Embora o Rio Grande do Sul tenha hoje 5.560 pessoas habilitadas aguardando na fila de adoção, o outro fator matemático dessa equação não é igualmente quantitativo. Isso porque, de acordo com números da Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ) do Tribunal de Justiça do Estado, são 625 crianças e adolescentes em abrigos, à espera de um novo lar.
Mas o quê explica essa conta desproporcional? A principal justificativa está relacionada ao perfil procurado. Conforme informações da CIJ gaúcha, são 566 jovens com 10 anos ou mais, 430 que têm irmãos, 36 que têm deficiência física, 96 que possuem deficiência mental e 30 com HIV.
Segundo a psicóloga Évelin Tatielle Fröhlich, são essas características que esbarram no desejo de muitas famílias. “A maioria procura por bebês, brancos e saudáveis, o que é completamente contrário à realidade dos abrigos, onde muitos têm adolescentes, negros e em situação vulnerável.”
Évelin atua na Casa de Acolhimento de Venâncio Aires, a qual promoveu, durante esta sexta-feira, 24, o 1º Fórum de discussão sobre adoção. Com o tema “Desafios e possibilidades reais no processo de adoção”, o evento foi realizado no auditório do Ministério Público (MP) do município, na véspera do Dia Nacional da Adoção. “Precisamos mudar a forma de ver a adoção. Isso deve mudar, porque um filho pode ter qualquer cor, idade, particularidade”, destacou a psicóloga.
GRUPO
Pensando em mudar essa realidade, um dos principais objetivos do fórum é a implantação de um grupo de apoio a famílias adotantes em Venâncio Aires. Conforme Évelin Fröhlich, como o município tem a Casa de Acolhimento, a discussão precisa ser ampliada. “Essa realidade existe e está presente. Sabemos que há muitos casais interessados, mas às vezes estão despreparados sobre como proceder. Com um grupo de apoio, a ideia é dar esse suporte.”
Atualmente, a Casa de Acolhimento abriga 20 jovens entre 0 e 18 anos incompletos, mas nenhum deles espera por adoção. O local, coordenado por Doraci da Silveira, também tem convênios com os municípios de Mato Leitão e Boqueirão do Leão.
Exemplo que vem de Lajeado
Se acontecer em Venâncio, a implantação de um grupo de apoio a famílias adotantes vai aumentar para 10 o número de projetos com essa finalidade no Rio Grande do Sul. Eles estão em Porto Alegre, Farroupilha, Gravataí, Caxias do Sul, Erechim, Guaíba, Pelotas, Santa Maria e Lajeado, este último o único da região.
Trata-se do Grupo de Apoio à Adoção de Lajeado (GAAL), que existe desde 2006 e percorre diversos municípios, principalmente os que contam com casas de acolhimento, para levar informações e sensibilizar a comunidade sobre a importância de um projeto com essa finalidade.
Quem preside o GAAL é Naide Heemann, assistente social e mãe de dois filhos adotivos. Acompanhada da vice-presidente, Luciana Fernandes, ela este em Venâncio para participar do fórum. Naide conta que o grupo atua de forma voluntária e realiza reuniões mensais em um espaço cedido pela Prefeitura de Lajeado.
Além disso, tem a parceria da Promotoria do município e da Univates, para o serviço de psicologia. “O grupo se propõe a tratar das dúvidas e inquietações de casais, seja no aspecto social ou psicológico. É um trabalho de desmistificação e conscientização para estimular as pessoas para que não sofram sozinhas em meio a incertezas.”
Ainda conforme Naide, o GAAL atua diretamente no apoio a duas instituições de acolhimento de Lajeado: a Associação de Assistência à Infância e à Adolescência (Saidan) e o Abrigo Trezentos de Gideon. “Em todos esses anos, cerca de 150 casais já participaram do grupo.”
Fórum
Além dos grupos de adoção de Lajeado e Gravataí, o fórum contou com falas de representantes da Casa de Acolhimento de Venâncio Aires, sobre o trabalho da entidade; da juíza Maria Beatriz Londero Madeira, sobre os primeiros passos para uma adoção; e um painel com relatos de famílias adotivas.