Alexandre Miguel Thesing toca violão há mais de 30 anos (Fotos: Arquivo pessoal)
Alexandre Miguel Thesing toca violão há mais de 30 anos (Fotos: Arquivo pessoal)

O projeto ‘Vozes de Vida’, conhecido por levar música e conforto aos pacientes do Hospital São Sebastião Mártir (HSSM), completa 10 anos em outubro. A iniciativa, que começou em 2015, é executada por Alexandre Miguel Thesing, natural do interior de Venâncio Aires, junto com seus alunos de música.
Para ele, a música sempre esteve presente, uma herança deixada por familiares. Tocando violão há mais de 30 anos, ele começou na igreja, mas também se apresentou em bares e pizzarias, e se define autodidata, correndo atrás de melodias e ritmos novos.

Sobre o início do ‘Vozes de Vida’, Thesing afirma que nada foi planejado. “Foi um chamado, e eu atendi. Não tenho respostas sobre como tudo ocorreu”, relata. A filosofia do projeto, segundo ele, se baseia em simplicidade e doação. “O projeto busca o amor ao próximo, e a empatia é essencial”, define, que segue com o trabalho voluntariamente, sem apoio financeiro.

As visitas ocorrem normalmente aos sábados pela manhã, percorrendo as escadarias e corredores, levando música às alas e, quando convidado por um algum familiar de paciente internado, entra nos quartos. “Precisamos sempre estar dispostos, sorridentes, buscando levar afago aos pacientes. Buscamos entender por que [o paciente] está ali, mas especialmente falar das bênçãos de Jesus”, explica.
Ao longo de uma década, as histórias e as experiências se acumulam. Momentos felizes, de ombridade com a esperança e o olhar ao próximo. “Quem encontra Jesus Cristo, encontra o propósito de sua vida”, define.

O projeto também foi realizada no Lar Novo Horizonte por dois anos. No repertório, canções como ‘Noites Traiçoeiras’, ‘Aleluia’, ‘Certas Coisas’ e ‘Tocando em Frente’ são frequentemente pedidas, levando emoção, pensamento positivo e uma mensagem de fé. “Música é uma linguagem da alma. Quando a gente faz nosso trabalho com amor, nada destrói”, conclui.

“O projeto faz bem pra quem ouve e muito bem pra gente”

A música serve como instrumento de acolhimento e conforto também para os voluntários. Duas das participantes, Gabrieli Alana Haupt e Fernanda Luisa Schwaickhardt, compartilharam experiências participando do ‘Vozes de vida’.

Gabrieli Alana Haupt, de 18 anos, é moradora de Linha Sapé, e é estudante de Pedagogia na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e estagiária na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Narciso Mariante de Campos, de Linha Tangerinas. Ela conta que o envolvimento com a música começou após a pandemia, a partir de um convite da Comunidade Católica de Santo Antônio para tocar violão nas missas.

“Eu fui tomando gosto por isso e expandi”, relata. Foi quando conheceu o trabalho do ‘Xande’, como carinhosamente chama o fundador do grupo Alexandre Thesing. “Adoro e admiro muito o trabalho dele. Ele então veio com a proposta da gente participar desse projeto. Fiz as aulas de violão e canto com o Xande, ele me apresentou e eu entrei.”

Gabrieli se encantou rapidamente pela iniciativa, que uniu as suas duas paixões. “Sempre gostei muito de cantar e adoro crianças, tanto que estou me especializando nessa área da pedagogia. Cantar nos corredores do hospital, entre a maternidade e a psiquiatria, é muito legal”, afirma.

A estudante descreve a profundidade das conexões criadas com o projeto. “A gente vê os bebezinhos saindo, as mães emocionadas. Tem muitas pessoas que sentam ali, conversam com a gente, contam sua história de vida e procuram na música, naquele momento, um abrigo, uma voz que acolha.”

O benefício, segundo ela, é mútuo. “O projeto faz bem pra quem ouve e muito bem pra gente. Já tive dias que não tinha vontade de fazer nada, mas indo lá e cantando, eu voltava renovada pra casa. Volto leve, muito feliz.”

Entre as muitas lembranças, têm aquelas que deixam marcas: “Uma mãe disse que ouvir a gente cantar foi um dos maiores presentes para ela, que a filha [recém-nascida] adorava música. Isso não sai da cabeça, me emociona”, conta. “Ela estava com o bebezinho no hospital. Foi muito marcante poder levar apoio em forma de música.”

A experiência também é compartilhada por Fernanda Luisa Schwaickhardt, 25 anos, estudante de Medicina que reside em Santo Tomé, na Argentina. A conexão com o projeto também veio através do professor Alexandre Thesing. “Minha participação começou por um convite dele. Eu já tinha feito aulas de violão na época em que morava em Linha Brasil [interior de Venâncio], quando havia um projeto voltado à música em missas da igreja católica e apresentações da localidade”, conta.

Fernanda destaca sobre a mudança de olhar que a música proporciona ao ambiente hospitalar. “A gente cresce vendo hospital como sinônimo de doença e tristeza, mas não precisa ser sempre assim, e a música mostra um pouco disso”, pontua. “Dentro da medicina a gente fala: curar quando possível, e confortar sempre. E essa é uma forma de conforto. A gente se sente feliz em cantar, os pacientes participam, pedindo músicas e contando experiências, e o pessoal que trabalha passa sorrindo.”

Ela coleciona momentos especiais. “Em uma das apresentações, a gente tocou ‘Pintinho Amarelinho’ para uma menininha e ela dançou com a mãe e a avó em ciranda. Uma moça internada por depressão cantava todas as músicas com a gente, enquanto a cuidadora olhava para ela emocionada.”

Júnior Posselt

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