandemia. Ao chegar na escola (onde é um lugar de vida e alegrias) nos deparamos com salas vazias, um silêncio que incomoda nos agita internamente, logo vêm a imagem dos nossos alunos brincando no pátio, falta do abraço, do sorriso aberto, falta do brilho no olhar, do desafio de um novo conteúdo, falta de escutar as vozes chamado profe., vem aqui… profe. não entendi. O aprendizado se constrói com afeto. A falta de contato com o professor, por causa do afastamento social, também é um grande impedimento para o aprendizado do aluno.

Outra questão é que o horário de trabalho dos professores está sendo diluído nas outras horas do dia e nos fins de semana, ou seja, a separação do momento em que se está trabalhando e o momento em que se tem para suas necessidades pessoais não existe mais, o que ocasiona uma jornada de trabalho ainda maior do que no período letivo normal. A gente responde, ao aluno, pelo aplicativo, tenta ajudá-los da melhor maneira possível, mas mensurar a quantidade de horas que estamos trabalhando é quase impossível. Espero que todos saiam desta pandemia com uma nova visão de vida.
Penso que este vírus veio para aprendermos a conviver em harmonia com nossa família a nos conhecermos melhor e a respeitar o próximo.

Conte que tipo de atividades e de contato que mantém neste período de pandemia com teus alunos:

Assim como eu, os professores mantiveram, com alunos e família, permanente contato virtual e vêm desenvolvendo diversas atividades remotamente, sempre adequando o aprendizado à nova rotina imposta pela pandemia.

Várias atividades como: projeto de produção de vídeos (Eu fiz alguns vídeos sobre a aula, conteúdo), produção de vídeos, postagens virtuais (em sala de aula virtual – Classroom), continuam acontecendo nesse período, mantendo a comunidade ativa e conectada, respeitando as normativas e orientações de segurança da escola, estabelecidas por meio do Comitê de Acompanhamento da Covid-19. O contexto da pandemia proporcionou a todos nós um processo de inovação e reinvenção, nas metodologias e na organização do trabalho. Está sendo um desafio tentar produzir pesquisa somente com dados secundários, via plataforma digital. Provavelmente, algumas inovações e adaptações serão permanentes. Contudo, lembro que o contato, a aula presencial com os alunos se faz necessária para o avanço da educação.

O professor usa diferentes abordagens para se comunicar com as diferentes turmas. Criamos um grupo de mensagens para orientar aqueles alunos que nos procuram com dúvidas. Uso novas ferramentas para fomentar mais os alunos, através de pequenos eventos na forma de roda de conversa virtual, vídeo- chamadas em grupo onde todos participam.
Estamos apostando nas plataformas digitais, que nesse período, ganharam mais importância. Porém alguns conteúdos estão “parados” pois precisam ser presenciais ou serem realizados com o apoio do professor.

Como você avalia esta previsão de retorno das aulas?

As circunstâncias, um pouco caóticas e improvisadas, talvez soem familiares para muitos pais e filhos diante das primeiras tentativas de aulas on-line de suas escolas. O mesmo vale para professores, muitos dos quais estão pela primeira vez se aventurando no ensino à distância ou on-line e conciliando isso com o cuidado de seus próprios filhos em casa. A grande dificuldade no Brasil, assim como nos demais países, é a situação imprevisível em uma área que não tem tradicionalmente a cultura do digital, do trabalho remoto ou da educação à distância.

Isso é novo e complexo para quem trabalha com educação básica nas escolas públicas e particulares. As crianças não vão voltar às aulas como se tivessem voltado das férias. Muitas vão voltar com marcas do estresse, porque suas famílias terão perdido renda ou terão perdido pessoas queridas durante a pandemia. Isso nos leva aos preparativos para a volta às aulas, período que também desperta preocupação em profissionais da educação.

Outras crianças talvez desistam da escola, desmotivadas dos estudos ou forçadas a trabalhar para contribuir para o orçamento doméstico. Assim, muitas escolas terão de se organizar para buscar novamente esses alunos e encontrar formas de manter as turmas engajadas nesse intervalo. Até quando, ninguém sabe por enquanto. Nesse cenário complexo, é primordial que “não deixemos que este seja um ano letivo de faz de conta. Porque o prejuízo disso ao país será gigantesco”. Muitas escolas particulares, em teoria, possuem mais facilidade em manter os filhos estimulados no processo de aprendizagem.

Temos de fazer algo para que não aumentem as desigualdades educacionais. Naturalmente, o melhor lugar para a criança é na escola. Não vamos agora ter soluções (que seriam ideais) para os tempos normais, mas vamos poder aprender para aperfeiçoar a educação quando voltarmos e nos adaptarmos às circunstâncias atuais.

    

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