Animais mantêm um carinho recíproco e vivem no interior de Venâncio Aires. Conheça a história da amizade entre égua e gata.
Quando o assunto é amizade entre mulheres, sempre dizem que toda loira tem sua morena. Podem ser bem diferentes fisicamente, mas em comum têm o respeito mútuo e o companheirismo. E não é que essa máxima também vale para o mundo animal? Pois em Linha Cerro dos Bois, no interior de Venâncio Aires, vive uma dupla assim: uma ‘loira’ e outra ‘morena’. Uma pesa 500 quilos e a outra apenas 5 quilos. São de espécies completamente diferentes, mas com uma curiosa afinidade. Essa é a história da amizade inusitada entre a égua Alemoa e a gata Nega.
Laura, a dona da égua e da gata
Mas, antes de falar sobre as amigas improváveis, é preciso entender como essa relação se tornou possível. A égua e a gata pertencem a Laura Dhein Quintana, 20 anos, estudante de Medicina Veterinária e integrante do ResgAUtados Venâncio, grupo que ajuda na doação de animais abandonados e com lares temporários. Laura cresceu em Linha Cerro dos Bois, sempre cercada de cavalo, cachorro, gato, calopsita, porquinho-da-índia, coelho e boi, que ela até tentava encilhar igual cavalo, na tentativa de montar o bicho… Quanto tinha 13 anos, Laura, que adora rodeios, queria aprender a laçar. A experiência teria como ‘cobaia’ Pitiça, uma égua de pequeno porte um pouco maior que um pônei. Mas, como a bichinha já tinha quase 30 anos, praticamente uma idosa, o jeito foi procurar outro animal.
Foi assim que Alemoa, hoje com 10 anos, chegou na casa dos Quintana. Não veio de longe, foi comprada de um vizinho. Alemoa é uma mistura de quarto de milha com crioulo, tem a pelagem branca, inclusive os olhos e os cílios são claros, passando por uma quase albina. O nome foi dado por Sebastião, 59 anos, pai de Laura. Ele e a esposa Adriana (já falecida), que ensinaram a filha única sobre respeito e carinho para com os animais. Esse carinho também passa pelos cuidados e por isso a égua (que requer atenção com o sol devido à sensibilidade), costuma ficar sob a sombra de uma enorme pitangueira, quando está no pátio de casa.
Nega
Alemoa sempre foi um dos xodós de Laura, até que, em 2020, passou a dividir o posto com uma gata, um serzinho de apenas 25 centímetros de altura e que pesa 100 vezes menos que a égua. O que os olhos verdes da felina têm de lindos, também têm de desconfiados e Nega é bastante arisca com pessoas e outros animais. À exceção das patinhas e do pescoço, que têm detalhes em branco, praticamente toda a pelagem dela é preta, por isso o nome. “Nega veio pra nós ainda ‘filhotona’, com poucos meses. Peguei na casa do meu tio Adão, porque lá ela vivia tentando comer os pintinhos”, revela Laura, entre risos.
Temperamentais, mas fiéis: como é a amizade entre égua e gata
Laura conta que Alemoa e Nega são muito temperamentais, mas fiéis uma com a outra e com os dois humanos da casa. Ambas se ‘derretem’ pela dona, aceitam a aproximação de Sebastião, mas, com outras pessoas, a coisa não é nada sociável (esta repórter até tentou…). Para não dizer que são completamente ‘fechadas’ para novas relações, Alemoa gosta de crianças e tolera Baio (outro cavalo) e Nega é parceira de Flor, outra gata da casa. Mas fica nisso mesmo.
E como surgiu a amizade entre égua e gata? Como as duas ficaram tão próximas? “Desde pequena, quando eu montava, gostava de levar junto outro animal, colocar em cima dos cavalos. Tentei isso com a Alemoa e a única que ela sempre deixou subir é a Nega”, relata Laura. Quando estão juntas, Nega fica de pé ou deitada no lombo de Alemoa, fazendo carinho com as patas ou com o focinho. Deita e rola, literalmente.
Já a égua, se a gata está no colo de Laura, se aproxima para dar uns ‘beijos’ na felina. “Acredito que pode até ser coisa de reencarnação, porque as duas são de espécies tão diferentes e gostam muito uma da outra. A Alemoa é temperamental e a Nega arisca, mas se gostam muito. É muito linda a amizade delas.”
Xulim e o trator, as duplas de gatas e o simpático Baio
Além de Alemoa e Nega, na propriedade dos Quintana há outros animais de estimação. Entre os cachorros, está Pitoca, Lassie, e Ursa, esta de 14 anos, que ajuda a tocar o gado. Quem também gosta de ‘lida’ ou, pelo menos, gosta de pegar carona até a lavoura, é Xulim, o ‘bobão’ entre os cães. É só Sebastião dizer “Vamos trabalhar, Xulim”, que o cachorro sobe no trator.
Como boa ‘gatera’, Laura tem outras gatas. Preta (que também atende por Pepeta), Frajolinha e Flor. O trio é bastante temperamental e não gosta muito de se misturar. “A Pepeta e a Frajolinha se gostam, daí ficam mais na área. Já a Flor se dá mais com a Nega e aí elas ficam mais dentro de casa. Mas nem adianta tentar aproximar as duplas, que elas não se fecham”, comenta Laura.
Outro xodó é o cavalo crioulo de Sebastião. O que o enorme e simpático Baio tem de tamanho, também tem de carência e amor para dar. É extremamente dócil e se aproxima facilmente das pessoas (até um abraço aceitou da repórter). Esperto, Baio vive rondando a janela da cozinha. Isso porque, do lado da abertura, fica o forninho. O cavalo sabe que dentro do eletrodoméstico sempre tem pão e não perde oportunidade de ganhar uma fatia.
Amor em fotos e eternizado na pele
Laura Quintana não esconde que cavalos e gatos são os animais de estimação favoritos. E esse amor também é visível dentro de casa. No quarto, por exemplo, tem uma almofada com as imagens de Baio e Alemoa e um cavalinho de pelúcia. Na escrivaninha, fotos dos equinos e dos felinos. Até o vasinho de flor tem formato de gato.
Na sala, está guardado como a lembrança o enfeite do bolo de aniversário de 15 anos de Laura, com bonequinhos que representam ela e Alemoa. Tamanho sentimento a estudante de Medicina Veterinária também eternizou na pele: no braço esquerdo tem tatuagens de cavalo e de gato, além de um leão com seu filhote. “O pai e eu”, mostra, orgulhosa.