Relógios da Igreja Matriz de Venâncio voltam a funcionar

Venâncio Aires - Talvez o som passe despercebido para muitos, acostumados com o badalar que alcança vários bairros de Venâncio Aires, e nem se nota que os três sinos instalados numa das torres da Igreja São Sebastião Mártir voltaram a ecoar a cada quarto de hora. Isso mesmo: desde a quarta-feira, 12, os venâncio-airenses têm escutado os sinos da chamada Matriz a cada 15 minutos, o que foi possível porque os três relógios (um frontal e dois laterais) foram consertados.

De acordo com a Paróquia Católica, os marcadores não funcionavam há cerca de um ano. Como se trata de um mecanismo específico e também muito antigo – tem 70 anos – o reparo precisaria ser feito por um relojoeiro experiente e que já conhecia os detalhes da igreja venâncio-airense. O trabalho coube a Dauri Dilso Klein, 70 anos, morador de Marques de Souza, e que ‘mexe’ em relógios desde os 15. Ele já restaurou em torno de 100 relógios nos três estados do Sul do Brasil e conhecia o equipamento local porque, em 2015, foi chamado para ver a possibilidade de restaurar o relógio que estava parado há muitos anos. “Na ocasião, foi todo restaurado e adaptado um silenciador de batidas noturnas, para não bater durante a noite [funciona das 6h às 22h]. Então funcionou normalmente durante quase 10 anos. Mas agora foi preciso uma revisão profunda, já feita e funcionando normalmente. Trabalhei dois dias e está tudo em dia”, explicou o relojoeiro.

De 15 em 15 minutos

Conforme Dauri Klein, o relógio é mecânico, mas considerado eletromecânico, porque usa um motor elétrico para dar corda e para puxar os pesos da corda. “Também é considerado carrilhão, pois badala de 15 em 15 minutos no sistema de ‘blim blom’. Nos primeiros 15 minutos dá um blim blom, na meia hora faz dois, nos 45 minutos são três e na hora cheia faz quatro ‘blim blom’ e logo em seguida um outro martelo bate a hora certa”, detalhou, exemplificando com o som dos sinos.

Além disso, os sinos continuam a badalar às 11h30min e às 17h30min, diariamente. Segundo o eletricista da paróquia, Mário Henn, que acompanhou o trabalho de Dauri Klein, esses dois horários não tiveram alteração nos últimos tempos porque estão atrelados a um sistema eletrônico separado.

Quanto ao relógio que fica nos fundos da Matriz, na rua Jacob Becker, esse não funciona há muitos anos e não será consertado, já que fica longe das engrenagens que ativam os demais marcadores.

Os sinos

O relógio foi fabricado em 1955, pela Indústria e Comércio Relógios Públicos Schwertner, em Estrela. Segundo o eletricista Mário Henn, o equipamento é formado, basicamente, por engrenagens, pêndulo e demais mecanismos como cardãs, coroas, pinhões e correntes.

Na Matriz, ele foi inaugurado em 22 de janeiro de 1956, mas, antes disso, tudo era na força dos braços e, quando se ouviam os sinos na cidade, era porque tinha alguém ‘puxando a corda’. Ele era tocado diariamente às 6h, às 12h e às 18h, nas Aves Marias, e quando alguém morria. Já os três sinos tocados ao mesmo tempo sinalizavam festa, como casamento e primeira comunhão. Foram e continuam sendo, de certa maneira, um meio de comunicação de Venâncio.

No sino maior há uma inscrição em alemão: Bochumer Verein Bochum. Trata-se de uma empresa formada na cidade de Bochum, na Alemanha, em 1854, conhecida na Europa pela fabricação de sinos de aço. No sino maior da igreja de Venâncio, também está inscrito o ano de 1898, o que reforça a pista de que os itens foram comprados no fim do século XIX.

Os sinos têm tamanhos diferentes e pesam 300 quilos, 200 quilos e 115 quilos e cada um tem um toque característico. Para chegar onde ficam os equipamentos, é preciso subir as escadas das torres, parte em concreto, parte em madeira (original da década de 1950).

Saiba mais

O sistema do relógio está instalado na torre direita da Igreja São Sebastião Mártir (no sentido de quem está olhando para o norte). As duas torres, aliás, foram concluídas e inauguradas em 1953. Até o topo delas, são 65 metros de altura. Isto garante à Matriz, até hoje, a condição de ser o prédio mais alto de Venâncio Aires e um dos maiores templos neogóticos da América do Sul.