Por Cassiane Rodrigues e Juliana Bencke
O trecho de 300 metros recém-asfaltado, em frente à Igreja Evangélica e ao Salão Comunitário é a marca mais atual do desenvolvimento de Linha Marechal Floriano. Da chegada dos primeiros imigrantes, em meio à mata fechada, em 1872, até hoje, há uma evolução constante, impulsionada por uma comunidade unida e que faz questão de manter sua identidade cultural de Grüner Jager, como era chamada nos primeiros anos.
Na questão econômica, a agricultura é o carro-chefe, especialmente com a produção de tabaco, aliada a outras culturas. Além disso, ao longo dos anos, estabelecimentos comerciais e de serviços têm se consolidado na localidade que pertence ao 5º Distrito – Centro Linha Brasil. É o caso da Mármores e Granitos Wagner, com 23 anos de atuação, das Conservas Peiter, floricultura, salão de beleza e barbearia, entre outros empreendimentos.
Próximo da área urbana de Venâncio Aires e do distrito santa-cruzense de Monte Alverne, Marechal também tem se tornado opção para famílias que investem em chácaras para os momentos de descanso, em meio à calmaria e às paisagens naturais.
“A comunidade de Marechal não é acomodada. Há uma evolução muito grande na forma de trabalhar, com mais maquinário e diversificação de culturas, e também empreendimentos comerciais. Outra característica marcante é que buscamos preservar a nossa identidade cultural e as tradições.”
JAIRO BENCKE
Presidente da Comunidade Evangélica
Marselia Ludwig: vivência na comunidade desde a infância
Marselia Ludwig, 80 anos, vive desde a infância na localidade. Casou com Olibio Ludwig (já falecido) e teve dois filhos Gerson e Gilson (já falecido). Por três décadas, se dedicou ao trabalho de merendeira na Escola Rural de Marechal Floriano (depois Escola Estadual), que ficava em frente à sua casa, mas está desativada desde 2006. Inclusive, o avô dela, João Dreissig, foi um dos moradores que doaram a área para a construção do colégio, junto de Arthur Bencke, Alvino Sell e Leopoldo Bergmann.
Ela recorda que a Escola Rural de Linha Marechal Floriano foi construída na época do prefeito Alfredo Scherer, inaugurada em 1961 e atendia cerca de 100 estudantes na época. Seu pai, Arlindo, foi presidente do colégio por 28 anos e a mãe, Nelita, que era costureira, confeccionava as roupas para os moradores da localidade. A família também cedia quartos em sua casa para até quatro professores que ficavam de segunda a sexta-feira para ministrar as aulas.
Entre as recordações de Marselia, estão o tradicional desfile que ocorria no dia 7 de setembro e envolvia os estudantes da escola. Após, era realizada uma festa no Salão Stamm com a animação da banda Jazz Brasil, na qual o pai, Arlindo, fazia parte.
Participação
Por muitos anos, Marselia também integrou, com sua irmã, Marlene, o Coral de Linha Marechal Floriano, que entoa canções em velórios. A moradora, que esbanja simpatia e vitalidade, ainda participa dos eventos promovidos na comunidade. “Eu gosto muito daqui, a gente se visita, tenho a minha irmã perto. Fiz muitas amizades”, comenta ela, que também faz questão de seguir cultivando o bonito jardim e a horta em frente à sua casa.
Grüner Jager
Por muitos anos, Linha Marechal Floriano foi conhecida como Gruner Jager – expressão, em alemão, que significa caçador verde. O nome foi alterado em 1937, durante a Segunda Guerra Mundial, quando a utilização do idioma alemão foi proibida. O novo nome foi uma homenagem ao segundo presidente da República Federativa do Brasil.
Há várias versões para o surgimento do nome Gruner Jager. A principal é que Christian Heinrich Bencke, primeiro imigrante morador de Centro Linha Brasil, usava vestimentas verdes de soldado da Alemanha para se camuflar na mata densa onde caçava e pescava.
Philipp Peiter Filho, o primeiro morador
A localidade de Linha Marechal Floriano passou a ser habitada em 1872, com a chegada do primeiro morador, Philipp Peiter Filho. Nascido na Alemanha, ele veio ao Brasil com os pais, em 1851, aos 3 anos. A família morou, inicialmente, em Alt Pikad – Picada Velha, hoje, Alto Linha Santa Cruz, o berço da colonização alemã em Santa Cruz do Sul.
Segundo registros da comunidade de Marechal Floriano, o segundo morador foi Friedrich Peiter e depois Peter Bencke – filho de Christian Heinrich Bencke (o Grüner Jager) e de Maria Eva Augustin, primeiros imigrantes de Centro Linha Brasil, em 1860. Peter Bencke era casado com Wilhelmine Peiter, irmã de Philipp e Friedrich Peiter.
Desse modo, as famílias Peiter e Bencke foram as primeiras da localidade e, 150 anos depois, ainda há diversos descendentes vivendo em Marechal Floriano. Com o passar dos anos, outras famílias também passaram a residir no local, a maioria vinda de Alt Pikad, de sobrenomes Dreissig, Meurer, Arnemann, Dockhorn, Brandemburg, Tobe, Bottcher, Müller, Bade, Wessling, Glier, Stamm, Peise, Krüger, Klamt, Schmidt, Felten, Raasch e outras.
Em 1882, dez anos depois da chegada dos primeiros moradores, foi construída a primeira escola da localidade, por Friedrich Peiter, que era marceneiro, ao lado de sua casa.
Passados 140 anos, a construção em pedra grés segue de pé, na propriedade de Aurélio Glier. O ferreiro Henrique Müller foi escolhido pelos moradores para lecionar e foi o primeiro professor de Marechal Floriano. Ele exerceu o cargo até 1891, quando veio da Alemanha o primeiro mestre, professor Beckmann.