Muitas pessoas, quando não querem mais um móvel, deixam na frente de suas casas para doação ou para que o caminhão de lixo recolha. Para elas, esse item não tem mais utilidade, mas para Valcedir José Porto, de 48 anos, essas peças podem ser transformadas e passadas adiante. Desde 2015 ele realiza o trabalho de Coleta Inteligente. Os móveis restaurados são doados para famílias que precisam ou, às vezes, comercializados por um preço menor.
Ele conta que, desde jovem, sempre gostou de recriar objetos, de usar a criatividade. Hoje, consegue utilizar disso para ajudar outras pessoas e, também, como uma profissão. Hoje, a sede do projeto fica em Linha Ponte Queimada, no interior de Venâncio Aires, mas tudo começou no Loteamento Tabalar, na garagem do artesão. “Uma família não queria mais os móveis da casa. Queriam tirar todos os móveis e eu recolhi eles. Vi que estavam danificados e precisavam ser reformados. Por três meses trabalhei nisso, tudo em casa. Um tempo depois, uma família precisava de móveis e eu doei. Mobiliei toda a casa, até com forno elétrico”, relembra Porto.
Com isso, o projeto começou a crescer. O artesão comenta que, em Santa Cruz do Sul, existe uma empresa que recolhe o material, reforma e vende, mas funciona de uma forma um pouco diferente. Ele, além de vender, também faz da atividade uma profissão, sempre dando ênfase à questão social. “Sempre tem alguém precisando. O móvel pode não servir mais para uma família, mas para outra pode ser muito importante”, diz. Quando são comercializados, os móveis e eletrodomésticos têm um custo mais baixo e também são reformados.
O restaurador comenta que, atualmente, um caminhão do projeto está diariamente na rua recolhendo os itens. Alguns proprietários fazem contatos para recolhimento, outros estão na rua e há também os que são recolhidos para Usina de Triagem. “São muitos beneficiados com o projeto, mas um dos casos que me marcou muito foi dos venezuelanos, quando chegaram mais de 30 deles em Venâncio. À medida que foram alugando casas, fomos auxiliando com móveis e outros itens. Era gratificante ver a felicidade deles com as coisas que conseguimos”, afirma.
Ele frisa que todos os materiais são reutilizados, mesmo itens que parecem não ter mais recuperação. “Tem pessoas que querem se desfazer de fogão ou outras coisas que estão há muito tempo na rua, que às vezes não há como recuperar, mas que são vendidos para empresas terceirizadas, que dão o destino correto”, explica. Essa terceirização e ampliação do projeto começou após o grupo recolher 380 quilos de peças de carros, de máquinas e outros resíduos que estavam na beira do arroio Castelhano, em Linha Arroio Grande. “É um serviço que evita a poluição do meio ambiente também”, acrescenta.
Materiais
As chapas de MDF, parafusos, fios e outros, são comprados pelo projeto ou doados por lojas que não utilizam mais. “Temos móveis que estão quase inteiros, outros precisam de uma reforma total. Hoje temos muitos equipamentos que compramos, materiais que ganhamos e, quando preciso, compramos também. Um exemplo é uma das mesas que temos. Toda estrutura estava boa, mas a tampa da mesa não, então colocamos um vidro de cervejeira e fizemos uma mesa nova, somente reutilizando”, expõe Porto.
Planos
• No futuro, Porto pretende ter oficinas do projeto abertas para a comunidade. “Tem pessoas que querem aprender, saber como usar uma furadeira, como montar um móvel e como reformar. Queremos organizar melhor nosso espaço e, depois, abrir para a comunidade e para as escolas”, projeta.
“O pessoal quer se ver livre dos materiais que não utiliza mais, mas quanta coisa disso a gente pode transformar, reutilizar e ajudar as pessoas? Nem tudo que eu não utilizo mais é sem utilidade.”
VALCEDIR JOSÉ PORTO
Artesão e restaurador
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