Mais de 140 anos de história, oito gerações e 30 mil ‘parentes’ convergem, a partir de agora, para Venâncio Aires. O ponto central dessa ligação fica numa propriedade em Linha São João, em Vila Estância Nova, onde uma casa construída em 1880 dá início a um trabalho que promete resgatar a história de uma família e erguer um projeto relacionado à saúde e à assistência social.
A ideia começou a ‘ganhar corpo’ em fevereiro de 2021, quando foi fundado o Instituto Família Royer, em Venâncio Aires. Com a formalização do grupo e através de doações dos próprios familiares, o instituto comprou a propriedade onde Mathias Royer, primeiro imigrante da família no Brasil, construiu a casa, há 141 anos (quando Venâncio ainda pertencia ao município de Taquari) – 11 antes da emancipação de Santo Amaro.
A casa em estilo enxaimel segue de pé, com toda a estrutura original, e assim será mantida, para virar um memorial da família. “Fizemos o grupo, felizmente as redes sociais nos ajudaram em muitos contatos, e com as doações da família hoje estamos comprando a área”, destacou Rogério Royer, vice-presidente administrativo do instituto. Trineto de Mathias, ele é um dos idealizadores do trabalho. Há cerca de cinco anos, o jornalista começou a pesquisar sobre as origens da família e em breve lançará um livro sobre os Royer.
Rogério mora no município catarinense de Chapecó e esteve em Venâncio Aires na terça-feira, 17 (coincidentemente no Dia Nacional do Patrimônio Cultural). O encontro contou com descendentes de outros estados, como Santa Catarina e Paraná, e até do Paraguai.
‘Da casa’, participou o vice-presidente de patrimônio do instituto, Paulo Jair Royer, que tem uma marcenaria e ferraria em Vila Estância Nova. “Não esperava ver isso acontecer. Eu sabia que minha origem estava nessa casa, sou um tetraneto, mas saber ainda mais sobre nosso passado e preservar é algo muito importante”, mencionou.
Centro geriátrico
A restauração da casa e implementação de um memorial são parte de um projeto maior pensado pelo instituto. O grande objetivo é construir um Centro Geriátrico na mesma propriedade de 8,5 hectares, com capacidade para até 60 idosos residentes e cerca de 40 assistidos.
“Queremos oferecer toda assistência necessária, principalmente de baixa renda. Mas essas paredes não serão um depósito de velhos, vamos dar toda dignidade que os mais idosos merecem. E para isso contamos com apoio do poder público, para que a Linha São João seja uma referência nesse atendimento”, ressaltou o presidente do instituto, Romeu Royer.
O pedido de apoio ao Município foi feito diretamente, já que o prefeito Jarbas da Rosa e o secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo, Nelsoir Battisti, estiveram na localidade na terça. “As casas de longa permanência são uma necessidade crescente, sabemos do envelhecimento da população e para esse cuidado é preciso local adequado. Estamos sempre apoiando novos empreendimentos e casas que possam comportar os nossos idosos. Então, no que for possível, vamos apoiar”, garantiu Jarbas.
R$ 5 milhões – é o investimento previsto para implantação de um centro geriátrico no local. Para levantar o recurso, o instituto espera contar com contribuições de familiares, doações e parcerias públicas e privadas.
Casa
Mathias Royer veio para o Brasil em 1860 e inicialmente morou onde hoje é o município de Barão, na Serra gaúcha. Em 1880 chegou ao então Faxinal dos Fagundes (futura Freguesia de São Sebastião Mártir, como era chamada Venâncio até a emancipação, em 1891).
O imigrante nasceu em uma região entre a Bélgica e a França, atualmente Luxemburgo, um pequeno país europeu comandado por um grão-duque. Ou seja, os Royer têm origem francesa, mas a relação com alemães está presente.
Prova disso é que a casa construída por Mathias é no estilo enxaimel, técnica de construção associada aos países germânicos. Muitos dos descendentes, aliás, falam a língua alemã. Além de restaurar a casa, o objetivo é fazer o projeto de paisagismo baseado em jardins alemães. Na entrada da propriedade, serão plantados plátanos e palmeiras-real.
A palmeira-real também será usada para homenagear sócios beneméritos que contribuíram para a compra. Duas já foram plantadas em frente à casa, com os nomes de Albano e Dário Royer. Na fachada da residência, foram colocados um cartaz com o nome do instituto e duas bandeiras de Luxemburgo: uma do país e outra do brasão de armas, com a figura de um leão no escudo.
A casa foi comprada da família de Teresinha da Silva Costa. A agricultora mora no local há 17 anos e falou da venda. “É muito antiga e merece cuidado. Se fosse para restaurar, a gente não teria condições. Então ficamos felizes que a família vai fazer isso”, revelou. Por enquanto, Teresinha e a família seguem no local. Futuramente, ela diz que o objetivo é morar na mesma localidade.
Turismo
A restauração de uma casa com mais de 140 anos também lança oportunidade de um potencial turístico. Segundo o prefeito Jarbas da Rosa, o projeto da família instiga outras iniciativas e a mobilização da Prefeitura. “Temos dezenas de casas centenárias no interior que também poderiam ser restauradas. Então precisamos investir nessa região, colocar esse plano em prática, já que temos um cicloturismo muito forte. Quem sabe uma nova rota, com todas as modernidades, para divulgar para todo o Brasil.”