A surpresa, o desespero e o alívio. A enchente do rio Taquari entre os dias 4 e 6 de setembro de 2023 foi uma virada de chave para os moradores de Vila Mariante e arredores na relação com o curso d’água que corta a localidade. Antes tida como costumeira e “conhecida”, a força da água do Taquari ultrapassou os níveis projetados e inúmeros habitantes, temendo por suas vidas, precisaram ser resgatados com embarcações e até helicópteros. O saldo final foi de alívio, com nenhuma morte registrada.
Contudo, a partir daquele instante, os moradores da região nunca mais viram o rio Taquari da mesma forma – a cheia histórica, quando o Taquari alcançou 29,62 metros no porto de Estrela e ‘engoliu’ a região de Vila Mariante e Estância Nova, trouxe uma nova visão sobre o clima. O que foi nítido na mobilização para evacuação nas enchentes de novembro e, mais recentemente, na maior tragédia climática do Rio Grande do Sul em maio de 2024, quando o Taquari ultrapassou os 34 metros em Estrela e devastou a localidade.
Após a destruição de setembro, que deixou marcas na Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Mariante, no prédio da Estratégia de Saúde da Família (ESF) Mariante e em diversas vias da localidade, inclusive a ERS-130, os planos para recuperação de Vila Mariante foram desenvolvidos nas esferas municipal, estadual e federal. Ainda assim, após outras três cheias históricas – uma em novembro e duas em maio deste ano -, praticamente todos precisaram ser refeitos.
Educação
A Escola Mariante teve as aulas retomadas uma semana após a cheia de setembro de 2023 – que chegou a 1,5 metro dentro da escola. No início deste ano, recebeu investimentos de R$ 505 mil do Governo do Estado, recebeu novo reboco nas paredes mais prejudicadas, que também seriam pintadas, e, também seriam realizadas melhorias no cercamento da escola. Do total destinado, R$ 279.666,22 eram para a compra do material e R$ 225.659,00 para execução e mão de obra. A escola também teve o anúncio do turno integral para o Ensino Médio, implementado no início do ano letivo.
Contudo, após a tragédia de maio, os alunos do educandário foram realocados na EEEM Adelina Isabela Konzen, em Vila Estância Nova, e o prédio em Mariante segue abandonado – não houve nem a limpeza –, não há previsão de reconstrução ou qualquer sinalização do Governo do Estado de construção em uma região mais segura e sem riscos de enchente.
Saúde
Antes da enchente de setembro, o prédio da ESF Mariante passaria por reformas, no valor estimado de R$ 251.115,12, com prazo de quatro meses para serem concluídas. Após a enchente, o imóvel foi condenado pela Defesa Civil Nacional e, para isso, a Secretaria Estadual de Saúde chegou a anunciar um repasse, para a ESF Mariante – que integrava o UBS Porte 1 – de R$ 200 mil, para os itens necessários nos serviços prestados à população, principalmente na compra de equipamentos. A reforma completa estava estimada em R$ 850 mil pela Prefeitura de Venâncio, mas o cadastro foi negado pela Defesa Civil Nacional.
Após maio, a Administração anunciou que não reconstruirá o posto de saúde da localidade e os atendimentos passam a ocorrer em Vila Estância Nova e, uma vez por semana, com a Unidade Móvel da Saúde em Vila Mariante.
Infraestrutura
Além da ERS-130, que é de responsabilidade do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), quatro ruas de Vila Mariante foram danificadas pela enchente de setembro. As ruas Sotero dos Santos Braga, Marinheiros, Bepe Guimarães e João de Oliveira Santafé, receberam recurso da Defesa Civil Nacional em dezembro de 2023 para repavimentação, e conforme a secretária municipal de Planejamento e Urbanismo, Deizimara Souza, o recurso, no valor de R$ 453.254,27 está na conta da Prefeitura, mas bloqueado pela Defesa Civil após a emissão do decreto de calamidade em maio. “Por conta disso, a obra ainda não iniciou”, esclarece. O asfalto da rua Bepe Guimarães, que liga a ERS-130 a RSC-287, um dos principais acessos ao Frigorífico Boi Gaúcho, havia sido concluído semanas antes do desastre.
Unidades habitacionais
- Com 30 casas destruídas e mais de 600 danificadas, após a enchente de setembro, o governo municipal cadastrou no programa federal ‘Minha Casa, Minha Vida Reconstrução’, a construção de 30 unidades habitacionais, sendo 22 no bairro Brands e oito no Battisti, para as vítimas das enchentes do rio Taquari.
- De acordo com a secretária de Planejamento e Urbanismo, Deizimara Souza, já há empresa credenciado pelo Município em 29 de agosto, apta para entregar projeto para aprovação da Caixa Econômica Federal e, posterior, execução do projeto.
- Após maio, com apenas 27 residências da sede do distrito consideradas totalmente habitáveis, diversos projetos são desenvolvidos para realocar pessoas. Com mais de 200 famílias em aluguel social, serão 72 casas na área do antigo Instituto Penal Mariante (IPM), em Vila Estância Nova; 112 apartamentos do Residencial Morada das Lavandas, no bairro Aviação; 52 no bairro Battisti; e 30 no Brands e Battisti.