A bebida que é típica do Rio Grande do Sul, e que agregou a Venâncio Aires o título de Capital Nacional do Chimarrão, acompanha os gaúchos aonde quer que eles estejam, seja em casa, no trabalho, na faculdade, na rua e até mesmo, em um parque no exterior. Talvez este último local tenha causado um certo estranhamento, mas, de fato, é isso mesmo. O chimarrão resiste, sim, às distâncias e até às possíveis dificuldades em manter o tradicional hábito de matear. Quem afirma isso são riograndenses que se mudaram, de mala e cuia, literalmente, para fora do País e que, em entrevista à Folha do Mate, contaram tudo sobre a experiência de manter a cultura gaúcha, por meio do chimarrão, viva em um lugar tão diferente e distante da sua origem.
Quem vive fora do Brasil tem na bebida símbolo do RS uma forma de estreitar as relações e encurtar as distâncias. Como no caso da venâncio-airense Débora Seibert de Leão, que mora há cinco meses em Dublin, na Irlanda, onde estuda inglês, e não abre mão de um bom mate. “Para mim, é o momento de descanso, quando realmente tiro um tempo para conversar com meu namorado. é aquela hora quando eu vou pro parque para tomar um chima e me sinto em casa.” Além da cidade, esse mesmo sentimento é compartilhado por Mariana Graziela Mallmann, que foi Primeira Prenda do RS na gestão de 2006 e 2007, é de Santa Maria e há nove meses vive, também, em Dublin.“Todos os dias, quando cevo o mate, parece que me sinto mais próxima de casa. Ele tem funcionado como um elo entre mim e a minha terra. é interessante, pois, no Brasil, não passava de algo comum.”
Como todo gaúcho que se preze, as meninas, que não são egoístas, costumam oferecer um mate àqueles que são próximos delas e para os que têm uma certa curiosidade pela tradicional bebida. Débora lembra de quando passou a cuia para um italiano que estava muito curioso. “Ele provou e como tomo mundo, achou amargo. Até falou que era bom, mas nunca mais quis tomar. Ele já aprendeu a falar algumas palavras em português e quando nos vê tomando, sempre diz “hora do chimarrão”. Já Mariana, que mora com mais três brasileiros (uma menina e dois meninos), destaca uma situação que aconteceu em sua casa. “A menina é natural de São Paulo e, antes de vir para Dublin, nunca tinha tomado chimarrão. Um dia ofereci e brinco que ela viciou. Agora, quando não preparo o mate, no final do dia ela diz que sentiu falta. Acho uma graça.”
A venâncio-airense ressalta que a curiosidade maior mesmo é na hora do preparo. “Sempre que faço o chimarrão perto de alguém que não é do sul, a pessoa fica do meu lado para ver como se prepara.”
O ingrediente essencial para o preparo da bebida, a erva-mate, nem sempre é conseguido facilmente Conforme as meninas, encomendar com quem é do Rio Grande do Sul e que está indo para a Irlanda é uma das saídas. Segundo Débora, ela e o namorado levaram na mala uma boa quantia para “sobreviverem, ao menos, aos primeiros meses”. Ela afirma que é possível comprar o produto em um mercado brasileiro que existe em Dublin, no entanto, além de custar caro (o equivalente a R$ 18) “não tem o mesmo sabor da erva mate da nossa terra”. O vera-cruzense Sancler Ebert, que mora há um ano e meio em Dublin e trabalha em uma agência de intercâmbios, também não abre mão de um bom chimarrão, para isso, ele mantém um estoque. “Quando vim pela primeira vez, eu trouxe alguns quilos na mala, depois uma outra amiga veio e me trouxe, mais tarde eu fui para o Brasil e é assim que mantenho o meu estoque de erva-mate”, explicou Sancler.
Saiba mais
Hoje comemora-se no Rio Grande do Sul, o “Dia do Chimarrão”, instituído pela Lei Estadual nº 11.929, de 20 de junho de 2003, de autoria do Deputado Giovane Cherini.