Grupo se opõe a projeto de revitalização do calçadão

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Um dos espaços públicos mais nobres de Venâncio Aires está no centro de uma discussão. Reformas para readequar o calçadão foram anunciadas pela Administração Municipal. Contudo, o projeto orçado em mais de R$ 225 mil gerou reações contrárias de um grupo de moradores. Eles estiveram reunidos com o Ministério Público (MP) e manifestaram a preocupação com as mudanças anunciadas. O grupo argumenta que houve falta de transparência no momento de consultar e apresentar o projeto à sociedade.

Ontem mesmo o MP encaminhou um documento para a Prefeitura de Venâncio Aires solicitando informações detalhadas do projeto. O pedido, assinado pelo promotor de Justiça Fernando Buttini, dá prazo de cinco dias para o Executivo responder. Um abaixo-assinado, que tem como meta recolher pelo menos mil assinaturas, também passou a circular desde ontem na cidade. A intenção é acrescentar esta listagem a documentos que o grupo também encaminhará à Promotoria Pública de Venâncio Aires.

CONSELHO DE ARQUITETURA

A maioria dos integrantes do grupo é formada por arquitetos e urbanistas. Mas também integram professores, estudantes e empresários, que afirmam que uma mudança naquele espaço é necessária, mas que não concordam com a forma como foi apresentada. Uma intervenção no projeto também foi solicitada ao Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul. Além disso, uma carta aberta foi divulgada pelo grupo que reúne aproximadamente 15 pessoas.

PREFEITURA

O prefeito Giovane Wickert informou ontem à tarde que recebeu o grupo contrário a algumas mudanças no calçadão. Ele disse que medidas pontuais ainda estão em análise internamente na Prefeitura, nas garantiu que medidas serão implementadas. “A conversa foi muito boa e tranquila. Ajustes serão providenciados, mas a gente segue com o posicionamento de fazer algumas alterações, sim, no calçadão”, informou.

MELHORIAS SÃO APONTADAS A PARTIR DA DEMOCRATIZAÇÃO 

Grupo esteve na Folha do Mate na tarde de ontem para apresentar o contraponto ao projeto (Foto: Alvaro Pegoraro)

Repensar a forma como nos deslocamos, mais do que uma tendência, tem se tornado uma diretriz de planejamento urbano, aponta o grupo. Eles citam quem os espaços caminham para uma direção em que as ruas terão cada vez mais pessoas e menos carros. Além disso, ainda segundo os integrantes, a tendência é de que as cidades, cada vez mais, trabalhem para incentivar os deslocamentos a pé e melhorar o dia a dia das pessoas nas áreas urbanas.

Segundo eles, o espaço é “o coração” de Venâncio Aires, onde pessoas de outros municípios vêm conhecer a Igreja Matriz São Sebastião Mártir. Para o grupo, por ser um local que recebe grande fluxo de pessoas caminhando, diminuir a calçada e aumentar o espaço dos veículos é retrocesso. Além disso, ressaltam que a calçada ficará com um espaço muito reduzido no projeto apresentado pela Administração.

“O comércio está migrando para outros lados e não é por conta da falta de espaço para os veículos. O calçadão é um espaço nobre, que deve ser bem utilizado. A vocação do local não é para comércio, mas sim lazer”, disse a professora Rosângela Dolgener Cantú. Eles lembram que aos finais de semana o local é extremamente usado, tanto é que às vezes falta lugar para cadeiras no gramado da Igreja Matriz ou no próprio calcadão.

O grupo defende a retirada das tipuanas, mas é contrário à substituição por tuia, pois a planta necessita de podas constantes e, se não foi feita, vai dificultar a visão de quem está na calçada ou passando pela rua. Outro ponto questionado pelo grupo é a diminuição da calçada para possibilitar duas vias de veículos.

DEMOCRATIZAÇÃO

Os integrantes do grupo contrário ao projeto dizem que é ilusão achar que o maior fluxo de veículos no local vai favorecer o comércio. “Nós defendemos a democratização do espaço. A revitalização deve ser feita, mas visando um melhor aproveitamento, a questão urbana e a satisfação da população como um todo”, disse Sabrina Assmann Lücke.

O grupo defende que não adianta se espelhar em outros municípios para fazer a revitalização do espaço. Segundo eles, é necessário compreender o contexto do lugar, pois as cidades têm realidades e economias diferentes. Sustentam que não foi feito um levantamento do que a população quer, um programa de necessidades para verificar qual a melhor forma da utilização do espaço.

Os arquitetos se disponibilizaram a auxiliar voluntariamente na elaboração de um novo projeto de revitalização do local. “A crítica não é fazer a revitalização e retirar as tipuanas, mas sim o projeto que não está adequado da forma como foi apresentado”, ressaltou o arquiteto Luiz Fernando Metz. Também estiveram na Folha do Mate, na tarde de ontem, para apresentar a oposição ao projeto, os arquitetos Raymundo Konzen, Fernanda Rayher Soares e Vanessa Zart Rien.

EMPRESÁRIOS APRESENTAM ARGUMENTOS A FAVOR DO PROJETO ORIGINAL

Empresários acreditam que manter o projeto original garanta agilidade a um problema classificados por eles como “crônico” (Foto: Alvaro Pegoraro)

Também ontem à tarde esteve na Folha do Mate um grupo de empresários que apontou a necessidade de manter o projeto original, apresentado neste mês pela Prefeitura, para voltar a movimentar a área. Eles argumentam que o conceito de passeio pensado para renovar o Largo do Chimarrão é convidativo ao pedestre.

A calçada será dividida em dois pisos de cores diferentes. Uma delas pode ser descrita como o a faixa livre, que ocupará cerca de 1,2 metro e contemplará uma faixa de piso tátil e a faixa de acesso que fica perto dos imóveis. A outra, de serviço, com metragem de 1,6 metro será o local onde serão instalados bancos, lixeiras, iluminação, floreiras e a vegetação de médio porte.

“É preciso renovar a iluminação e acabar com os congestionamentos que se formam em horários de grande fluxo. O afunilamento que o calçadão provoca é uma realidade que precisa ser considerada”, argumenta o empresário Airton Bade. O projeto prevê a instalação de 26 luminárias na extensão das duas quadras da Osvaldo Aranha, onde está concentrado o Largo do Chimarrão, entre Jacob Becker e General Osório.

Além disso, será feita a colocação de gradis de 1,2 metro na extensão das quadras. Está inclusa também a colocação de 12 bancos – semelhantes aos da Praça Evangélica -, 28 floreiras, dez novas vagas de estacionamento, bicicletário e um pergolado. “São ações que deixarão o calçadão mais aconchegante e que consequentemente proporcionarão a volta das famílias, como acontecia em anos anteriores”, diz o empresário Volnei Vian.

O grupo também se apoia em legislação municipal de 2013 que proíbe o plantio de tipuanas, por exemplo, em passeio público, em frente a estabelecimentos comerciais. “Com as árvores condenadas, como estão atualmente, qualquer temporal causa prejuízos à rede elétrica que passa no Centro”, lamenta o empresário e comerciante Volnei Luís Sehn.

Com uma parceria estabelecida entre empresários, comerciantes e Administração, ficou definido também que dois terços das despesas serão custeadas pelos proprietários do lotes e a Prefeitura ficará responsável por um terço, que será viabilizado a partir de podas de árvores, areia, brita e todo maquinário disponível.

    

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