As tradicionais comemorações com o uso de fogos de artifício com estampidos estão com os dias contados no Rio Grande do Sul. Um projeto de lei criado em outubro e sancionado em 20 de novembro pelo governador Eduardo Leite, tem prazo de 90 dias para entrar em vigor. Assim, a partir de 20 de fevereiro os gaúchos que soltarem os tradicionais foguetes com rojões, desobedecendo a lei, serão multados.
Proposto pela deputada Luciana Genro, o projeto proíbe a queima e a soltura de fogos de estampidos e de artifícios, assim como de quaisquer artefatos pirotécnicos festivos de efeito sonoro ruidoso no estado. “O projeto não busca vedar os tradicionais espetáculos pirotécnicos, que embelezam os céus em momentos de grande festividade, mas sim a poluição sonora que deles decorre, e que causa graves perturbações para uma série de indivíduos e também para os animais”, diz a justificativa da parlamentar.
Ainda segundo ela, “trata-se de evitar o grande mal-estar causado pelos ruídos em bebês, crianças e idosos, com atenção especial às crianças autistas e aos idosos com mal de Alzheimer. Animais, como cães, gatos e aves, também são submetidos a níveis altíssimos de estresse em decorrência dos estouros”.
TRADIÇÃO
Para o aposentado João Brandão, usar fogos de artifício com estampidos é uma tradição de família. “Só fizemos isso no final do ano. É uma tradição que reúne toda a família”, comenta o morador de Linha Herval.
Na quinta-feira à tarde, 26, foi até o Machry Atacado e comprou uma bateria com 1.080 ‘tiros’ coloridos. “Foi um pedido da minha filha, que concretizou um sonho em sua casa. Então ela me pediu para comprar uma bateria bem bonita para marcar a data, comemorar”, explicou.
Além da bateria colorida, Brandão também comprou outras duas caixas de foguetes. “É só um momento que vivenciamos em família”, salienta.
CUIDADOS
Há mais de 40 anos no ramo, o comerciante Éric Stertz vende e ensina a maneira correta de soltar os fogos de artifício. Aos 62 anos, explica que é necessário adotar alguns procedimentos para evitar acidentes. “Você pode soltar cem foguetes e não acontecer nada. Mas um dia pode acontecer um acidente. Então o melhor é sempre prevenir”, alerta.
Stertz revela que ele, ao soltar foguetes tradicionais, nunca os segura na mão. “Pode acontecer um acidente. Eu coloco sobre as grades de ferro, acendo e saio de perto”, ensina.
Sobre o projeto sancionado pelo governador e que proíbe o uso de fogos com estampidos, Stertz salienta que ele não entra em vigor este ano. “Os vereadores até tentaram criar uma lei aqui, semelhante a esta, mas ela não foi adiante. Há coisas que são tradição”.
Ele cita como exemplo as alvoradas festivas, onde as comunidades são acordadas as 6h, com estampidos de foguetes, os jogos de futebol no interior e as viradas de ano. “São tradições do nosso povo”, observa.