A pandemia da Covid-19 causou mudanças na vida de todos, na rotina do dia a dia, no trabalho, em casa e nos momentos de lazer. Os rostos ganharam máscaras, as mãos se acostumaram com o álcool gel e os abraços e apertos de mão foram dispensados. Porém, na vida de algumas pessoas, as mudanças não foram apenas essas.
O tradutor e intérprete Tiago Debald, 29 anos, morava na China, intercalando entre as cidades de Dalian e Wuhan – epicentro da pandemia de coronavírus. Lá, trabalhava em uma equipe de futsal como diretor de relações internacionais. Dia 6 de dezembro de 2019 veio para o Brasil com a intenção de passar férias e o final de ano com a família. Ao sair do país que morava, tudo parecia tranquilo.
Dia 26 de janeiro de 2020 era a data do seu retorno para a China, que não foi possível, pois desde o início do mês, Tiago já monitorava a situação crítica que se formava. Seu chefe, que estava em Dalian, o contatou no dia 24 de janeiro para que não voltasse até tudo normalizar. O que ninguém esperava, era que o ‘normal’ demoraria tanto para voltar.
Por muitas vezes, Tiago conta que adiou a data de retorno, até que em 24 de março, com o fechamento das fronteiras, a volta para o país de trabalho ficou ainda mais longe. “Não consegui adiar mais, não pude fazer nada. Deixei todas as minhas coisas lá com a intenção de ficar apenas um mês aqui”, confessa. Há um ano atrás, no dia 25 de janeiro de 2020, Tiago foi pauta em uma matéria no jornal Folha do Mate, falando sobre o adiamento do seu retorno, por causa do coronavírus.
A vida hoje
Tiago também é bacharel em Língua e Literatura Chinesa e estava na China há sete anos, já há três sem voltar ao Brasil. O jovem conta que o momento de ‘férias definitivas’ que está vivendo foi bom para estar próximo da família.
Hoje, sua vida mudou muito: ele trabalha por conta própria com aulas de inglês e mandarim, e para empresas, onde faz traduções para importações e exportações. Procurou moradia para ficar e também, atualmente namora uma venâncio-airense.
Questionado sobre a possibilidade de retorno, após a pandemia, Tiago fala que tudo está incerto e estuda oportunidades de trabalho oferecidas aqui no Brasil e fora do país. O visto estrangeiro que tinha na China expirou em setembro do ano passado, quando também encerrou seu trabalho, e neste momento, com o consulado brasileiro parado, também não consegue a carta de ingresso no país para voltar. O jovem lamenta o momento do retorno não ter acontecido. “Esse ano seria de desenvolvimento de muito projetos, iria explodir na carreira com fortes investimentos do governo na área que trabalho”, conta.
Agora, enquanto esteve em casa, nas ‘férias definitivas’, aproveitou para fazer cursos on-line e relatou também, que a procura por suas aulas de chinês e mandarim, no formato virtual, também tiveram aumento. Perguntado sobre o que a pandemia influenciou na sua vida, Tiago diz que foi desafiado em muitos sentidos. “Eu estava em um ótimo momento profissional e, do nada, tudo veio abaixo. Tive que ter resiliência para achar saídas e me adaptar às mudanças”, confessa.
“Tem muitas pessoas reclamando, principalmente a perda de empregos, mas acredito que temos que agradecer pelas nossas vidas. Agora, vamos esperar a vacina, que é um grande caminho.”
TIAGO DEBALD – Professor, tradutor e intérprete de inglês e mandarim
Na China
Tiago Debald ainda tem contato com amigos que fez na China, e comenta que lá as pessoas respeitam muito o momento de isolamento, e que agora é novamente um momento crítico no país. Atualmente, a China está com intensa campanha de vacinação e já passa de 10 milhões de doses aplicadas.
- 414, é o número de dias que Tiago está no Brasil, sem data para retorno.
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