Rainha da 17ª Fenachim: “Foi com meus pais que aprendi a persistir e a acreditar”

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“Hoje, subo mais uma vez neste palco, pois acredito fielmente que o meu sonho de ser soberana da Festa Nacional do Chimarrão pode ser realizado.” Embalada por ‘Don’t stop believin’ (Não pare de acreditar), clássico do Journey de 1981, a frase foi dita por Marina Severo Jantsch, segundos antes do desfile individual, no evento de escolha das novas soberanas, no sábado, 11. Uma fala sobre tentativas, sonhos, realizações e sobre acreditar. Uma fala carregada de significados e que ajudou a moldar a vida e a preparação dela para o concurso, agora eleita rainha da 17ª Fenachim.

No último fim de semana, a terapeuta ocupacional Marina, 26 anos, viveu pela segunda vez aquele mesmo cenário, como quando foi candidata em 2021. Mas, dessa vez, a experiência lhe deu tranquilidade. “Era mais uma tentativa e se não acontecesse, estaria tudo bem. Me preparei mais e amadureci, então estava confiante de que poderia estar no trio. Quando ouvi meu nome, todas as meninas vieram me abraçar. Foi uma emoção muito grande, mas ao mesmo tempo consegui ficar tranquila”, relatou. Marina foi eleita soberana na sua segunda tentativa, algo do qual ela fala com orgulho, já que entende que na vida as coisas precisam ser assim. “É a prova de que não devemos desistir e isso vale para tudo na vida. Devemos continuar tentando e persistindo sempre.”

Mas por que uma jovem que, à exceção da Fenachim, nunca participou de nenhum concurso parecido, alimentou dentro de si o sonho de ser soberana? “Porque quero contribuir com minha cidade. Minha história está aqui, minha família, há gerações, está aqui. Aqui aprendi o sentido de comunidade e de trabalho voluntário. É a paixão por isso e o orgulho por Venâncio que pulsaram forte em mim. E entendo que uma soberana carrega tudo isso: o amor e o orgulho pelo município e o envolvimento comunitário.”

O exemplo dos pais

Para esta entrevista, Marina recebeu a reportagem na casa dos pais, Cátia Severo e Junior Jantsch, no bairro Cidade Alta. E, como toda filha que se sente à vontade no lar onde cresceu, ela estava, como definiu, do seu jeito simples, e apontou para o Havaianas branco que calçava. Era domingo à tarde, horas depois do grande evento e praticamente não tinha dormido. Ainda assim, seguia disposta e contava detalhes aos familiares que estavam por lá, entre eles a bisavó Célia que, aos 84 anos, aguentou quase cinco horas na arquibancada do Poliesportivo para abraçar a bisneta. “Que bom que eu fui e esperei para ver ela rainha”, comentou a bisa, parceira dela nos jogos de paciência.

Quando o nome da filha foi anunciado, a mãe, Cátia Severo, diz que as pernas começaram a tremer e, em meio à euforia da torcida, nem conseguiu ver Marina receber a coroa (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Marina diz que a ficha está caindo aos poucos, ajudada, também, pela quantidade de abraços e a cada notificação no celular. “Não sei quantas mensagens eu recebi. Tá uma loucura. Preciso agradecer todos: família, dindos, amigos, colegas e meninas que concorreram comigo em 2021 e agora torciam por mim. Todos sonharam e acreditaram comigo e fizeram uma torcida linda. Vou agradecer a todos pessoalmente.”

A nova rainha da Fenachim vem de uma família de riso alto, espontânea e que gosta de brincar entre si. Marina também é assim, mas, quando falou dos pais, as lágrimas rolaram inevitavelmente. “Foi com meus pais que aprendi a persistir e a acreditar. Pelo exemplo deles, de não apenas mostrar, mas fazer e não desistir”, destacou a jovem, se referindo às trajetórias dos pais. Cátia engravidou com apenas 16 anos e Junior precisou superar uma dependência química. “A mãe me teve tão jovem e sempre trabalhou. Nunca se queixou, sempre lutou muito. E o pai conseguiu superar uma dependência química, se tornou assistente social e trabalha ajudando outras pessoas com esse problema. Eles superaram muita coisa juntos e eu cresci entendendo que não podemos desistir.”

Luísa, a irmã de 11 anos e uma das maiores incentivadoras, preparou uma recepção na casa dos pais (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

O chimarrão, a galinhada e a Igreja Matriz

Tudo que aprendeu sobre chimarrão e o gosto pela bebida, Marina deve ao pai. Grande apreciador, Junior é criterioso no preparo e conhece os processos da erva-mate. Além do chimarrão, algo quase inerente aos venâncio-airenses, quando o assunto é o prato típico do município, a galinhada também tem um espaço especial na vida de Marina. Na infância, sábado era dia de ir na Comunidade Santa Rita, no bairro Gressler, acompanhar os avós Oscar e Sônia Severo, que ajudavam no preparo da galinhada. “Eles sempre foram muito prestativos e de ajudar a comunidade.”

Marina guarda com carinho alguns objetos da Fenachim. Entre eles, a roupa que usou no desfile de 2021. Mas também chama atenção um item histórico: um ingresso da primeira edição da festa, realizada em 1986. Quem lhe deu a relíquia foi o avô Flávio Jantsch, o Maneco (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Marina também começou a se envolver em ações pela cidade muito cedo. Isso inclui desde a participação na banda da escola Monte das Tabocas até a Orquestra de Venâncio Aires (onde está há 13 anos) e em clubes de serviço, como Interact e a JCI. Foi na JCI, aliás, que ela diz que teve mais oportunidades para se desafiar, participando de concursos de oratória e trabalhando o lado emocional, já pensando na possibilidade de concorrer novamente à soberana.

Das ‘coisas de Venâncio’, como o chimarrão, a galinhada e o voluntariado, Marina também carrega a religiosidade, que no município tem sua maior representatividade na Igreja São Sebastião Mártir. “A fé é muito presente e a família sempre participou da comunidade católica.” Marina chegou a ser coroinha e durante um tempo tocou e cantou em missas. Para novembro de 2024, ela viverá outro momento especial dentro da Matriz: o casamento com o noivo Gabriel Pfaffenzeller.

O ‘peso’ da coroa

A coroa de Marina pesa 575 gramas (isso ela mesma conferiu na balança de cozinha da mãe), mas sabe que o peso dela vai muito além do volume físico. “Nós formamos um trio que não desistiu dos seus sonhos e sabe que é uma grande responsabilidade. Admiro muito o comprometimento de todas e é importante dar continuidade ao legado das soberanas que nos antecederam. Representamos uma festa estabelecida, uma das maiores do estado e que merece crescer cada vez mais.”

“As pessoas podem acreditar que haverá muita dedicação e amor em cada passo nessa caminhada, para continuar honrando essa história e fazer uma Fenachim cada vez maior e melhor.”

MARINA SEVERO JANTSCH – Rainha da 17ª Fenachim



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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