Sargento Mello encerra a carreira na BM depois de 45 anos de trabalho

Um dos policiais militares mais conhecidos entre os venâncio-airenses, o 2º sargento Mello, deixou as funções na última semana. Com 45 anos de dedicação à Brigada Militar, se orgulha de ter cumprido o ofício de garantir a segurança e enaltece o bom convívio na comunidade. Os 65 anos de idade foram completados no dia 30 de outubro, consequentemente atingindo idade limite para atuar dentro da corporação, acionando aposentadoria compulsória.

Desde 26 de abril de 2018, é um dos agentes da Brigada Militar mais conhecidos entre os alunos das escolas, tanto municipais quanto estaduais. Junto com outros colegas de serviço, integrava a Patrulha Escolar, responsável por levar segurança mas também palavras de apoio aos estudantes e professores. “A gente estava bastante acostumado na lida, mas é normal, faz parte”, considera. “Aproveitei os últimos dias para me despedir das crianças, da nossa juventude e dos professores. Tenho um carinho muito grande por todos eles”, destaca.

De estatura firme e uma voz grave – impossível de não ser reconhecida – é grato pelo acolhimento de Venâncio Aires e por todos as amizades construídas nas quatro décadas e meia de trabalho. “Agradeço a população pela acolhida. Mando um abraço para quem sempre esteve ao meu lado. Abraço ainda para minha juventude, às escolas. Foram muitos e bons momentos”, descreve.

A vinda para Venâncio Aires

Pedro Juarez de Mello é natural de Santa Cruz do Sul, mas já recebeu o título de cidadão de Venâncio Aires. Ele lembra que o ingresso na Brigada Militar se deu em julho de 1980, aos 19 anos, quando estava saindo do Exército e foi convidado por um amigo para realizar a prova que garantiria o ingresso à instituição. “Era perto do meio-dia e a inscrição era no Corpo de Bombeiros. Deixei de almoçar e consegui a vaga”, recorda. Ela confessa que não tinha muito conhecimento sobre a área policial e revela que o desejo sempre foi de trabalhar na área da comunicação, como jornalismo.

Entre 800 homens, conta que realizou a prova em cerca de 5 minutos, garantindo o 4º lugar entre os mais bem colocados na região, e ficando com uma das 80 vagas disponíveis. Poucos dias depois foi para Rio Pardo, onde realizou o curso de soldado, concluindo em janeiro de 1981. Em Venâncio, está desde 4 de fevereiro de 1981.

Memórias

O policial começou a atuação profissional realizando patrulhamento a pé. “Eram sempre uns seis ou sete policiais que caminhavam pela cidade”, conta. Naquele tempo, a BM tinha uma viatura, uma caminhonete Willys. Segundo ele, eram mais de 60 profissionais na Brigada Militar que se revezavam entre as escalas. “Foi um tempo maravilhoso de muita construção e crescimento”.

Aos poucos outros veículos foram incorporados. Primeiro, um Fusca ajudou a qualificar a frota. Depois, um Opala quatro portas. Depois vieram dois Gols. “E assim por diante foi sempre melhorando pra gente trabalhar”.

Quartel

O sargento Mello também acompanhou e atuou na construção da atual sede da 3ª Companhia do 23º Batalhão de Polícia Militar (BPM), conhecido popularmente por quartel da Brigada Militar de Venâncio Aires, mas que naquele tempo ainda era pelotão. O comandante era o tenente Oraci Garcia Rossoni, que lançou a pedra fundamental em 1979. As obras se estenderam até novembro de 1982. “Além do trabalho de policiamento, dedicávamos duas horas por dia para ajudar na obra. E não podia reclamar”, diz.

“Sempre digo que, dentro da polícia, a gente fica mais profissional a cada ocorrência que se atende. E Venâncio é uma cidade muito boa para trabalhar, sempre com o apoio da comunidade e poder público.”

