Estimativa é de que a cada dez tentativas de suicídio, um seja consumado (Foto: Alvaro Pegoraro)
Estimativa é de que a cada dez tentativas de suicídio, um seja consumado (Foto: Alvaro Pegoraro)

O governo do Estado, por meio da Secretaria da Saúde (SES), disponibilizou o novo Boletim Epidemiológico com dados atualizados sobre suicídios e notificações de violência autoprovocada no Estado. Embora os dados de 2024 ainda possam variar por causa de eventuais correções de registros pelos municípios, eles mostram que o Rio Grande do Sul apresenta uma das maiores taxas de mortalidade por suicídio do país.

Entre 2015 e 2023, as taxas de mortalidade por suicídio cresceram 47,7%, passando de 10,88 para 16,07 por 100 mil habitantes, o maior valor da série histórica. Em 2024, apesar de ser observada uma interrupção da trajetória de crescimento dos casos, não é possível afirmar ainda que haverá uma redução da taxa, já que o Sistema de Informação de Mortalidade permanece aberto, com óbitos ainda em processo de investigação quanto à causa básica.

Dos 1.528 óbitos registrados em 2024, cerca de 80% foram de homens. A taxa mais elevada foi observada entre aqueles com mais de 80 anos, com 49,69 óbitos por 100 mil habitantes. Entre as mulheres, o risco é maior na faixa entre 60 anos e 69 anos, com taxa de 8,35, mas apresenta queda nas idades superiores, ao contrário do padrão masculino.

Na velhice, especialmente entre os homens, fatores de risco como perda de autonomia, interrupção da vida laboral, doenças incapacitantes e sensação de inutilidade podem agravar o sofrimento psíquico e aumentar o risco de morte autoprovocada.

Distribuição territorial e municípios com maiores taxas

A distribuição dos óbitos por suicídio no território gaúcho apresenta desigualdade significativa. As maiores taxas foram registradas nas regiões das Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS) com sede em Cruz Alta (9ª CRS), Santa Cruz do Sul (13ª CRS), Ijuí (17ª CRS) e Frederico Westphalen (2ª CRS).

Entre os municípios com mais de 50 mil habitantes, Venâncio Aires lidera com uma taxa de 33,81 óbitos por 100 mil habitantes, seguido por São Borja (23,16), Sapiranga (22,56) e Ijuí (22,56). Ao todo, onze municípios apresentaram índices superiores à média parcial de 2024 no RS (14,87 óbitos por 100 mil habitantes).

Os dados preliminares do boletim não confirmam a preocupação inicial de que as enchentes ocorridas em setembro de 2023 e em abril e maio de 2024 provocariam aumento nas taxas de suicídio no Estado. A análise reforça, porém, que os efeitos emocionais de desastres ambientais nem sempre são imediatos.

Segundo a publicação, após eventos traumáticos, sintomas como ansiedade, insônia, tristeza e memórias intrusivas são comuns, mas muitas vezes não chegam aos serviços de saúde, dificultando o cuidado adequado. Impactos mais graves – como transtornos mentais, abuso de substâncias e comportamentos autolesivos – tendem a surgir com o tempo, exigindo atenção contínua e estratégias de prevenção duradouras.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram a dimensão global do suicídio como problema de saúde pública. Em 2021, cerca de 727 mil pessoas morreram por suicídio no mundo, número superior ao de mortes por HIV/AIDS, câncer de mama ou conflitos armados no mesmo período.

Embora geralmente associado à morte, o comportamento suicida pode se manifestar de várias formas antes do desfecho fatal, como ideação suicida, com ou sem plano, tentativas de suicídio e comportamentos autolesivos. Nesse último caso, o objetivo não é morrer, mas aliviar uma dor emocional intensa por meio da dor física. Essas práticas podem representar regulação emocional, punição pessoal ou pedido de ajuda.

As autolesões – como cortes, queimaduras e mordidas – ocorrem em todas as idades, mas são mais comuns na adolescência. Além de indicarem sofrimento psíquico, podem ser fatores preditivos da tentativas de suicídio, principal risco para o óbito.

(Fonte: Governo do Estado RS)

  • Número de óbitos e taxa de mortalidade por suicídio nos 20 municípios do RS com as maiores taxas parciais em 2024 entre municípios com mais de 50 mil habitantes (Município: Número de óbitos/Taxa por 100 mil habitantes)
  • Venâncio Aires: 22 / 33,81
  • São Borja: 13/ 23,16
  • Sapiranga: 16 / 22,56
  • Ijuí: 18 / 22,56
  • Farroupilha: 13 / 19,61
  • Santa Cruz do Sul: 24 / 19,04
  • Cruz Alta: 10 / 18,10
  • Santa Rosa: 13 / 18,00
  • Santo Ângelo: 13 / 17,99
  • Rio Grande: 32 / 17,69
  • Lajeado: 15 / 17,10
  • Bento Gonçalves: 17 / 14,63
  • Bagé: 16 / 14,42
  • Carazinho: 8 / 13,79
  • Alvorada: 24 / 13,68
  • Pelotas: 42 / 13,63
  • Campo Bom: 8 / 13,50
  • Montenegro: 8 / 13,23
  • Santa Maria: 33 / 12,84
  • Caxias do Sul: 56 / 12,78
  • Média do RS: 1.528 / 14,87