O temporal do dia 16 de janeiro completa duas semanas na noite desta terça, 30, e a falta de energia elétrica no Rio Grande do Sul segue sendo o principal assunto. Só na área de concessão da RGE, foram 714 mil clientes sem luz no ‘pico’ da tempestade. Em Venâncio Aires, um dos municípios mais atingidos na região, ainda na sexta pela manhã, 26, havia informação de moradores do interior sem luz, como caso de Centro Linha Brasil.
A demora no restabelecimento tem sido a principal queixa dos clientes e mesmo da Prefeitura de Venâncio Aires, que até acionou a Justiça (veja abaixo). Nesta segunda, 29, o gerente de Relacionamento com o Poder Público da RGE, Cristiano Pires, concedeu entrevista exclusiva durante o programa Folha 105 1ª Edição, da Rádio Terra FM. O representante da empresa afirmou que esse foi um dos maiores temporais dos últimos anos e que o impacto causou um grande volume de trabalho. “Já temos laudo meteorológico, que indica vento com velocidade superior a 130 quilômetros por hora. Nossas equipes técnicas continuam trabalhando, porque esse temporal gerou danos de grande monta, com postes quebrados, objetos arremessados sobre a fiação e árvores de grande porte caindo, havendo necessidade de reconstruir a rede elétrica.”
Ainda segundo ele, além da força do vento, a vegetação (queda de árvores) foi o principal causador do desligamento das redes, especialmente nas áreas rurais. “Um ponto importante no interior está atrelado aos acessos. Posso afirmar que 90% do desligamento das redes foi em decorrência de vegetais que tombaram em cima da nossa rede, dificultando o acesso das equipes.” Pires acrescenta que isso tornou o serviço mais demorado. “Muitas equipes precisaram primeiro remover grandes vegetais que estavam obstruindo acessos para depois poder chegar no local da manutenção e efetivamente colocar a mãe na rede e restabelecê-la. Agora, mais do que nunca, fica evidente a necessidade de todos os agentes, RGE, Poder Público e os proprietários nas áreas privadas, focarem no sentido de manejo da vegetação.”
O representante da RGE justificou ainda a distância de determinadas localidades em relação às subestações. “Quando há um grande volume, nós primamos pelos serviços essenciais como hospitais, abastecimento de água e segurança pública. Depois vai restabelecendo em blocos concentrados, partindo da fonte, que são as subestações, até a área rural. Os casos individuais não são menos importantes que os demais, mas são mais longe da fonte de alimentação e precisam de várias manutenções ao longo do caminho elétrico.”
Troca de postes
O gerente de Relacionamento com o Poder Público da RGE, Cristiano Pires, destacou que um dos focos da concessionária é seguir com a substituição de postes de madeira pelos de concreto. “Nos últimos anos já substituímos 250 mil postes e nosso planejamento, até 2025, é que tenhamos no máximo 9% de postes de madeira na nossa área de concessão. Isso torna nossa rede mais robusta para fazer frente às intempéries, mas se não trabalharmos o manejo da vegetação, vamos voltar a ter problemas de interrupção.”
Conforme Pires, a RGE atende 60% do Rio Grande do Sul com uma malha elétrica de 180 mil quilômetros quadrados – aproximadamente 2 milhões de postes na área de concessão, sendo que 83% dessa quantidade já são postes de concreto.
“Um cliente que fica sete dias sem energia não é um padrão de atendimento da RGE, então estamos falando de uma grande tempestade. Vamos continuar buscando investimentos para que cada vez mais essas intempéries gerem menos transtornos aos usuários.”
CRISTIANO PIRES – Gerente de Relacionamento com o Poder Público da RGE
5,5 mil – foi o número de funcionários da RGE trabalhando diretamente no pós-temporal, inclusive com a necessidade de mobilizar equipes de outras regiões.
R$ 9 bilhões em cinco anos
O gerente de Relacionamento com o Poder Público da RGE, Cristiano Pires, comentou que a concessionária está há 18 anos atendendo no estado e que sabe que intempéries climáticas vêm com intensidade maior a cada ano. Por isso, o volume de investimento previsto é de R$ 9 bilhões entre 2024 e 2028, para deixar a rede “cada vez mais robusta.”
“Hoje temos um investimento para automatização de rede. A partir do momento que temos nossas subestações, temos comunicação remota com o centro de operações, onde os operadores conseguem fazer manobras. Já temos quase 6 mil religadores em toda área de concessão e estamos expandindo também na área rural, para aumentar a agilidade.”
Além de investimentos na troca de postes e automatização da rede, Pires destacou o reforço na mão de obra. “Em 2023 já ampliamos a força de trabalho com mil profissionais contratados e, para 2024, o planejamento são mais 500 profissionais e equipes pesadas.”
Fiação subterrânea
Um dos pontos questionados à RGE foi sobre a possibilidade de implementar um sistema subterrâneo de cabos e fios. Segundo Cristiano Pires, hoje, no Brasil, existe a configuração das redes elétricas com sistema aéreo e isso é o que baliza as concessões regradas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
“Com relação à rede existente, precisa uma discussão no âmbito regulatório, porque a rede subterrânea é 10 vezes mais cara que a aérea, sem falar na infraestrutura, como construção de galerias e a própria vegetação, ou inundações. Tecnicamente, hoje não é a característica e a configuração na área da RGE, e do país como um todo. Havendo algum projeto de que as concessionárias assumam esse custo, também precisará de discussão de impacto na tarifa.”