PEDRO JUAREZ DE MELLO
Sargento da Brigada Militar

Vocação para trabalhar com crianças

Sargento Mello e a neta Isa, de 2 anos e 10 meses, e que é apaixonada pela BM

Além do trabalho ostensivo, o sargento Mello sempre gostou de estar junto às escolas. Com a aposentadoria em 2006, retornou um período depois para Corpo Voluntário de Militares Inativos (CVMI) da Brigada Militar. O foco do trabalho era nas escolas estaduais de Ensino Fundamental Cônego Albino Juchem (CAJ) e Monte das Tabocas. Mais tarde, com algumas remodelações, foi incorporada a Patrulha Escolar, aumentando a abrangência para todas as escolas de Venâncio Aires.

Essas atividades buscam fortalecer os laços entre educandários e as forças de segurança. Os alunos têm a oportunidade de trocar ideias com os policiais – que apresentam orientações e buscam acender o olhar dos alunos para o mercado de trabalho e importância do convívio saudável entre as famílias.
“Muitos professores já disseram pra gente que a Patrulha Escolar foi uma das melhores coisas que aconteceram para elas nos últimos anos. Sou muito grato por esse trabalho. Poder realizar palestras e ajudar. Valorizei muito isso. Pude me tornar um homem melhor que antes”, considera.

O trabalho com crianças rendeu muitos amigos. São vários os convites que ele e a esposa, Dulce Peiter de Mello, casados há 39 anos, recebem dos estudantes para festas de aniversário, entre outras comemorações. A atuação na patrulha também perpassou a atuação dentro da escola. Com o trabalho, brinca que foi responsável por criar uma ‘estação rodoviária’ aos fundos do CAJ. “Sempre tinha movimento de crianças e vans escolares. Mas alguém precisava cuidar daquele movimento. Eram crianças correndo, embarcando em lugar errado. Levei muitos para casa de carro, pois se perdiam”, conta. “Eu chamava o nome da van e cada um sabia onde precisava entrar. Acabei unindo o útil ao agradável”.

Foi também no CAJ, mas em 2015, que realizou comemoração de aniversário ao lado das crianças. “Cheguei na escola um dia de manhã e os alunos menores se queixaram de que só o Ensino Médio poderia fazer viagens e coisas diferentes”. Com a queixa dos alunos, foi até a direção e pediu autorização para realizar uma programação diferente. Após ter recebido o aval, deixou eles escolherem doces e salgados para a festinha. “Eram 129 crianças. No dia levei pastéis, risoles e até tapioca tinha. Me derrubaram no chão”, destaca.

Nas próximas semanas, o sargento começará a escrever um livro sobre a atuação junto à Patrulha Escolar, enaltecendo o trabalho da polícia com as crianças.

Confiança no trabalho

  • O sargento Mello afirma que o trabalho da Patrulha Escolar também vem ao encontro de criar um elo entre alunos e Brigada Militar.
  • Muitos pais acabam citando o nome da instituição para provocar medo ou desconfianças e, em situações de risco, podem ter receio de acionar ou solicitar ajuda.
  • “Muitas crianças não chegavam perto de nós porque achavam que íamos prender elas. E isso é algo que vem de casa. Mas explicávamos nosso trabalho e, no fim, ganhávamos um abraço”.

Combate a assalto em Linha Sapé

Uma das ocorrências lembradas pelo sargento Mello ocorreu no dia 24 de fevereiro de 2004, em Linha Sapé, interior de Venâncio Aires. Ele estava no antigo Frigorífico Roehl, já que era amigo da família, após ter ido para Santa Cruz do Sul. Em um dia quente, típico de verão, estava sentado na área externa quando ouviu a aproximação de um carro. Quatro criminosos armados anunciaram um assalto no estabelecimento. Como o policial também portava uma arma, entraram em troca de tiros e um dos assaltantes morreu no local.

Para fugir, os criminosos carregaram o homem baleado, que já estava morto, e durante a fuga, outro foi acertado com um tiro. Na fuga, constataram que o automóvel estava com problemas. A vítima fatal e o carro foram abandonados e, se deslocaram a pé por cerca de 80 metros, onde invadiram a Escola Estadual de Ensino Fundamental (EEEF) Pedro Beno Bohn e fugiram com o Gol de uma professora. O automóvel foi encontrado em Rio Pardo.

Júnior Posselt

Repórter

Acompanha assuntos voltados ao interior e à educação.

Acompanha assuntos voltados ao interior e à educação.