“Esse ano acho que vai ser muito bom para vender até no final.” A avaliação é de Volnei Dessbesell, 54 anos, após voltar da Philip Morris, em Santa Cruz do Sul, onde esteve para vender tabaco na tarde da última quinta-feira, 27. Segundo o agricultor, ele conseguiu R$ 224 por arroba (15 quilos) na classe BO1, a mesma que, na safra passada, era de R$ 194.
Volnei e a esposa Marcia, 53 anos, tinham vendido os primeiros 3 mil quilos na semana anterior e também voltaram satisfeitos. “Deu uns 15% a mais do que ano passado”, comentou a agricultora, se referindo à primeira comercialização.
As cifras maiores na nota de venda dos Dessbesell, que moram em Linha Bem Feita, comprovam um comentário geral em muitas localidades do interior de Venâncio Aires desde o início do mês: as empresas têm pagado bem pelo tabaco. “Diminuiu ainda mais a área plantada e o fumo está com qualidade. Então estão pagando mais”, afirmou Volnei.
A fala do agricultor vai ao encontro do que a própria Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) vem considerando: a média do preço deve ser a melhor desde a safra 2015/16, quando a procura também foi grande. “Sem dúvida. No Vale do Rio Pardo, onde o plantio foi mais cedo, tivemos sorte no clima e ajudou na qualidade. Está tendo uma procura grande e realmente o produtor deve conseguir uma média melhor. Ainda é cedo, mas pela minha experiência, é possível até ser o melhor período dos últimos 15 anos”, avaliou o presidente da Afubra, Benício Werner.
Ainda conforme ele, além do preço, as empresas têm intensificado a compra, já que a oferta do produto diminuiu. Uma prova é a estimativa de produção: enquanto em 2020/2021 se chegou a 628 mil toneladas, para 2021/22 a nova projeção está em 504 mil – queda de mais de 20%.
Pagar mais
O presidente da Afubra também ressaltou outro movimento na agricultura e que deve impactar no tabaco nos próximos anos. “A proporção de hectares de soja e milho em comparação com a área de tabaco está mudando. O espaço do tabaco está sendo ocupado pelos grãos. Então considerando que o consumo alimentício e os salários de quem trabalha nessas culturas cresceram, as empresas terão cada vez mais responsabilidade em pagar melhor ao fumicultor.”
70 mil – é o número de pés de tabaco que Volnei e Marcia Dessbesell plantaram nesta safra. São 40 mil a menos que na temporada anterior.
“Falamos há muito tempo que não dá para exceder o plantio, porque isso vai trazer um resultado na comercialização. O que tem influenciado é uma menor quantidade, mas com qualidade, o que mostra essa corrida das empresas. A tendência é o próprio produtor fixar o preço.”
BENÍCIO WERNER – Presidente da Afubra
Protocolos*
A safra 2021/2022 já tem nova tabela de preços de tabaco acordados com a JTI. A negociação fechou com 19,25% de reajuste para o Virgínia e o Burley e R$ 1 de complemento para as classes de Virgínia, com qualidade superior, como plus.
Conforme a Afubra, a JTI foi a única empresa a propor reajuste acima do custo de produção e mais 5% de rentabilidade ao produtor. “Houve um esforço e terá um acréscimo importante que vai representar 35% comparado ao custo de produção”, mencionou o presidente, Benício Werner.
As demais empresas finalizaram sem acordo. A BAT (Souza Cruz), a China Brasil e a Premium apresentaram novas propostas, mas os percentuais ficaram abaixo do esperado. Já a Universal Leaf Tabacos e a UTC levaram propostas somente na segunda rodada e ficaram aquém do solicitado.
As demais empresas não levaram novas proposições e a Philip Morris não participou dos encontros, pois não fez o levantamento de custo de produção em conjunto, fator determinante para participação nas negociações.
As reuniões ocorreram individualmente com cada tabacaleira, na Afubra, em Santa Cruz, nos dias 26 e 27 de janeiro. A comissão que representa os produtores ainda é formada pelas Federações da Agricultura (Farsul, Faesc e Faep) e dos Trabalhadores Rurais (Fetag, Fetaesc e Fetaep)
*Com informações AI Afubra.