A descendência de Brígida: a história de uma família que originou um bairro

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Brígida do Nascimento está atrelada ao início da história de Venâncio Aires e também é lembrada como nome de rua e de escola estadual.

“O fato gerador que deu início à atual cidade de Venâncio Aires foi a doação de 10 mil braças quadradas de terras da mãe e mulher de muita fé que vê seus filhos partirem para a Revolução Farroupilha e pede a intercessão de São Sebastião Mártir para trazê-los de volta são e salvos.”

Essa frase está num monumento em frente à Igreja Matriz da Capital do Chimarrão, em homenagem à Brígida do Nascimento. O nome dela está atrelado ao início da história de Venâncio, afinal, foi a partir da doação de um pedaço de terra, para erguer uma capela, que no entorno do templo uma vila se formou. O povoado de Venâncio surgiu ao redor da igreja que Brígida idealizou e, por essa participação histórica, também é lembrada como nome de rua, de escola estadual e de um bairro.

Entre os mais de 1,5 mil moradores e 700 domicílios no bairro Brígida, conforme dados do IBGE, há descendentes de Brígida do Nascimento. Uma delas é a psicopedagoga Maria Zulmira Portella de Moura, 69 anos, tetraneta de Brígida. Zulmira cresceu numa casa construída em 1954, na esquina das ruas General Osório com Brígida Fagundes (atual sede da Inspetoria Veterinária) e, desde 1979, mora numa residência ao lado, com o marido Cleri de Moura, 70 anos.

A maior parte das terras no lado leste do município já era da família de Brígida desde os tempos do avô dela, Francisco Machado Fagundes da Silveira, o primeiro a receber uma concessão de sesmaria, em 1762. Depois, virou referência da família Cruz (sobrenome do marido de Brígida). Antônio Berlim da Cruz, que também é nome de rua no bairro, é neto dela. “É um privilégio ainda estar aqui e preservando o que era dos antepassados. Num bairro que conta a história da minha família”, resume Maria Zulmira, ao falar sobre o fato de ter crescido e morar até hoje no bairro que homenageia a tetravó. Além dela, residem no mesmo bairro os irmãos Newton, 75 anos, e Neilton, 74, o sobrinho Neilton Junior, e a filha de Zulmira, Diane.

Casa construída por Yolita e Antão Portella, em 1954. Atualmente, local é a Inspetoria Veterinária (Foto: Arquivo pessoal)

O legado de Yolita

Muito da preservação da história familiar de Brígida do Nascimento se deve à Yolita da Cruz Portella (1911-2008), mãe de Maria Zulmira. Foi ela e o marido Antão Pereira Portella (1917-2010) que construíram a casa na esquina das ruas General Osório com Brígida Fagundes. Yolita trabalhou como enfermeira quando o posto de saúde funcionava na antiga casa da família Selbach, na esquina das ruas Osvaldo Aranha com Reynaldo Schmaedecke.

Assim como a trisavó doou terras para construir uma capela, Yolita doou uma área para construir uma escola, depois de já ter emprestado uma casa de madeira onde funcionou o primeiro educandário do bairro. O nome do futuro educandário (Escola Estadual de Ensino Fundamental Brígida do Nascimento) e das ruas Brígida Fagundes e Berlim da Cruz, foram um pedido de Yolita. “Minha mãe carregava isso com ela, de preservar os nomes dos antepassados”, explica Maria Zulmira.

Para quem ajudou a formar o bairro Brígida e fez questão de manter o legado da família durante seus 97 anos de vida, Yolita da Cruz Portella também recebeu uma honraria: o nome dela foi dado à Escola Municipal da Educação Infantil (Emei) do bairro Brígida, construída em 2013. Além disso, dá nome a uma rua no bairro Universitário.

Registro na década de 1960, quando havia uma praça na esquina das ruas Jacob Becker e Brígida Fagundes, onde ficam as caixas d’água da Corsan (Foto: Arquivo pessoal)

Brígida não era Fagundes

• Brígida Joaquina do Nascimento (1783-1873) era filha de Francisco José Fagundes e Maria Joaquina do Rosário, mas não teve os sobrenomes dos pais. Sobre o porquê de ter sido batizada como ‘Nascimento’, a tetraneta Maria Zulmira acredita que era para diferenciar de outros familiares, já que sempre foi comum a repetição de nomes. Brígida também teve uma irmã gêmea, Leonor, falecida em 1852.

• Outra questão relacionada ao nome de Brígida, é que a rua foi nomeada como Brígida Fagundes. Embora se tenha um erro histórico de registro, já que ela nunca teve esse sobrenome, Maria Zulmira diz que o “Fagundes era o sobrenome do pai, talvez por isso houve a confusão. Mas não é problema, porque tem relação com a família.”

“Sou grata por nascer, viver e conviver com pessoas acolhedoras e poder compartilhar nosso legado.”

MARIA ZULMIRA PORTELLA DE MOURA – Psicopedagoga e tetraneta de Brígida do Nascimento



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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